As pesquisas divulgadas neste sábado (14) pelo Datafolha refletem a intenção de voto dos eleitores na véspera do pleito. A população receberá os resultados como informação e, a partir dela, numa equação que combina outros fatores como noticiário, expectativas e avaliação dos candidatos, definirá sua opção nas urnas.
Importante enfatizar que não se trata de pesquisa de boca de urna para se chegar ao resultado da eleição, realizada com os eleitores depois da votação -a única que pode ser comparada com os dados oficiais. No Brasil, com o voto eletrônico, esse tipo de levantamento perdeu sua relevância, em razão da rápida apuração.
Números como os deste sábado que projetam indefinições no cenário exigem cautela na análise.
Em São Paulo, por exemplo, a desaceleração no crescimento de Bruno Covas diminui muito as chances de vitória no primeiro turno e transfere o foco para a disputa do segundo lugar. Ao contrário do que vinha acontecendo nos últimos levantamentos, o prefeito agora tem um percentual de intenções de voto inferior ao que João Doria (PSDB) conseguia na véspera da eleição de 2016 (38%). O empate técnico entre Guilherme Boulos (PSOL), Marcio França (PSB) Celso Russomanno (Republicanos) na segunda colocação alimenta o potencial para a prática do voto útil. Em gradientes diferentes do espectro político, os três candidatos podem captar votos menos cristalizados de nomes com taxas inferiores de intenção de voto, o que seria decisivo. E o índice de eleitores que cogitam mudar de opção ainda é elevado -corresponde a quase um terço do eleitorado.
Dos três candidatos que disputam a segunda vaga, o grau de fidelidade dos que pretendem votar em Boulos e França é superior ao dos que preferem Russomanno. No entanto, os mais prováveis beneficiados dos eleitores-pêndulo são os nomes do PSB e do Republicanos. Já o grau de conhecimento sobre o número a ser digitado na urna favorece o candidato do PSOL.
Para completar a incerteza, a taxa de abstenção quando concentrada em determinado perfil do eleitorado, pode fazer a diferença em disputa tão equilibrada. Entre os que afirmam que apesar da pandemia comparecerão às urnas, Boulos ganha um ponto, França perde um, Russomanno fica estável, todos dentro da margem de erro. Mas o candidato do PSB é o menos rejeitado dentre os três e cresceu nos últimos dias entre os que têm 45 anos ou mais.
Quanto a outras variações, apesar de enquadrarem-se no intervalo de confiança, algumas oscilações despertam atenção. Boulos perdeu pontos nos segmentos em que tem maior intenção de voto -os mais jovens, estrato de maior presença em redes sociais, ambientes onde construiu sua candidatura e onde vem sendo mais atacado nos últimos dias. Entre os simpatizantes do PT, menções a Covas e França como segunda opção de voto superam as do candidato do PSOL.
No Rio de Janeiro, mantém-se a liderança absoluta de Eduardo Paes (DEM) e a segunda vaga tende a Marcelo Crivella (Republicanos). A resiliência do atual prefeito em razão de sua base evangélica, especialmente entre os neopentecostais, o coloca em vantagem sobre Martha Rocha (PDT).
A delegada, que depois de sua evolução passou a sofrer ataques dos adversários, viu sua rejeição crescer e apresentou oscilações negativas nas intenções de voto, ficando também em situação de empate técnico com Bendita da Silva (PT), que consegue 9%.
Crivella e Paes têm o eleitorado mais cristalizado (78% e 77%, respectivamente). Entre os que votam em Benedita, 34% cogitam ainda a possibilidade de mudar o voto, mas se antes esse contingente se dividia entre Paes e Martha, agora tendem mais ao ex-prefeito.
Na capital fluminense, o potencial de abstenção por conta da pandemia tem leve influência negativa (de um ponto percentual para baixo) entre os eleitores de Benedita, mas não alteraria a distância de cinco pontos entre o atual prefeito e a delegada.
Em Recife, João Campos (PSB) continua com o apoio de um terço do eleitorado na véspera da eleição. Mesmo assim, seu índice é mais baixo do que os obtidos por seu companheiro de partido, o atual prefeito, Geraldo Julio, nas eleições de 2012 e 2016.
Sua evolução nos últimos dias se dá em estratos onde ele já liderava e que têm grande peso na composição do eleitorado -as mulheres, os de menores renda e escolaridade. Com apelo ao segmento jovem no final de campanha, recuperou parte desse conjunto, que havia perdido para a prima, Marilia Arraes (PT).
A petista se mantém numericamente à frente de Mendonça Filho (DEM) na disputa pelo segundo lugar por conta de seu desempenho no segmento feminino, no qual abre seis pontos de vantagem sobre o ex-ministro -entre os homens, os dois empatam. Apesar de Marilia ter maior percentual de eleitores fieis, o candidato do DEM atrai mais eleitores-pêndulo de um modo geral, inclusive os de Patrícia Domingos (Podemos) e deve equilibrar ainda mais a disputa pelo segundo lugar se a conversão se concretizar.
A delegada que chegou a embolar a disputa pela segunda vaga, viu sua rejeição disparar e as intenções de voto diminuírem, primeiro por conta da repercussão de postagens preconceituosas em redes sociais sobre a população da cidade, depois pelo apoio declarado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) que aprofundou sua reprovação entre as mulheres.
Em Belo Horizonte, mesmo se todos os eleitores do atual prefeito Alexandre Kalil (PSD) que cogitam mudar o voto realmente o fizessem, ele ainda assim seria eleito no primeiro turno. Kalil tem 54% das intenções de voto espontâneas, 61% das estimuladas e 69% dos votos válidos. Lidera em todos os segmentos do eleitorado, apesar de algumas variações negativas, especialmente entre os de maior renda.
Como se vê são muitos os fatores que ainda podem influenciar a opinião do eleitor e sustentar sua decisão. A batalha pelo voto útil e a mobilização para o comparecimento às urnas em meio a uma pandemia serão travadas em diferentes esferas e meios e vão se estender até o momento do voto.
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