O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem uma maneira de se expressar "com muita espontaneidade" que, às vezes, atrapalha na condução da política tradicional, afirmou nesta quinta-feira (14) o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
O líder do Centrão acrescentou que a discussão sobre a filiação do mandatário ao PP está "muito bem entregue". Lira falou nesta manhã à rádio Bandeirantes. Ele foi questionado sobre pesquisas de intenção de voto que mostram Bolsonaro atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Pesquisa Datafolha publicada em setembro mostrou Lula com 44% das intenções de voto, ante 26% de Bolsonaro -numa hipótese em que o candidato tucano é João Doria (SP), que teria 4%, e com Ciro Gomes (PDT), em terceiro, com 9%.
"O Brasil é imenso, é um país continental. Você tem regiões em que o presidente Bolsonaro é muito mais forte que os adversários e tem regiões em que o presidente é muito mais fraco do que seus adversários", afirmou Lira.
Na entrevista, Lira disse que a pesquisa reflete momento e que, agora, o governo vive um período de muita dificuldade, de saída da pandemia da Covid-19, com dólar e combustível em alta.
"A maneira de se expressar, com muita espontaneidade, às vezes atrapalha na condução da política tradicional, na situação da acomodação da segurança econômica, da segurança política, da segurança jurídica daquele brasileiro que quer ter uma vida, acordar com tranquilidade e saber que nós precisamos ter um Brasil harmônico, um Brasil independente, mas um Brasil que tenha um respeito e uma garantia de segurança jurídica."
Na avaliação de Lira, Bolsonaro tem um eleitor consolidado --em torno de 28%.
"Acho que ele, num momento de avaliação mais rápida, chegou no seu piso. Agora é ele trabalhar para consolidar uma melhora na economia, trazer de volta alguns eleitores que eu não acredito que sejam de esquerda e que se afastaram um pouco dele observando o momento", complementou.
O deputado lembrou que a economia influencia diretamente na eleição de qualquer presidente e que o governo precisa se mobilizar para conter as distorções. "Se não acontecer isso, é lógico que interfere no processo e atrapalhará", ressaltou.
"O presidente tem que agir energicamente, o seu governo, para tomar medidas para que contenham, que diminuam, que minimizem e se discutam com transparência os efeitos da economia na avaliação política de qualquer governo."
Lira falou ainda sobre as discussões em torno da entrada de Bolsonaro no PP. Como condição para entrar no partido, o presidente pediu para escolher os candidatos que disputarão uma vaga no Senado pela legenda em 2022.
"O presidente Bolsonaro já foi do nosso partido, quando saiu, saiu consensualmente, foi dada a ele a permissão para deixa a sigla e se candidatar à Presidência da República", disse.
"E agora o presidente Ciro [Nogueira] tem tido conversas realmente com a bancada, tem consultado estado por estado, ouvido seus diretórios, tem conversado com o presidente, isso já vem sendo noticiado."
Lira afirmou que vai aguardar que as esferas partidárias resolvam a questão. "Está muito bem entregue essa discussão e nós vamos esperar o que vai acontecer neste momento."
O presidente da Câmara abordou ainda a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que muda a composição do CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) e que é criticada por fragilizar a independência do órgão.
Segundo ele, o texto tem sido conciliado com associações de Ministérios Públicos. Lira criticou o fato de o MP não ter um código de ética. Ele defendeu ainda a mudança na composição "para dar mais espaço à sociedade civil".
"Porque todos os órgãos têm controle externo, só no MP não se tem controle porque a formação do CNMP sempre foi paternalista. Você raramente vê ações de improbidade contra o MP."
"A composição será feita de uma maneira mais democrática, onde as decisões possam ser feitas e acompanhadas com mais transparência, sem nenhum tipo de ingerência funcional para cima do Ministério Público, absolutamente."
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