Em meio à tensão entre os Poderes provocada por suas recentes declarações golpistas, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse nesta segunda-feira (12) que é alvo de boicote de "gente importante".
"Os problemas fazem parte. Sabia que ia ser difícil, mas esperava contar com mais gente importante do meu lado. Lamentavelmente, muita gente importante aí boicota", disse Bolsonaro a apoiadores na porta do Palácio da Alvorada.
A interação foi gravada e transmitida por um canal de internet simpático ao presidente.
O clima tenso entre os Poderes não foi superado durante o fim de semana, quando emissários do Palácio do Planalto fizeram chegar ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), a irritação de Bolsonaro com as declarações do senador.
Pacheco disse na sexta-feira (9) que não aceitará retrocessos à democracia do país e que quem agir nessa direção será considerado inimigo da nação. Ele sinalizou a interlocutores que não pretende recuar da posição que tomou.
Também na sexta, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) e presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Luís Roberto Barroso, disse que qualquer tentativa de impedir a realização de eleições em 2022 configura crime de responsabilidade.
No sábado (10), o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou em uma entrevista que não tem compromisso com intentos antidemocráticos e criticou manifestações políticas de comandantes militares.
A sequência de posicionamentos de autoridades veio na esteira de declarações de Bolsonaro, que afirma que as eleições de 2022 podem não ocorrer caso não exista um sistema eleitoral confiável segundo ele, o voto impresso.
A escalada golpista acontece em um contexto de pesquisas de opinião que apontam picos de rejeição e amplo favoritismo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na corrida de 2022.
Bolsonaro subiu o tom de suas ameaças golpistas e, sem apresentar provas, insiste que haverá fraude no ano que vem e que o resultado já estaria definido. Ele também afirmou que há risco de não haver eleições.
Além de Bolsonaro, o ministro da Defesa, Braga Netto, e os comandantes das Forças Armadas ajudaram a elevar a temperatura ao divulgarem uma nota na qual repudiavam declarações feitas pelo presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), sobre os militares sob investigação e na mira da comissão.
Para completar o cenário de escalada de tensão, na sexta, o comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro do ar Carlos de Almeida Baptista Junior, reafirmou os termos da nota em entrevista ao jornal O Globo e disse que as Forças Armadas têm "base legal" para agir, sem deixar claro qual seria a ação e contra quem.
A auxiliares o presidente admitiu sua irritação com as manifestações dos demais Poderes e, assim como Pacheco, também afirmou que não pretende baixar o tom, mas pontuou que vai se esforçar para não atacar instituições, direcionando seus rompantes a pessoas específicas.
No fim da tarde de domingo, Bolsonaro foi a uma rede social e mencionou "três ministros do Supremo", sem mencionar nomes.
"A pergunta que fica: por que três ministros do Supremo rejeitam, com veemência, a possibilidade de termos eleições com auditoria nos votos?", escreveu o presidente.
Pelo lado do Judiciário, Barroso relatou a pessoas próximas sua indignação com o que tem acontecido. Para o ministro, como ele tem sido atacado, não é dele que deve partir a bandeira branca.
Já o presidente do Supremo, Luiz Fux, indicou que pretende buscar diálogo institucional com os demais Poderes.
Aos apoiadores, nesta segunda-feira, Bolsonaro voltou a criticar a cúpula da CPI da Covid, afirmou não querer brigar com ninguém, apesar de não ser "o Jairzinho Paz e Amor" e insistiu em jogar dúvidas sobre as eleições de 2022.
"Eu não quero brigar com ninguém. Nós todos queremos eleições limpas e transparentes. Se não for assim, não é eleição, isso é fraude", afirmou o mandatário.
"Agora, vamos fazer de tudo para que nós tenhamos eleições limpas e transparentes para o bem do Brasil, porque, se não for assim, é sinal de que já está escolhido quem vai nos comandar. E as pessoas que chegam na fraude não têm compromisso com vocês", disse aos apoiadores.
O presidente aproveitou a interação com seus eleitores para atacar a pesquisa Datafolha divulgada ao longo dos últimos dias.
O instituto mostrou que Lula aparece na frente nos dois cenários apresentados para o eleitor e em todas as simulações de disputa de segundo turno naquela em que enfrenta Bolsonaro, tem 58% contra 31%.
O Datafolha também mostrou que, além de a maioria dos entrevistados avaliar o presidente como desonesto, falso, incompetente, despreparado, indeciso, autoritário e pouco inteligente, sua reprovação atingiu novo recorde 51%.
"Acreditar em pesquisa Datafolha? Se bem que o Datafolha, eu acho que recebeu pouca grana desta vez. Diz que, no segundo turno, o Lula tem 60%. Então, tem que botar mais um dinheirinho no Datafolha para passar para 70, 80 [%]. Quem sabe, né, a gente confia no Datafolha e nem vai votar. Já está eleito mesmo", disse Bolsonaro.
"O Datafolha reafirma todos os resultados e informa que a pesquisa foi realizada dentro dos rigorosos padrões metodológicos e científicos praticados em todos os levantamentos do instituto. A pesquisa foi encomendada e bancada pela Folha. O Datafolha não trabalha para candidatos e partidos", afirma, em nota, o diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino.
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