Um dos principais organizadores da manifestação que estava prevista para domingo (15) em apoio ao presidente Jair Bolsonaro, o movimento Nas Ruas anunciou o adiamento do ato, em razão do agravamento da crise do coronavírus.
"O momento agora é de união e responsabilidade", disse em nota Marcos Bellizia, um dos coordenadores do grupo. Não há nova previsão de data.
O ato tinha como objetivos apoiar o governo de Bolsonaro e pressionar o Congresso e o Supremo a aprovar reformas econômicas.
Em pronunciamento na TV nesta quinta-feira (12), Bolsonaro pediu que os atos fossem repensados e adiados.
"Pedimos que Congresso, governo e Supremo trabalhem juntos para a aprovação das reformas da forma mais rápida possível. Isso irá beneficiar 100% dos brasileiros", afirmou Bellizia.
Outro movimento, o São Paulo Conservador, também anunciou o adiamento dos atos.
Até o início da semana, a possibilidade de cancelar o evento era descartada. O fato de o coronavírus ser considerado agora uma pandemia pela OMS (Organização Mundial da Saúde) alterou o quadro.
Antes do agravamento da crise, os movimentos obtiveram aval do Ministério da Saúde para realização dos atos. A consulta à pasta foi feita pela deputada Carla Zambelli (PSL-SP), uma das entusiastas das manifestações.
"Não somos irresponsáveis", diz Edson Salomão, presidente do Movimento Conservador, ao afirmar que a orientação de manter a manifestação estava sendo reavaliada conforme a evolução da doença. "Estamos aguardando uma recomendação das autoridades competentes para tomar alguma decisão."
Em coletiva de imprensa nesta quinta, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), não recomendou o cancelamento de eventos.
"Não há nenhuma recomendação do governo do estado de São Paulo para cancelamento de eventos públicos de nenhum tipo, apenas a orientação para que pessoas com mais de 50 anos evitem aglomerações", disse ele.
As decisões, afirmou Doria, são sanitaristas e não têm "qualquer cunho político". O governador se aliou ao bolsonarismo ao ser eleito em 2018, mas rompeu com Bolsonaro e pretende concorrer à Presidência em 2022.
Mais cedo, o adiamento foi mencionado por deputados federais que apoiam Bolsonaro. "Os movimentos são pessoas sérias e não querem comprometer a saúde de quem está se mobilizando. O adiamento é razoável, a saúde pública vem em primeiro lugar", disse Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP).
A deputada Bia Kicis (PSL-DF) afirmou que Bolsonaro pediria o adiamento das manifestações. "Ele tem ouvido apoiadores e organizadores e tem ponderado sobre a importância de preservar a população mais vulnerável, os idosos, sempre presentes", afirmou.
Bolsonaro fará um pronunciamento na noite desta quinta em cadeia nacional de televisão e rádio. Segundo assessores presidenciais, ele deve pedir à população que não participe dos protestos.
Para os políticos, a sinalização de Bolsonaro pelo cancelamento é necessária para que os movimentos que organizam os protestos não sejam vistos como traidores ou para que as pessoas não insistam em ir às ruas mesmo após um eventual cancelamento.
Os movimentos de esquerda que organizam os protestos do dia 18, em oposição a Bolsonaro, também estão avaliando a viabilidade dos atos conforme o avanço do coronavírus nos próximos dias.
Uma reunião com os movimentos e as centrais sindicais foi marcada para segunda-feira (16) para debater o tema e, por enquanto, o protesto está mantido.
"Vamos esperar a evolução para tomar qualquer definição. A princípio, a manifestação está mantida", afirmou Guilherme Boulos, líder do MTST e da Frente Povo Sem Medo.
Nesta quinta, representantes das centrais sindicais se reuniram para tratar do assunto. Em nota, os sindicatos cobraram "medidas específicas para os trabalhadores e trabalhadoras da saúde, educação e transporte público que estão mais expostos ao contágio", mas não cancelaram os atos. A definição ficou para segunda-feira.
Antes do encontro, a CUT pleiteava a manutenção do ato, enquanto a UGT falava em cancelamento. "Nossa preocupação é que os trabalhadores e trabalhadoras são os mais vulneráveis por não terem assistência médica, diferente da classe média, que está coberta", afirma Ricardo Patah, da UGT.
Nas redes sociais, o presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), Iago Montalvão, disse estar em discussão interna a respeito das mobilizações.
"Eu, particularmente, acredito que não podemos ficar a reboque das mobilizações do dia 15 que Bolsonaro provavelmente vai desmobilizar. Temos que mostrar responsabilidade com a saúde do nosso povo", afirmou.
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