O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou, nesta quarta-feira (3), que a líder indígena Txai Suruí foi à COP26 para "atacar o Brasil".
A ativista de 24 anos fez história ao discursar na abertura da reunião global do clima da ONU, na segunda-feira (1º) em Glasgow.
Diante dos olhos do mundo e na presença de líderes como o britânico Boris Johnson, Suruí defendeu a participação dos povos indígenas nas decisões da cúpula do clima e lembrou o assassinato do amigo Ari Uru-Eu-Wau-Wau.
Bolsonaro não participou da reunião de líderes internacionais na COP26.
Em conversa com apoiadores nesta quarta, Bolsonaro não citou Suruí nominalmente.
"Estão reclamando que eu não fui para Glasgow. Levaram uma índia para lá –para substituir o [cacique] Raoni– para atacar o Brasil. Alguém viu algum alemão atacando a energia fóssil da Alemanha? Alguém já viu atacando a França porque lá a legislação ambiental não é nada perto da nossa? Ninguém critica o próprio país. Alguém viu o americano criticando as queimadas lá no estado da Califórnia. É só aqui", queixou-se Bolsonaro, em frente ao Palácio da Alvorada.
Em seu discurso na COP26, a ativista ressaltou os efeitos do aquecimento global e mencionou o assassinato de defensores do meio ambiente.
"Hoje o clima está esquentando, os animais estão desaparecendo, os rios estão morrendo, nossas plantações não florescem como antes. A Terra está falando. Ela nos diz que não temos mais tempo", disse.
"Enquanto vocês estão fechando os olhos para a realidade, o guardião da floresta Ari Uru-Eu-Wau-Wau, meu amigo de infância, foi assassinado por proteger a natureza", afirmou Suruí. "Os povos indígenas estão na linha de frente da emergência climática, por isso devemos estar no centro das decisões que acontecem aqui."
O relatório mais recente da ONG Global Witness aponta que o Brasil é o 4º país com mais assassinatos de defensores ambientais. Os dados apontam para mais de 70% dos casos na Amazônia e metade deles tendo como alvo povos tradicionais indígenas e ribeirinhos.
Suruí é filha de Almir Suruí, 47, uma das lideranças indígenas mais conhecidas do país e duro crítico do governo Jair Bolsonaro (sem partido).
Por causa dessas críticas, foi perseguido. No final do ano passado, o presidente da Funai, Marcelo Xavier, pediu à Polícia Federal a abertura de um inquérito para investigar "crime de difamação" que teria sido cometido por duas associações ligadas a seu pai.
O motivo foram críticas à atuação do órgão indigenista federal no combate à Covid-19. O caso, revelado pelo UOL, acabou arquivado em maio.
Durante seu discurso na Assembleia-Geral da ONU em 2019, Bolsonaro criticou o cacique Raoni Metuktire, outra liderança indígena crítica a seu governo.
"A visão de um líder indígena não representa a de todos os índios brasileiros. Muitas vezes alguns desses líderes, como o Cacique Raoni, são usados como peça de manobra por governos estrangeiros na sua guerra informacional para avançar seus interesses na Amazônia", declarou Bolsonaro na ocasião.
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