O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) classificou integrantes de grupos antifascistas que estão promovendo protestos contra seu governo de marginais e terroristas. Na porta do Palácio da Alvorada, ele também defendeu retaguarda jurídica para atuação policial nas manifestações.
"Começou aqui com os antifas em campo. O motivo, no meu entender político, diferente [daquele dos protestos nos EUA]. São marginais, no meu entender, terroristas. Têm ameaçado, domingo [7], fazer movimentos pelo Brasil, em especial, aqui no DF", disse Bolsonaro na noite de terça-feira (2).
Na segunda-feira (1º), o presidente já havia dito a seus apoiadores que eles não deveriam ir às ruas no domingo (7), como fazem todos os finais de semana, já que, neste, está marcado um ato contra o fascismo e em oposição ao governo Bolsonaro.
Auxiliares do presidente, no entanto, não sabem como ele se comportará já que, em março, no início da pandemia do novo coronavírus, ele havia feito um pronunciamento desaconselhando seus apoiadores, mas ele mesmo compareceu ao ato de 15 de março.
"Eu já disse que não domino, não tenho influência, não tenho nenhum grupo e nunca convoquei ninguém para ir às ruas. Agradeço, de coração, essas pessoas que estão na rua apoiando o nosso governo. Agora, nós precisamos de uma retaguarda jurídica para que nosso policial possa bem trabalhar em se apresentando um crescente deste tipo de movimento que não tem nada a ver com democracia. Até, me desculpe aqui, uma parte da imprensa muito grande anunciava nosso pessoal como estando em movimento antidemocrático, do outro lado, o pessoal de preto, como movimento democrático", disse Bolsonaro.
Na mesma entrevista, o presidente citou a depredação em Curitiba e disse que não se pode deixar que episódios assim se alastrem pelo país.
"Não podemos deixar que o Brasil se transforme no que foi há pouco tempo o Chile. Não podemos admitir isso daí. Isso não é democracia nem liberdade de expressão. Isso, no meu entender, é terrorismo. A gente espera que este movimento não cresça, porque o que a gente menos quer é entrar em confronto com quem quer que seja", disse Bolsonaro.
Sobre as manifestações antirracistas que se espalharam por diversas cidades nos Estados Unidos depois que um policial branco matou um homem negro, Bolsonaro afirmou que, lá, o racismo é diferente.
"Estados Unidos: lá o racismo é um pouco diferente do Brasil. Está mais na pele. Então, houve um negro lá que perdeu a vida. Vendo a cena, a gente lamenta. Como é que pode aquilo ter acontecido? Agora, o povo americano tem que entender que, quando se erra, se paga. Agora, o que está se fazendo lá é uma coisa que não gostaria que acontecesse no Brasil. Logicamente que qualquer abuso você tem que investigar e, se for o caso, punir. Agora, este tipo de movimento, nós não concordamos", afirmou.
Bolsonaro também voltou a dizer que tem a intenção de desmembrar o Ministério da Segurança Pública do Ministério da Justiça, mas não quis se comprometer com data ou nome. Ele não garantiu a indicação do ex-deputado e seu amigo desde 1982 Alberto Fraga (DEM-DF).
"Não vou dizer que seja ele nem que não seja. Sou amigo do Fraga desde 1982. Ele está livre de todos os problemas que teve aí [processos judiciais], é um grande articulador. Ele é cotado aí, mas nada de bater o martelo não", declarou.
Na mesma entrevista, Bolsonaro disse não ter problema em prestar depoimento à Polícia Federal presencialmente no âmbito do inquérito que apura se houve interferência dele na instituição. Sem entrar em detalhes, afirmou que "coisas acontecerão". "Coisas acontecerão ao longo do caminho. Pode ter certeza. Mas não é nada contra a minha pessoa, muito pelo contrário."
Indagado sobre a que se referia, continuou enigmático. "Outras coisas. A Polícia Federal está trabalhando, senti que estão mais felizes", disse o presidente.
Nesta quarta-feira (3), também na porta do Palácio do Alvorada, ouviu um apoiador que se apresentou como policial militar do Rio de Janeiro reclamar do governador do estado, Wilson Witzel (PSC), e insinuou que o chefe do governo fluminense, seu adversário político, seria preso.
"Não vou conversar com o Witzel. Até porque brevemente já sabe onde ele deve estar, né?", indagou Jair Bolsonaro.
Na semana passada, Witzel foi alvo da Operação Placebo deflagrada pela Polícia Federal um dia após ser nomeado o novo superintendente da corporação no Rio, Tácio Muzzi. A representação da PF no estado está no centro de uma investigação autorizada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) que apura se o presidente buscava interferir politicamente em investigações da corporação.
A Polícia Federal fez buscas no Palácio das Laranjeiras, residência oficial em que mora o governador do Rio de Janeiro. A Polícia Federal apreendeu o aparelho de celular e o computador do governador.
A operação, autorizada pelo ministro Benedito Gonçalves, do STJ (Superior Tribunal de Justiça), mira um suposto esquema de desvios de recursos públicos destinados ao combate ao coronavírus no estado.
O inquérito no STJ foi aberto no último dia 13, com base em informações de autoridades de investigação do estado do Rio. Os mandados em cumprimento foram solicitados pela PGR (Procuradoria-Geral da República) na semana passada.
Segundo investigadores, a PF também buscou provas no Palácio da Guanabara, onde o chefe do Executivo fluminense despacha, em sua antiga casa, usada antes de se eleger, e em um escritório da mulher dele.
Ao todo, foram cumpridos mandados de busca e apreensão em 11 endereços. O governador seria ouvido nesta terça-feira, mas pediu para que o depoimento fosse adiado para que possa falar depois de ter acesso aos autos.
Em meio à operação, Witzel afirmou em nota que não cometeu irregularidades e apontou interferência de Bolsonaro na investigação. Ele apontou como evidência da interferência o fato de a deputada Carla Zambelli (PSL-SP) ter mencionado, um dia antes, ações iminentes da PF contra governadores.
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