Conteúdo investigado: Montagem com três vídeos, sendo que o primeiro mostra animais sendo pastoreados, e o segundo, uma fila de caminhões. Juntos, recebem narração de uma voz masculina afirmando que 40 mil bois de uma fazenda do filho de Lula, em São Félix do Xingu (PA), estão sendo embarcados. O terceiro mostra homens em uma embarcação apontando para uma área de terra, que afirmam se tratar da Fazenda Grendene, na cidade de Cáceres (MT), supostamente comprada por Lula por R$ 90 milhões.
Onde foi publicado: Facebook e Kwai.
Conclusão do Comprova: É falsa a afirmação feita no vídeo antigo e que voltou a circular recentemente nas redes sociais de que 40 mil bois estariam sendo embarcados em fazenda que pertence a um dos filhos do ex-presidente Lula, em São Félix do Xingu, no sul do Pará. É igualmente falsa a afirmação de que a Fazenda Grendene pertence à família Lula.
O conteúdo já foi desmentido pelo Comprova em 2021, demonstrando que os animais são ovinos, não bois, e que não há evidências de que os filhos do ex-presidente sejam proprietários de fazendas.
A atualização do boato apresenta, na edição da montagem, outro conteúdo já desmentido pela agência Aos Fatos em abril deste ano. No vídeo, dois homens afirmam que a Fazenda Grendene foi comprada por R$ 90 milhões por Lula para ser dada ao filho Lulinha (Fábio Luís Lula da Silva). A verificação demonstrou que a propriedade pertence à Agropecuária Grendene, uma das empresas ligadas à família que opera no setor calçadista do sul do país.
Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.
Alcance da publicação: Até o dia 17 de outubro, o conteúdo foi visualizado 2 milhões de vezes no Facebook, recebeu 19 mil comentários e 74 mil curtidas. No Kwai, foi compartilhado por 10,5 mil usuários.
O que diz o responsável pela publicação: A reportagem enviou mensagens para os responsáveis pelas postagens no Kwai e no Facebook, mas não houve resposta até o fechamento desta verificação.
Como verificamos: O Comprova dividiu as duas partes do vídeo que possuem narração e separou os frames utilizando a ferramenta InVid. Em seguida, utilizou o mesmo aplicativo e o TinEye para fazer a busca reversa pelas imagens e saber se os vídeos já haviam sido publicados anteriormente na internet e em qual contexto. O buscador Yandex encontrou publicações desde 2017 que utilizavam trechos dos vídeos.
Em seguida, a equipe de verificação enviou mensagens para os responsáveis pelas publicações mais antigas do vídeo que mostra os animais e do que mostra os caminhões. No primeiro caso, uma página turca respondeu. No segundo, não houve retorno.
Utilizando o Google, o Comprova também pesquisou os nomes dos filhos do ex-presidente associados à palavra “fazenda”, além de consultar as empresas registradas em nome de Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, alvo frequente de postagens contendo desinformação.
À época, a reportagem encaminhou mensagem ao autor da postagem no TikTok e para um usuário do Instagram que também havia compartilhado o conteúdo, mas sem legendas. Não houve resposta.
No caso do vídeo do barco, uma busca no Google levou à verificação publicada pela agência Aos Fatos.
Essa investigação foi reaberta após os vídeos viralizarem em postagens recentes.
Não há evidências de que os filhos do ex-presidente Lula sejam proprietários de fazendas no sul do Pará ou em outra região do país. Ao utilizar o Google para pesquisar os nomes deles associados à palavra “fazenda”, o Comprova descobriu que há dezenas de verificações desmentindo boatos de que o mais velho, Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, seja pecuarista.
A página Boatos.Org, por exemplo, fez verificações semelhantes a esta em junho de 2021, em fevereiro de 2020 e em 2016, destacando que os boatos sobre supostas fazendas da família de Lula circulam há muitos anos.
Em 2013, a página E-Farsas mostrou ser falso que Lulinha comprou uma fazenda avaliada em R$ 47 milhões. Em 2019, a Agência Lupa mostrou que a “fazenda de R$ 50 milhões do filho de Lula” é, na verdade, um campus universitário em Piracicaba, e o Estadão Verifica mostrou ser falso que o filho do ex-presidente comprou “a maior fazenda do mundo”. Já em 2021 foi desmentido que ele é dono da Fazenda Fortaleza, no interior de São Paulo, pelo Aos Fatos e pelo G1.
O próprio Comprova já fez outras verificações envolvendo o nome do filho mais velho do ex-presidente, demonstrando ser falsa postagem que associa o governador de São Paulo João Doria e Lulinha na compra da vacina Coronavac e que não existe delação afirmando que ele “embolsou” R$ 317 milhões.
Utilizando a ferramenta CruzaGrafos, o Comprova identificou que Lulinha é sócio de quatro empresas que têm como atividade principal serviços em tecnologia da informação. Elas são holdings de instituições não financeiras, ou seja, entidades controladoras das participações de um conjunto de companhias. São elas: a BR4 Participações LTDA., a LLF Participações – Eireli, a FFK Participações LTDA. e a G4 Entretenimento e Tecnologia Digital LTDA.
Em março de 2021, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região determinou paralisação de uma investigação aberta contra Lulinha, suspeito de ter recebido R$ 132 milhões da operadora Oi/Telemar por meio de contratos com empresas do grupo Gamecorp, que reúne serviços de jogos eletrônicos, mídia e tecnologia. Em janeiro deste ano, o processo foi arquivado pela Justiça Federal em São Paulo.
