Antes da pandemia do novo coronavírus atingir o país, o brasileiro percorria, em média, 73 km para comprar móveis e eletrodomésticos, e outros 78 km para adquirir vestuários e calçados, de acordo com pesquisa divulgada nesta quinta-feira (21) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Os dados mostram o padrão de deslocamento da população para o comércio em 2018, quando o Brasil ainda não havia sido atingido pela chegada do Covid-19, que registrou o primeiro caso em 26 de fevereiro deste ano. Desde então, o país não apenas teve 291.579 pessoas infectadas e viu 18.859 brasileiros perderem a vida, como também alterou o consumo e fez a economia desabar.
No Amazonas, por exemplo, um dos mais atingidos pela pandemia até o momento, com 23.704 infectados e 1.561 mortes, é onde se realizavam os maiores deslocamentos, sendo o único estado a superar a marca dos 300km. Para comprar roupas e calçados, o consumidor percorria, em média, 341,8 km. Já para adquirir eletrônicos e móveis, a distância chegava a 388,2 km.
A capital, Manaus, foi considerada pela pesquisa como um dos principais destinos comerciais, especialmente no setor de eletroeletrônicos e móveis.
De acordo com Bruno Hidalgo, gerente de redes e fluxos geográficos do IBGE, as repercussões da pandemia podem ser comparadas com os resultados da pesquisa, que mostram um padrão de articulação para o comércio em uma situação anterior à chegada do novo coronavírus.
Atualmente, Manaus é o epicentro da doença no Amazonas, concentrando pelo menos um terço das mortes. O Estado foi um dos que mais percebeu a queda no varejo depois que a pandemia se espalhou e fez os governos decretarem medidas de isolamento social, restringindo a circulação de pessoas e reduzindo o comércio apenas a serviços essenciais. Em março de 2020, as vendas caíram 16,5% no Amazonas, segundo pior índice do país.
O padrão de deslocamento alto para as compras é observado em toda a região Norte.
Em Belém, as distâncias percorridas para o comércio chegavam a 180 km. O mesmo acontecia em Rondônia, onde os consumidores percorriam quase 210 km para comprarem vestuários e calçados, enquanto em Roraima ficavam perto dos 198 km. No Acre, para adquirirem móveis e eletrônicos, as pessoas viajavam mais do que 150 km.
Já nas regiões Sudeste, todos os estados possuíam padrão de deslocamento médio entre 45 km e 65 km. A maioria dos estados das regiões Sul e Nordeste giravam em torno de 50 km e 75 km. A exceção era Santa Catarina, onde os consumidores percorriam apenas 33,2 km para comprarem eletrodomésticos, e no Sergipe, com locomoção de 40,3 km para roupas.
No Brasil, após o início da pandemia, as atividades que tiveram lojas físicas fechadas registraram grandes recuos, algumas delas com variação recorde, como Tecidos, vestuário e calçados, com queda de 42,2%, e Móveis e eletrodomésticos, com retração de 25,9%.
As vendas do comércio brasileiro caíram 2,5% em março de 2020, no que foi o pior desempenho desde março de 2003. Entre os oito setores pesquisados pelo IBGE, apenas supermercados e produtos de higiene e limpeza se salvaram, por se encaixarem entre aqueles considerados como essenciais.
O IBGE também destacou algumas cidades como sendo os principais centros comerciais do país. São Paulo ocupa o topo da lista, e o Estado ainda tem outros dois polos identificados como destino de compras de vestuário e calçados, os municípios de Franca (SP) e Jaú (SP).
O Estado foi o único entre as 27 unidades federativas do país a não observar queda no comércio em março de 2020, com alta de 0,7%, reflexo das boas vendas em supermercados. Porém, os setores de Tecidos, vestuários e calçados e Móveis e eletrodomésticos observaram quedas bruscas no Estado, de 44,7% e 14,1%, respectivamente.
O governador paulista João Dória (PSDB) decretou quarentena no Estado desde 24 de março, há quase dois meses. Até esta quarta (20), o Estado tinha 5.363 mortes por Covid-19, com 69.859 infectados, o maior do país.
"As cidades que são destinos recorrentes para realização de compras dos itens investigados pela pesquisa podem sofrer redução de vendas específicas durante esse período de pandemia, em razão de receberem menos consumidores do que o habitual", disse Bruno Hidalgo.
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