Atrás nas pesquisas de intenção de voto, o prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), radicalizou seu discurso no segundo turno com ofensas e acusações sem provas contra o adversário, o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM).
O objetivo de Crivella é consolidar o voto evangélico e conservador a seu favor. Para isso, tenta vincular o adversário a partidos de esquerda que decidiram apoiá-lo no segundo turno para evitar a reeleição do atual prefeito.
Crivella disse que o PSOL, que declarou "apoio crítico" a Paes, vai indicar o futuro secretário de Educação -o que tanto o candidato como a sigla negam. O atual prefeito associou sem provas o suposto acordo à "pedofilia nas escolas".
"O PSOL, dizem, vai tomar conta da Secretaria de Educação. Agora você imagina em pedofilia nas escolas. Eu fico imaginando um irmão meu, evangélico, batista, metodista, assembleiano, alguém da Universal. Jesus disse pra nós que o Reino de Deus é das crianças. 'Quem recebe uma criança, recebe a mim'. Jesus se comparou às crianças. E nós vamos aceitar pedofilia na escola no ensino infantil?", afirmou ele.
A declaração foi dada num vídeo divulgado pelo deputado federal Otoni de Paulo (PSC) em Brasília, antes de Crivella encontrar o presidente Jair Bolsonaro para a gravação de um novo vídeo para sua campanha. O material também foi publicado nas redes do prefeito.
"É um risco que nós estamos correndo se Eduardo Paes for eleito. E aqui não estamos num show de terrores para tentar amendrontar. É a realidade", disse Otoni.
A presidente do PSOL no Rio de Janeiro, Isabel Lessa, disse que a declaração de Crivella é "atitude de um homem desesperado, que claramente sabe que vai perder as eleições". A sigla pediu à Justiça Eleitoral para que o prefeito seja obrigado a publicar um direito de resposta em suas redes sociais
Paes afirmou, em nota, que "esta atitude reflete o desespero dele com a crescente perspectiva de derrota nas urnas".
"Não imaginava que seria capaz de ir tão longe na baixeza e na mentira. Ele será processado eleitoral, cível e criminalmente por essa gravíssima e mentirosa acusação", disse o ex-prefeito.
A declaração foi dada menos de 24 horas depois de Crivella xingar o governador de São Paulo, João Dória (PSDB), de "vagabundo" e com o termo homofóbico "viado". Ele falava sobre as OS (Organizações Sociais) de saúde.
"Eu entrei na Justiça contra esses vagabundos. Sabe o que eles fizeram? Dei dinheiro para pagar aos funcionários, eles pegaram e pagaram fornecedor, que tinha que pagar dia 10 de dezembro. E faltou dinheiro. Sabe de quem é essa OS? Essa OS é de São Paulo. É do Doria. Viado! Vagabundo!"
Após a divulgação do vídeo, a campanha de Crivella disse que a manifestação do prefeito foi um "momento de revolta" e pediu desculpas ao governador de São Paulo.
Além das ofensas, Crivella também já prometeu na campanha tomar medidas contrárias da que adotou em seu mandato. A principal é a redução do IPTU, imposto que ele aumentou no segundo ano de governo.
"Nós aumentamos o IPTU por conta da crise. Agora em 2021 e 2022, a gente quer voltar com ele em quanto era em 2018 e 2017. Tenho certeza que isso será um grande alívio para os nossos comerciantes, que durante a pandemia ficavam fechadas", disse Crivella.
O prefeito já enviou a proposta para a Câmara Municipal durante a campanha eleitoral. Em audiência pública, a secretária de Fazenda, Rosemary de Macedo, afirmou que não foi consultada sobre a proposta e que o projeto de lei orçamentária para o ano que vem não previa a redução.
Pesquisa do Datafolha divulgada nesta terça-feira (19) que Paes tem 71% das intenções de votos válidos, contra 29% de Crivella.
Considerando-se os votos totais, Paes tem 54%, e Crivella, 21% --patamar semelhante ao indicado pela simulação de segundo turno divulgada no sábado (14) pelo Datafolha. Afirmam votar em branco ou nulo 22% dos entrevistados, enquanto 3% não souberam responder.
A margem de virada para o atual prefeito parece ser estreita. Entre os eleitores de Paes, apenas 10% declara poder mudar o voto. Em razão da distância entre os dois, não basta a Crivella atrair os indecisos ou aqueles que pretendem votar nulo, mas também reverter intenções de votos do ex-prefeito.
O levantamento mostra que Paes tem a preferência do eleitorado em todas as faixas de renda, escolaridade, idade e sexo. Seu melhor resultado é entre os entrevistados que declararam renda familiar acima de dez salários mínimos, grupo em que alcança 70% da preferência.
O atual prefeito, bispo licenciado da Igreja Universal, tem a vantagem apenas no eleitorado evangélico, sua principal base eleitoral. Nesse grupo, ele tem 46% da preferência dos entrevistados, contra 29% de Paes --outros 23% pretendem anular, e 2% estão indecisos.
Crivella aposta todas as suas fichas na mobilização do presidente em sua campanha e no discurso de cunho religioso e moral. Nesta terça-feira (19), Bolsonaro gravou um novo vídeo para a campanha do prefeito, mas disse que não participaria de agendas de rua ao seu lado.
Ele também tem apontado o que considera um risco trocar o prefeito durante a pandemia.
"Vale a pena sujar seu voto de sangue? Colocar em risco a vida das pessoas?", disse ele no vídeo divulgado por Otoni.
"Se nós tivéssemos uma Olimpíada, um Carnaval, uma festança para fazer, tudo bem. Talvez eu não seja a pessoa certa para você convidar. Talvez eu olhe muito os preços. Talvez a obra demore mais um pouco. Mas se está precisando de gente para cuidar de pessoas, de gente que vai para o hospital, que tem comunhão com Deus a vida inteira, vai tirar gente assim para colocar pessoas carnavalescas, que vivem na festança? Não suje seu voto de sangue", afirmou o prefeito.
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