Mal havia vazado o depoimento do ex-ministro Sergio Moro e os aliados do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na direita já martelavam a avaliação de que tudo não passou de um traque.
Provas testemunhais, mensagens de celular entregues e a existência de um vídeo mostrando a tentativa de ingerência de Bolsonaro na Polícia Federal foram convenientemente ignoradas. No lugar, surgiram alfinetadas e muita ironia.
Uma delas veio do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB), recentemente convertido à base de Bolsonaro. "A íntegra do depoimento de Sergio Moro à Polícia Federal revela que o ex-ministro tem muitas convicções, mas nenhuma prova", escreveu, repetindo o mantra dos petistas para acusar Moro durante os processos contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Mais irônico ainda foi o comentário de um seguidor do ex-deputado: "A história se repete: a teoria do domínio do fato", disse. Foi com base nessa teoria que parte da cúpula petista foi condenada no mensalão, deflagrado justamente após ser denunciado por Jefferson.
O discurso corrente é de que Moro inocentou Bolsonaro ao se recusar a dizer que ele cometeu crime e ao afirmar que o presidente nunca pediu relatórios de inteligência, porque sabia que não seriam repassados.
Um dos mais atuantes integrantes da tropa de choque do presidente na Câmara, o deputado federal Bibo Nunes (PSL-RS) afirmou que o depoimento reforça a percepção entre a base do presidente de que o ex-ministro é um traidor.
"Eu tenho uma rede de milhares de seguidores. Quando Moro saiu do ministério, de 30% a 40% se voltaram contra Bolsonaro. Mas hoje isso não chega a 2%", afirma Nunes, que diz se arrepender de ter defendido o ex-juiz, inclusive quase indo às vias de fato. "Eu quase troquei soco na Câmara com um deputado do PSOL para defender o Moro. Que decepção", disse.
Presidente do Movimento Conservador, um dos grupos que têm promovido mobilizações de rua em prol de Bolsonaro, Edson Salomão afirmou que o depoimento não foi nenhuma surpresa.
"Já imaginava que o Moro estivesse blefando. O que para nós fica em aberto é por que ele agiu dessa forma. Gostaríamos de saber a razão para ele ter adotado essa postura", afirmou Salomão.
Para ele, Moro claramente já começa a colocar de pé um projeto político, como mostram sua nova faceta de tuiteiro. "Ele nunca foi tão ativo nas redes sociais como agora, e não é porque está desempregado", disse.
Para parte dos apoiadores do presidente, contudo, o projeto presidencial do ex-magistrado responsável pela Operação Lava Jato começou a ruir antes mesmo de ficar de pé.
"Quero saber se os que gritam 'Sergio Moro presidente!' continuarão a fazê-lo depois do fiasco de seu depoimento, hoje tornado público", afirmou o youtuber Bernardo Kuster, bastante influente entre católicos conservadores.
Já o perfil anônimo Let's Dex, também seguido por muitos da base de Bolsonaro, resumiu o sentimento de alívio da tropa de choque digital do presidente. "Qualquer leigo saca que o Moro só chorou e arregou", disse.
O discurso de vitória por 7 a 1, no entanto, é frágil, como admitem alguns bolsonaristas em caráter reservado. Por enquanto, vazou apenas o depoimento de Moro relatado em discurso indireto. A coisa pode mudar quando aparecerem mensagens e o vídeo do presidente, que teriam força muito maior.
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