Em meio ao imbróglio do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e as Forças Armadas acerca das urnas eletrônicas, o presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou nesta quarta-feira (11) a colocar em dúvida o sistema eleitoral, disse que "sabe o que está em jogo" e afirmou que o seu governo não aceita provocações. "Nós sabemos o que está em jogo. Todos sabem o que o governo federal defende: defende a paz, a democracia e a liberdade. Um governo que não aceita provocações, um governo que sabe da sua responsabilidade para com o seu povo", afirmou.
Na sequência, voltou a falar do sistema eleitoral: "Todos têm que jogar dentro das quatro linhas [da Constituição]. Nós não tememos resultados de eleições limpas. Nós queremos eleições transparentes, com a grande maioria, ou diria a totalidade do seu povo."
As declarações foram dadas durante visita do presidente à Expoingá, no Parque de Exposições de Maringá (460 km de Curitiba). A cidade é base eleitoral do deputado federal Ricardo Barros (PP), líder do governo na Câmara dos Deputados. No discurso, o presidente também defendeu a ampliação da posse e do porte de armas e afirmou que apenas ditadores temem o armamento da população civil. "Somente os ditadores temem o povo armado. Eu quero que todo cidadão de bem possua sua arma de fogo para resistir, se for o caso, à tentação de um ditador de plantão."
Bolsonaro ainda afirmou que o armamento civil pode ser um reforço para as Forças Armadas em caso de ameaças externas. "O Brasil tem uma área que é cobiçada por muitos países que é a região Amazônica. E para vocês, família brasileira, a arma de fogo é uma defesa da mesma e é um reforço para as nossa Forças Armadas porque o povo de bem armado jamais será escravizado".
Na sequência, afirmou que pior que uma ameaça externa é uma "ameaça interna de comunização" do país, citando a Venezuela como exemplo.
O presidente foi ovacionado pelo público quando discursou sobre armas. Outro momento em que foi bastante aplaudido foi quando disse que o governo dá títulos a assentados, enfraquecendo o MST.
Reportagem da Folha de S.Paulo mostrou que o modelo de distribuição de terras a camponeses pobres no governo Bolsonaro deu lugar a outro em que as verbas são minguantes, as desapropriações de terras e assentamentos de famílias quase não existem mais e o foco se resume a uma maratona de entrega de títulos de propriedade aos antigos beneficiários.
As declarações sobre armas e eleições foram feitas em meio à ampliação, por parte do presidente, de insinuações golpistas e ataques às urnas eletrônicas. Na semana passada, Bolsonaro sugeriu, em tom de ameaça, que os resultados de uma auditoria privada a ser realizada por uma empresa contratada por seu partido, o PL, podem complicar o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) se a for constatado que é "impossível auditar o processo".
Nesta semana, o TSE rejeitou novas sugestões das Forças Armadas sobre o processo eleitoral de 2022. O tribunal negou de forma assertiva 3 das 7 sugestões dos militares e disse que o restante já está em prática, ou seja, que não há o que mudar.
Em ofício enviado aos membros da Comissão de Transparência Eleitoral, órgão que tem uma cadeira para as Forças Armadas, o presidente do tribunal, ministro Edson Fachin, reafirmou que o pleito deste ano terá segurança. "A Justiça Eleitoral tem historicamente assegurado a realização de eleições íntegras em nosso país. O êxito e a credibilidade conquistados pela instituição nesta tarefa maior de promoção da democracia firmam esta Justiça especializada como verdadeiro patrimônio imaterial da sociedade brasileira", afirmou Fachin.
A equipe do TSE apontou que as Forças Armadas confundem conceitos e erram cálculos ao apontar risco de inconformidade em testes de integridades das urnas. O tribunal rejeitou alterar, na eleição deste ano, a forma de seleção das urnas que vão passar por este tipo de auditoria, apesar de reconhecer que a escolha pode mudar nos próximos pleitos.
O TSE ainda repetiu que não há "sala secreta" de totalização dos votos, um argumento repetido, sem provas, pelo presidente Bolsonaro. A equipe da corte eleitoral reafirma que já há mecanismos de reação caso alguma irregularidade na contagem dos votos seja detectada.
A escalada da tensão levou ministros que integram o TSE a discutir o encerramento das atividades da Comissão de Transparência das Eleições. O debate ainda é feito em conversas reservadas, como revelou a coluna Mônica Bergamo.
A comissão deveria servir como um antídoto aos ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral, mas os militares ganharam um protagonismo que jamais tiveram em outros pleitos desde a redemocratização do país. E, em vez de uma postura técnica e colaborativa, na visão de magistrados, passaram a tomar uma série de iniciativas para tentar tumultuar o processo eleitoral, alinhados com o discurso do presidente.
O próprio ministro Luís Roberto Barroso, que criou a comissão quando presidia o TSE, tornou pública a investida ao alertar, em um evento no exterior, no fim de abril, que as Forças Armadas estavam sendo orientadas "para atacar o processo eleitoral" e tentar "desacreditá-lo".
O presidente desembarcou em Maringá por volta das 15h e participou de uma motociata com apoiadores nas ruas da cidade. O ato começou às 16h, mas uma fila se formava na entrada do parque de exposições em Maringá antes das 14h, quando os portões seriam abertos. A feira, promovida pela Sociedade Rural de Maringá, liberou a entrada do público por ocasião da visita de Bolsonaro.
O filho 04, Renan Bolsonaro, fazia parte da comitiva, que contou ainda com o general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa, além dos deputados Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara, Sargento Fahur (PSD-PR), que foi bastante assediado pelo público, assim como Filipe Barros (PSL-PR), relator da PEC do voto impresso.
O presidente ainda culpou a guerra na Ucrânia e governadores que tomaram medidas de distanciamento contra o coronavírus pela escalada da inflação. E, dirigindo-se à comunidade ucraniana do Paraná - concentrada na região de Prudentópolis, não no norte do Paraná - disse que o governo, "mesmo em silêncio", atua para que a paz seja restabelecida no país.
Antes de discursar, Bolsonaro assinou a ordem de serviço para construção do contorno sul de Maringá. Depois, participou de uma cerimônia de descerramento de uma placa em sua homenagem e andou a cavalo, como fez em outras feiras agropecuárias, em um campo de hipismo. Antes da chegada do presidente, um telão dentro do parque de exposições exibia imagens de atos em apoio a Bolsonaro. Depois que ele chegou, o telão da Expoingá exibiu a frase "O Mito chegou!".
Na plateia, apoiadores carregavam bandeiras do Brasil e vestiam camisetas em apoio a Bolsonaro. Alguns pais levaram seus filhos.
Bolsonaro já visitou outras feiras agropecuárias neste ano. Há pouco mais de um mês, em 8 de abril, ele esteve na ExpoLondrina (PR), em Londrina, cidade a cerca de 100 km de Maringá. Na ocasião, deu voltas a cavalo em uma arena de rodeio.
Em 25 de abril o presidente foi à Agrishow, onde chegou montado também em um cavalo, apesar de não haver animais em exposição na feira realizada em Ribeirão Preto (SP) - o evento tem como foco maquinários agrícolas de alta tecnologia. Ele ainda participou da abertura da ExpoZebu, em Uberaba (MG), em 30 de abril, feira focada em pecuária bovina. Apesar de não ter o tamanho das demais, a Expoingá é uma das mais tradicionais feiras agropecuárias do país. Neste ano, está na 48ª edição.
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