A denúncia contra o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) o tirou da equipe da campanha do prefeito da capital paulista, Bruno Covas (PSDB), que tenta a reeleição no pleito deste ano.
Nesta quinta (23), o braço eleitoral da Lava Jato o acusou de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica eleitoral (caixa dois).
Alckmin havia sido escalado para coordenar o programa de governo de Covas. O anúncio do PSDB municipal seria feito na última quinta-feira (16), quando o partido foi surpreendido pelo indiciamento do ex-governador pela Polícia Federal.
Ainda assim, na ocasião, Alckmin se manteve no posto, apesar de pressão de setores do PSDB para que ele deixasse a campanha de Covas. Foi só com a denúncia, na manhã desta quinta, que o ex-governador telefonou ao prefeito para dizer que não mais faria a coordenação do programa de governo e que precisava se dedicar a sua defesa.
A equipe de Covas ainda não definiu um novo nome para gerenciar as propostas de governo. A coordenação-geral da campanha está a cargo de Wilson Pedroso, secretário particular do governador João Doria (PSDB).
Segundo a denúncia do Ministério Público de São Paulo, Alckmin recebeu R$ 2 milhões em espécie da Odebrecht na campanha ao governo de 2010 e R$ 9,3 milhões quando disputou a reeleição, em 2014. A defesa de Alckmin diz que as conclusões do inquérito são apressadas e infundadas.
Aliados do prefeito avaliam que, apesar do desgaste da denúncia, a saída de Alckmin é uma perda para a campanha e que sua experiência elevaria a discussão sobre o programa de governo.
Alckmin foi candidato a prefeito de São Paulo duas vezes e governou o estado por quatro mandatos. Em 2018, teve menos de 5% dos votos como candidato à Presidência da República.
O ex-governador vem recebendo apoio de colegas do partido desde que a investigação veio à tona na semana passada. Nos bastidores, tucanos veem a denúncia contra Alckmin, baseada em delações da Odebrecht, como mais frágil em relação à apresentada contra o senador José Serra (PSDB) também neste mês sob acusação de lavagem de dinheiro.
Há quem aposte que o desgaste busca desidratar Alckmin para 2022, quando ele poderia concorrer novamente ao Planalto ou mesmo ao Governo de São Paulo ou ao Senado. Mesmo afastado dos holofotes, o médico que agora se dedica a um curso de pós-graduação não deu por encerrada sua carreira política.
A possibilidade de retorno de Alckmin, porém, ofusca os planos de Doria, que pretende ser indicado pelo PSDB para concorrer à Presidência em 2022. Para seu lugar, o atual governador paulista quer eleger seu vice, Rodrigo Garcia (DEM).
Alckmin foi padrinho político de Doria ao lançá-lo candidato a prefeito de São Paulo em 2016. Depois da derrota de Alckmin em 2018 e das tentativas de Doria de se alçar à Presidência, no entanto, o relacionamento se desgastou.
Doria não se pronunciou a respeito da denúncia contra Alckmin. Na ocasião do indiciamento, afirmou que a trajetória do ex-governador "é marcada pelo compromisso com valores éticos e dedicação à causa pública" e que ele saberia esclarecer "os pontos levantados sobre doações de campanha eleitoral".
O diretório estadual do PSDB, porém, que é ligado a Doria, emitiu nota nesta quinta-feira reiterando a "confiança na idoneidade" de Alckmin, que tem "40 anos de vida pública, postura de retidão e respeito à lei sem jamais abrir mão dos princípios éticos e de seu compromisso em servir".
Entre aliados de Covas, as recentes investidas do Ministério Público e da Polícia Federal contra Alckmin e Serra têm sido associadas à campanha municipal deste ano.
Em São Paulo, a equipe de Covas considera ter chances de vitória no primeiro turno e até cogita a formação de uma chapa 100% tucana.
Até agora, os adversários de Covas lançados pelo campo da esquerda são Márcio França (PSB), Jilmar Tatto (PT), Guilherme Boulos (PSOL) e Orlando Silva (PC do B). À direita, o prefeito enfrenta Joice Hasselmann (PSL), Andrea Matarazzo (PSD), Filipe Sabará (Novo) e Arthur do Val (Patriota).
A denúncia contra Alckmin, após o indiciamento pela Polícia Federal há uma semana, é o quarto baque seguido na imagem do PSDB. No último dia 3, o Ministério Público Federal denunciou Serra e sua filha Verônica sob acusação de lavagem de dinheiro.
O senador é acusado de receber valores da Odebrecht por meio de offshores no exterior em troca de benefícios relacionados às obras do Rodoanel Sul.
Na terça (21), a Polícia Federal deflagrou uma operação ligada à suspeita de caixa dois na campanha de Serra nas eleições de 2014, quando ele se elegeu ao Senado. Ele sempre negou ter cometido irregularidades.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta