O anestesista Giovanni Quintella Bezerra, preso pelo estupro de uma paciente que estava dopada e passava por uma cesárea, é réu em um processo por negligência médica devido a atendimentos realizados em 2018 em um hospital de Duque de Caxias (RJ).
Além de Bezerra, a paciente ingressou com ação contra outros dois médicos, contra o Hospital de Clínicas Mário Lioni e contra a Amil, empresa responsável pela unidade.
O anestesista prestava serviços ao hospital até esta segunda (11) na equipe de plantão da recuperação pós-anestésica, mas teve o credenciamento cancelado após a prisão.
Procurado, o hospital e a operadora afirmaram que "o referido processo não possui qualquer relação com o tema das acusações recentes contra Giovanni Quintella Bezerra" e que apresentaram suas defesas dento do prazo legal, em janeiro de 2020. Dizem ainda que o processo "se encontra ainda em fase inicial de apuração", sem a defesa dos médicos envolvidos.
Conforme a petição inicial do processo, a paciente era uma mulher à época com 28 anos que foi três vezes ao Mário Leoni.
Ela estava com o vírus H1N1, mas a doença só foi diagnosticada corretamente 21 dias depois de sua primeira ida ao hospital, quando ela foi levada para outra unidade.
Após desenvolver uma trombose e entrar em coma, ela teve parte de um dedão amputado, encurtamento de uma das pernas, atrofia, cicatrizes e perda de memória. Depois de recuperada, alega ter danos psicológicos, necessidade de tratamentos médicos e incapacidade de trabalhar.
A autora da ação pede indenizações por danos morais e estéticos que somam R$ 500 mil e uma indenização mensal de R$ 3.350, baseada nos seus rendimentos anteriores como atendente de uma lanchonete e cabeleireira.
Ainda conforme o processo, ela procurou o pronto-atendimento do Mário Leoni pela primeira vez em 5 de julho de 2018 com "delírios, calafrios, dificuldade na respiração, falta de ar, tossindo muito e tontura". Após fazer um exame de sangue e uma tomografia no estômago, o diagnóstico foi de infecção urinária. Ela foi medicada e liberada.
Bezerra, que à época trabalhava como socorrista, foi o médico que atendeu a mulher pela segunda vez, no dia seguinte. Ela voltou ao local com os mesmos sintomas iniciais e também com "tosse com sangue, intensa falta de ar e dor no pulmão".
"Ele a tratou com indiferença, não prescreveu exames. Falou que ela estava muito ansiosa e deveria procurar um psicólogo para espairecer", declara Rafaela Poell, advogada da paciente.
Um terceiro atendimento foi realizado no mesmo hospital no dia 21. Conforme a defesa da paciente, o terceiro médico se baseou nos exames do dia 5, não realizou exames clínicos na paciente e apenas receitou analgésicos ao constatar que ela estava "em bom estado geral". Conforme a defesa do hospital, nesse dia ela teria efetuado um exame de urina, sem anormalidade.
Cinco dias depois, já em estado catatônico, ela foi levada ao Hospital Irajá, no Rio, onde realizou exames que apontaram que uma pneumonia tinha comprometido 75% do pulmão. Ela passaria os próximos 13 dias em coma e sairia da UTI só 28 dias da internação. A partir do material coletado, chegou-se ao diagnóstico de H1N1.
Bezerra e os demais médicos envolvidos no processo não apresentaram representantes legais ou contestação. A única defesa em curso é a do hospital e da Amil, representados pelo mesmo advogado. O processo corre na 5ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Rio desde outubro de 2019.
Em sua contestação, o Mário Leoni e a Amil argumentam que, em alegações de erro médico, "o hospital e a operadora de saúde só respondem objetivamente após a comprovação da culpa na negligência, imprudência ou imperícia do profissional".
Na visão deles, os réus realizaram os seus trabalhos "de forma adequada e tempestiva, sem que as complicações posteriores tenham sido relacionadas direta ou indiretamente com a dinâmica de cuidados desenvolvidas no hospital". Alega também que a paciente ainda não havia contraído o H1N1 quando realizou os atendimentos.
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