Ele foi investigado no âmbito da 69ª fase da Operação Lava-Jato e o processo foi remetido à Justiça Federal de São Paulo. Antes da deflagração da fase, a Polícia Federal chegou a pedir a prisão de Lulinha, que foi negada pela 13ª Vara Federal de Curitiba. A decisão pelo arquivamento levou em consideração julgamento do Supremo Tribunal Federal que anulou ações penais relacionadas à Lava Jato a partir do reconhecimento de parcialidade do ex-juiz Sergio Moro.
A investigação aponta haver indícios de que os valores tenham sido usados na compra do sítio de Atibaia (SP), propriedade pela qual o ex-presidente Lula foi condenado. A condenação foi anulada em março do ano passado pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, entendendo que a competência do julgamento é da Justiça Federal do Distrito Federal. Os casos do pai e do filho estão sendo julgados em processos diferentes.
Realizando buscas por fragmentos do vídeo que mostra o bando de animais, o Comprova chegou a uma verificação da AFP Fact Check de Hong Kong que checou um boato em circulação na Ásia. Embora não tenha confirmado quem é o autor das filmagens ou onde elas foram gravadas, o veículo diz que o conteúdo retrata ovinos e foi compartilhado em 2019 em uma rede social russa.
Neste caso, o vídeo também foi utilizado para a construção de informações falsas, mas que circularam fora do Brasil. Na ocasião, os responsáveis pelas publicações enganosas afirmavam se tratar da doação de 30 mil ovinos pela Mongólia à China durante a epidemia de coronavírus. Acontece que antes da doação, anunciada em 27 de fevereiro de 2020, as imagens já circulavam na internet.
O Comprova seguiu fazendo buscas pelas imagens e identificou que o mesmo vídeo foi postado no Facebook por uma conta árabe intitulada “Raridades da pecuária e da agricultura”. O post levava a legenda “Glória ao Deus Todo Poderoso, Senhor dos mundos”, publicada no dia 15 de agosto de 2020. Nesta publicação, ele é mais extenso e aparecem dois cachorros pastoreando o rebanho.
Outras postagens foram localizadas em uma rede social russa, em dezembro de 2019, e em uma plataforma de vídeos do país, em 6 de maio do mesmo ano – posteriormente o autor restringiu o acesso ao vídeo. Nesta última, o conteúdo trazia uma montagem com outro vídeo no qual mulheres aparecem tratando peles de ovinos.
Dois dias antes, em 4 de maio de 2019, o vídeo do rebanho foi publicado em uma conta do Instagram que só posta vídeos de ovinos. A legenda, em turco, diz: “eles controlam este rebanho com 2 cães”. Essa foi a postagem mais antiga do conteúdo localizada pelo Comprova. Uma mensagem foi enviada ao usuário, questionando mais informações sobre as imagens. Ele respondeu ter visto o conteúdo em uma página há muito tempo, de onde fez o download, mas sem lembrar qual. Afirmou, ainda, não ser o responsável pela gravação das imagens.
Não foi possível identificar onde foram gravadas as imagens que mostram uma extensa fila de caminhões. Buscando pelos fragmentos do vídeo, o Comprova chegou a dois arquivos postados no YouTube. Um, de 3 de janeiro de 2020, já associava a presença dos veículos a um “embarque gigante na fazenda do Lulinha em São Félix do Xingu”. A legenda do outro, de 2017, só diz “congestionamento muito grande de caminhões!”. Neste, as imagens estão cobertas por um filtro. O Comprova deixou comentários em ambos os conteúdos, questionando a origem dos vídeos, mas não recebeu retorno até a publicação desta checagem.
Em abril deste ano, a agência Aos Fatos constatou serem falsas as afirmações de que a Fazenda Ressaca, em Cárceres (MT), pertence a Lulinha. A verificação demonstrou que, de acordo com a Receita Federal, a empresa é administrada por Gelson Rostirolla e tem no quadro de sócios Pedro Grendene, Pedro Bartelle, Giovanna Velloso e Maria Cristina Camargo.
A família é dona da empresa calçadista Grendene S/A – da qual Gelson Rostirolla é diretor vice-presidente –, que negou, ao Aos Fatos, que a fazenda fosse de Lula ou de alguém da família do petista. O mesmo foi informado pela assessoria do ex-presidente.
Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam na internet relacionados às eleições presidenciais de 2022, à pandemia e a políticas públicas do governo federal. O conteúdo aqui investigado atribui falsamente à família do candidato à Presidência da República Lula, a propriedade de duas fazendas, uma no Pará e outra no Mato Grosso. A disseminação de peças de desinformação é uma prática nociva à democracia, porque a população tem direito de fazer suas escolhas baseadas em conteúdos confiáveis.
Outras checagens sobre o tema: O Comprova tem desmentido frequentemente conteúdos relacionados aos presidenciáveis que concorrem neste segundo turno das eleições. Recentemente, mostrou que vídeo engana ao afirmar que Bolsonaro acabou com a multa para demissão sem justa causa e ser montagem tuíte atribuído ao atual presidente com ataques a religiosos católicos, além de demonstrar que sigla CPX em boné usado por Lula significa complexo e não tem relação com facção e serem montagens as reproduções do Twitter e do G1 que atribuem ao ex-presidente declarações sobre desarmamento.
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