O procurador-geral da República, Augusto Aras, manifestou-se contra a apreensão do celular do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) solicitada por partidos de oposição.
O pedido está em representações apresentadas por partidos ao Supremo Tribunal Federal (STF) e enviadas à Procuradoria-Geral da República (PGR) pelo ministro Celso de Mello no último dia 22, quando o governo reagiu ao despacho do magistrado e disse que uma eventual ordem de entrega do aparelho telefônico poderia gerar "consequências imprevisíveis".
O chefe do Executivo chegou a afirmar que não cumpriria uma determinação judicial para que entregasse seu celular.
Aras afirmou que os fatos narrados nas notícias-crime de autoria do PDT, PSB e PV já estão em investigação no inquérito que apura as acusações do ex-ministro Sergio Moro de que o presidente pretendia violar a autonomia da Polícia Federal.
Segundo o procurador-geral, o responsável pela investigação é a PGR e não cabe a intromissão de terceiros, no caso os partidos, na decisão das medidas a serem adotadas em busca de provas. Por isso, enviou ao Supremo manifestação contra a apreensão do celular. Agora, cabe a Celso de Mello decidir se dá andamento ou não às representações de legendas da oposição.
Mesmo que o magistrado não tivesse determinado a entrega do celular mas apenas pedido parecer da Procuradoria a respeito, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, divulgou um texto com críticas ao despacho do integrante do STF.
Em nota, Heleno considerou o pedido do decano do Supremo, que se trata de uma praxe, algo "inconcebível" e "inacreditável".
Para ele, "seria uma afronta à autoridade máxima do Poder Executivo e uma interferência inadmissível de outro Poder, na privacidade do presidente da República e na segurança institucional do país". "O Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República alerta as autoridades constituídas que tal atitude é uma evidente tentativa de comprometer a harmonia entre os Poderes e poderá ter consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional", disse o general.
A manifestação sofreu críticas de líderes políticos e de representantes da sociedade civil. O presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Felipe Santa Cruz, apontou anacronismo e disse que o ministro deveria "sair de 1964", em referência ao ano do golpe que deu início à ditadura militar (1964-1985).
"General Heleno, as instituições rechaçam o anacronismo de sua nota. Saia de 64 e tente contribuir com 2020, se puder. Se não puder, #ficaemcasa", escreveu Santa Cruz em uma rede social.
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