Após um pedido do príncipe herdeiro da Arábia Saudita, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) determinou que o Brasil apoie o candidato daquele país, Mohammad Maziad Al-Tuwaijri, para o comando da OMC (Organização Mundial do Comércio).
A entidade que supervisiona o comércio mundial está em processo de seleção de seu novo diretor-geral, após o brasileiro Roberto Azevêdo ter antecipado em mais de um ano sua saída do cargo.
Na atual rodada de seleção, que terminou nesta terça-feira (6), cada país indicou dois candidatos de uma lista de cinco para permanecerem na disputa. Além de Al-Tuwaijri, o Brasil endossou a nigeriana Ngozi Okonjo-Iweala, disseram à reportagem membros do governo que acompanham o tema.
A votação é secreta. Entre interlocutores que acompanham o assunto na OMC, a expectativa é que tenham passado para a rodada final Okonjo-Iweala e a coreana Yoo Myung-hee.
Okonjo-Iweala é considerada uma das favoritas para substituir Azevêdo, uma vez que reúne apoio dos Estados Unidos e da União Europeia.
Mas a inclusão do azarão Al-Tuwaijri entre as preferências brasileiras foi interpretada por interlocutores como resultado de uma aproximação entre Bolsonaro e Arábia Saudita, que culminou com a chamada telefônica, na segunda (5), do monarca Mohammad bin Salman ao líder brasileiro.
Na conversa entre Bolsonaro e Salman, segundo relatos feitos à reportagem, o príncipe renovou as intenções sauditas de realizar investimentos no Brasil e finalizou pedindo o suporte para seu candidato à OMC.
"Hoje conversei com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammad bin Salman Al Saud, para dar seguimento às iniciativas acordadas em minha visita a Riade, em outubro de 2019. Estamos aprofundando nossa cooperação em defesa, comércio, investimentos e outros temas", escreveu Bolsonaro em suas redes sociais.
Durante a viagem do presidente no final do ano passado, um fundo soberano do reino árabe prometeu investimentos da ordem de US$ 10 bilhões (cerca de R$ 56 bilhões) no Brasil, em projetos que incluem infraestrutura e concessões.
Da parte brasileira, a chamada telefônica de segunda foi uma oportunidade para Bolsonaro reiterar a Salman que o Brasil tem interesse em receber esses investimentos.
Desde a passagem do presidente brasileiro por Riade, Brasil e Arábia Saudita têm se apoiado em alguns temas em fóruns multilaterais, disseram interlocutores.
No G20, por exemplo, o governo brasileiro respondeu positivamente a uma consulta saudita -que preside o órgão neste ano- sobre a disposição de Bolsonaro de comparecer a uma cúpula presencial prevista para o final de novembro.
No entanto, após outros chefes de governo do G20 indicarem que não participariam de uma reunião presencial devido à pandemia do coronavírus, os sauditas optaram por organizar um encontro virtual.
Além de Al-Tuwaijri, Okonjo-Iweala e Myung-hee, estão na atual fase da seleção para o comando da OMC a queniana Amina Mohamed e o britânico Liam Fox. A expectativa é que o anúncio dos finalistas ocorra nesta quinta (8).
Também na segunda, Bolsonaro falou por telefone com Moon Jae-in, presidente da Coreia do Sul, que pediu apoio para a candidata de seu país.
A eleição ocorre seguindo regras que priorizam o consenso, de forma que cada país é chamado a indicar suas preferências em listas que vão se afunilando até que se chegue aos dois finalistas, que devem ser anunciados nos próximos dias. A etapa inicial da eleição tinha oito postulantes, mas três nomes já tinham sido eliminados.
Como a queniana Amina Mohamed tinha o apoio da China e também era considerada bem posicionada na corrida, existia o receio entre especialistas que uma eventual final entre ela e a candidata nigeriana levasse a um impasse no órgão, com Pequim e Washington se digladiando para eleger seus escolhidos.
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