O crescimento constante de casos do novo coronavírus e mortes decorrente da Covid-19 no Brasil é muito preocupante e é difícil dizer que essa alta vai ser contida nas próximas semanas se não forem tomadas medidas de distanciamento e ampliada a capacidade de testes no país, afirmou nesta terça (2) Marcos Espinal, diretor de doenças infecciosas da Opas (Organização Pan-Americana da Saúde).
Entre domingo (31) e segunda-feira (1º), o Brasil registrou 623 novos óbitos, o maior número de mortes diárias no mundo, o que elevou o total a 29.937 -atrás apenas de Estados Unidos, Reino Unido e Itália. Há 526.447 casos do novo coronavírus confirmados no Brasil, o segundo maior número global, e a transmissão continua se acelerando, segundo estimativa divulgada nesta semana pelo Imperial College.
A taxa de contágio brasileira foi calculada em 1,13, ou seja, cada 100 pessoas contagiam outras 113, expandindo a prevalência da doença. É a sexta semana seguida em que o Brasil apresenta uma taxa de contágio acima de 1, e o centro britânico estima que vão ocorrer 8.580 mortes nesta semana, maior número entre 53 países e mais que o dobro do calculado para o México, segundo colocado (os EUA são analisados à parte).
Além da forte alta em casos e mortes diários, o diretor da Opas disse que é alarmante que o número de municípios que reportaram casos tenha mais que dobrado entre os dias 11 e 25 de maio, com um aumento de cerca de 170%.
Segundo ele, não se pode generalizar, já que o país é muito vasto e estados têm adotado medidas diferentes, mas a evolução geral mostra que é preciso reforçar restrições à mobilidade para frear a contaminação. No entanto, vários estados têm iniciado seus planos de reabertura nesta semana.
O especialista afirmou também que o Brasil não está fazendo testes o suficiente, o que é considerado fundamental para permitir a retomada das atividades. Nesta terça, o país atingia cerca de 440 testes por 100 mil habitantes, enquanto outros países da região passam de 2.500, segundo Espinal.
A taxa de testes chega perto de 5.500 por 100 mil habitantes dos Estados Unidos e passa dos 3.000 por 100 mil no Chile e no Peru.
Segundo Jarbas Barbosa, diretor-assistente da organização, não existe um índice ótimo de testes, mas ele precisa ser suficiente para todos os casos suspeitos, todos os contatos dos casos suspeitos e todos os profissionais de saúde: "Esse é o mínimo necessário para seguir o caminho do vírus e cortar esse caminho, interrompendo a transmissão".
Barbosa afirmou também que, em países onde o número de casos de coronavírus continua crescendo, não é seguro relaxar confinamentos, principalmente quando não há capacidade de testagem e rastreamento. "O contágio pode voltar a se acelerar", disse ele.
Segundo Espinal, também preocupa no caso brasileiro a taxa de ocupação de UTIs em estados como Ceará, Amapá e Maranhão. "Medidas de mitigação não estão sendo suficientes para segurar o avanço da epidemia. É preciso fazer mais para proteger a população."
A diretora da Opas, Clarissa Etienne, afirmou que a dificuldade de combate à pandemia na América Latina é maior porque é uma região "de desigualdade socioeconômica máxima, com megametrópoles em que muitos vivem aglomerados, dependem de transporte público e não têm acesso à saúde".
Segundo ela, em vez de apressar o desconfinamento, os governos precisam ampliar redes de proteção econômicas e sociais, para aumentar a adesão da população às medidas necessárias para conter o coronavírus.
Em relação ao Brasil, o gerente de incidentes da organização, Sylvain Aldighieri, afirmou que há uma situação de emergência na bacia do rio Amazonas, e que é preciso reforçar a colaboração entre Brasil, Venezuela, Guianas e Suriname, além de engajar ONGs locais e internacionais, para aumentar a vigilância e sufocar rapidamente surtos entre os indígenas.
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