O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) trouxe de volta ao Palácio do Planalto José Vicente Santini, amigo da família que foi demitido do posto de secretário-executivo da Casa Civil em janeiro do ano passado após usar um jato da Força Aérea Brasileira (FAB) para uma viagem exclusiva para a Índia.
A nomeação para o cargo de secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência da República foi publicada no Diário Oficial da União desta segunda-feira (8).
Ele será o número dois de Onyx Lorenzoni, que deverá ser nomeado titular da pasta nos próximos dias na reforma ministerial a conta-gotas que Bolsonaro se organiza para fazer ao longo dos próximos meses.
Onyx é atualmente ministro da Cidadania e era chefe de Santini à época da demissão, quando era ministro da Casa Civil. O retorno do auxiliar, porém, não está sendo creditado ao ministro, mas ao próprio presidente, segundo auxiliares do mandatário.
Santini é amigo da família Bolsonaro e chegou ao governo com respaldo dos filhos do presidente, que se refere a ele como "cabeludo".
Procurado pela reportagem na semana passada, quando a notícia sobre seu retorno ao Planalto começou a circular, Santini disse não sabia da indicação. "Continuo colaborando com o governo como assessor do ministro Ricardo Salles", afirmou.
Então secretário-executivo da Casa Civil, Santini usou um jato da FAB com apenas três passageiros para voar da Suíça, onde participava do Fórum Econômico Mundial, para a Índia, onde Bolsonaro cumpria agenda oficial.
Na ocasião, Bolsonaro chamou de inadmissível o uso do voo oficial com apenas três passageiros.
"Inadmissível o que aconteceu. Já está destituído da função de executivo do Onyx [Lorenzoni]. Destituído por mim. Vou conversar com Onyx para decidir quais outras medidas podem ser tomadas contra ele. É inadmissível o que aconteceu, ponto final", afirmou o presidente à época.
Ao dizer que Santini deixaria o cargo de secretário-executivo, Bolsonaro não excluiu a possibilidade de ele ocupar outras funções no governo federal. Para o presidente, a conduta de Santini havia sido "completamente imoral".
"O que ele fez não é ilegal, mas é completamente imoral. Ministros antigos foram de aviões lá comercial, classe econômica. Eu mesmo já viajei no passado, não era presidente, para Ásia toda de comercial, classe econômica, e não entendi. A explicação que chegou no primeiro momento: 'ele teve de participar de reunião de ministros por isso...' Essa não, essa desculpa não vale."
Um dia depois, porém, Santini ganhou um novo cargo no Planalto, sendo nomeado assessor especial da Secretaria Especial de Relacionamento Externo da Casa Civil. Diante da repercussão negativa, Bolsonaro afirmou em rede social que iria tornar sem efeito a nova contratação de Santini.
Depois disso, em setembro do ano passado, Santini já havia sido reintegrado ao governo Bolsonaro com um cargo de assessor especial do ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente).
Santini é formado em direito pela Universidade Católica de Brasília e possui mestrado e doutorado pela UniCeuB. Antes de ser o número dois da Casa Civil, foi da Subchefia de Acompanhamento e Monitoramento, onde acompanhou casos como o desastre de Brumadinho (MG), por exemplo.
Santini conheceu a família Bolsonaro dos círculos de militares por ser filho de general do Exército. Desde que entrou para o governo, costumava fazer publicações com filhos do presidente, como o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), além de trocarem mensagens em tom elogioso um ao outro.
Antes de assumir cargo público, era sócio de um escritório de advocacia em Brasília. Em seu currículo público, disponível em suas redes sociais, Santini diz ter trabalhado entre 2007 e 2012 no Ministério da Defesa com assuntos ligados a privatizações e aviação civil.
O comando da Secretaria-Geral está interinamente sob Pedro Cesar Nunes Ferreira Marques de Sousa, subchefe para Assuntos Jurídicos da pasta, desde o final do ano passado, quando o titular da pasta, Jorge Oliveira, também amigo da família Bolsonaro, tomou posse como ministro do Tribunal de Contas da União (TCU).
O interino continuará à frente da Subchefia para Assuntos Jurídicos (SAJ), mas vai se reportar diretamente a Bolsonaro, não a Onyx.
O deputado licenciado do DEM-RS assume a Secretaria-Geral para abrir o Ministério da Cidadania, que cuida, entre outras coisas, do Bolsa Família, para abrir espaço para o centrão no governo.
A pasta deve ser entregue ao Republicanos, legenda vinculada à Igreja Universal do Reino de Deus. O partido poderá indicar centenas de cargos vinculados a 19 secretarias e subsecretarias e sete diretorias.
Ao levar de volta Onyx para dentro do Planalto, onde funciona o gabinete da pasta, a ideia do presidente é restabelecer um equilíbrio à chamada cozinha do governo, hoje dominada por ministros militares, alvos de críticas por falta de traquejo político.
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