BRASÍLIA - O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou nesta segunda-feira (18) a repetir teorias da conspiração e ataques às urnas eletrônicas em reunião com embaixadores estrangeiros, no Palácio da Alvorada.
No início do encontro, Bolsonaro disse que basearia a apresentação em um inquérito da PF (Polícia Federal) sobre o suposto ataque hacker ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) durante as eleições de 2018.
Trata-se do mesmo inquérito apresentado pelo presidente em live em julho de 2021, quando ele exibiu uma série de mentiras e teorias que circulam em redes sociais para desacreditar o sistema eleitoral.
"Segundo o TSE, os hackers ficaram por oito meses dentro do computador do TSE, com código-fonte, senhas - muito à vontade dentro do TSE. E [a Polícia Federal] diz, ao longo do inquérito, que eles poderiam alterar nome de candidatos, tirar voto de um e mandar para o outro", disse Bolsonaro.
Bolsonaro também voltou a atacar os ministros Luís Roberto Barroso, Edson Fachin, presidente do TSE, e Alexandre de Moraes, que assumirá o comando da Corte Eleitoral em 16 de agosto.
"O senhor Barroso, também como o senhor Fachin, começaram a andar pelo mundo me criticando, como se eu estivesse preparando um golpe por ocasião das eleições. É o contrário o que está acontecendo", disse.
O presidente ainda sugeriu que os ministros atuariam no TSE para barrar medidas de transparência. O objetivo, segundo Bolsonaro, seria eleger "o outro lado".
"Eu ando o Brasil todo, sou bem recebido em qualquer lugar. Ando no meio do povo. O outro lado, não. Sequer come no restaurante do hotel, porque não tem aceitação. Pessoas que devem favores a eles não querem um sistema eleitoral transparente. Pregam o tempo todo que, após anunciar o resultado das eleições, os chefes de estados dos senhores devem reconhecer o resultado das eleições", disse Bolsonaro.
Aos embaixadores, Bolsonaro voltou a reproduzir teorias contadas sobre o funcionamento das urnas em 2018. Ele citou que muitas pessoas queriam votar no 17, mas as urnas indicavam voto no 13, número de seu adversário, Fernando Haddad (PT).
Essa é a repetição do vídeo publicado por Fernando Francischini, que teve o mandato de deputado estadual cassado pelo TSE por ter divulgado a gravação sobre o suposto erro. O tribunal já desmentiu o vídeo, que não foi comprovado pelo mandatário nem por seus aliados.
As declarações de Bolsonaro sobre a não confiabilidade das urnas têm sido contestadas pelo TSE desde o ano passado.
A corte já disse que o inquérito a que o presidente se refere não concluiu que houve fraude no sistema eleitoral em 2018 ou que poderia ter havido adulteração dos resultados, ao contrário do que disse o mandatário.
De acordo com nota do tribunal de agosto do ano passado, "o próprio TSE encaminhou à Polícia Federal as informações necessárias à apuração dos fatos e prestou as informações disponíveis. A investigação corre de forma sigilosa e nunca se comunicou ao TSE qualquer elemento indicativo de fraude".
O texto disse ainda que o episódio da invasão do hacker, que ocorreu em 2018, "foi divulgado à época em veículos de comunicação diversos. Embora objeto de inquérito sigiloso, não se trata de informação nova".
O TSE disse que o acesso dos hackers "não representou qualquer risco à integridade das eleições de 2018", porque o código fonte dos programas passa por sucessivas verificações e testes, identificando possíveis manipulações. "Nada de anormal ocorreu", disse à época.
As Forças Armadas têm repetido o discurso de Bolsonaro. Em ofício recente, solicitaram ao TSE todos os arquivos das eleições de 2014 e 2018, justamente os anos que fazem parte da retórica de fraude do presidente.
No Brasil, nunca houve registro de fraude nas urnas eletrônicas, em uso desde 1996.
Pesquisa Datafolha mostrou que, em meio à ofensiva feita por Bolsonaro, o percentual de eleitores que confiam nas urnas eletrônicas passou de 82%, em março, para 73%, em maio.
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