(FOLHAPRESS) - Desde que entrou para a equipe de Jair Bolsonaro, Sergio Moro vinha adotando um discurso uniforme ao ser questionado sobre suspeitas de irregularidades envolvendo integrantes do governo: o de que ficou no passado o tempo em que ministros da Justiça atuavam como advogados do presidente da República ou de colegas da Esplanada.
O argumento repetido tanto no caso Queiroz -o do ex-assessor de Flávio Bolsonaro investigado sob suspeita de gerenciar uma 'rachadinha' de salários no gabinete do filho do presidente, entre outras irregularidades- quanto no caso do laranjal do PSL é uma crítica aos antecessores e servia a dois propósitos.
O primeiro propósito, se justificar publicamente pelo silêncio em relação a suspeitas de corrupção em seu entorno. Pelo seu papel na Lava Jato, a maior operação anticorrupção da história nacional, ele sempre é cobrado a se manifestar em ocasiões assim.
O segundo, reforçar o seu discurso de que é muito mais um "técnico" do que um político no comando da pasta.
"Eu sei que no passado houve ministros da Justiça que se sentiam à vontade como se fossem advogados de posições ou membros do governo. Eu acho que isso não cabe ao ministro da Segurança Pública e da Justiça", disse Moro em janeiro, ao comentar o caso Queiroz.
Embora nunca tenha dado nomes, Moro se referia, entre outros, a José Eduardo Cardozo, que chegou a exercer oficialmente o papel de defensor de Dilma Rousseff, do PT, durante o processo de impeachment.
No início de fevereiro, ao falar pela primeira vez sobre as revelações da Folha de S. Paulo acerca do esquema de candidatas laranjas no PSL de Minas, Moro retomou o bordão.
"Olha, com todo respeito, o tempo de ministros da Justiça que atuavam como advogados de membros do governo federal é coisa do passado. Não cabe o ministro da Justiça fazer esse papel de defesa de situações apontadas em relação a membros do governo."
Oito meses depois, Moro publicou a seguinte mensagem em suas redes sociais neste domingo (6): "O presidente Jair Bolsonaro fez a campanha presidencial mais barata da história. Manchete da Folha de S.Paulo de hoje não reflete a realidade. Nem o delegado, nem o Ministério Público, que atuam com independência, viram algo contra o presidente da República neste inquérito de Minas. Estes são os fatos."
A reportagem mostrou que planilhas e o depoimento de um então assessor do hoje ministro de Bolsonaro Marcelo Álvaro Antônio sugerem que dinheiro do esquema das laranjas do PSL foi desviado, por meio de caixa 2, para as campanhas de Bolsonaro e do hoje titular do Turismo.
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