O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) encerra nesta sexta-feira (10) o tratamento com a hidroxicloroquina, medicamento cuja eficácia contra o novo coronavírus não tem confirmação científica, mas que vem sendo defendido pelo mandatário desde o início da pandemia.
Aparentando disposição, Bolsonaro, que está com Covid-19, realizou sua live semanal nesta quinta-feira (9). Sem máscara, tossiu ao menos duas vezes - houve falhas técnicas que interromperam a transmissão em um determinado momento. Foi possível ouvir as vozes de dois homens, indicando que o presidente não estava só.
"Estou sozinho hoje, tendo em vista eu estar infectado pelo vírus. Não tem ninguém aqui na sala, a dez metros de distância tem um cara aqui na sala, então, não tem problema de estar contaminando ninguém aqui, para evitar, inclusive, críticas", afirmou, antes de ser possível ouvir as vozes por trás da câmera.
Sobre a mesa, ele tinha uma caixa de hidroxicloroquina, que voltou a divulgar.
"Estão dizendo que estou fazendo propaganda da hidroxicloroquina. Não tenho nenhum negócio com esta empresa", disse o presidente.
O presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, escreveu nesta terça-feira (7) que Bolsonaro deveria ser remunerado pelo seu trabalho de divulgação da cloroquina.
"Quem não quiser tomar cloroquina que não tome. Agora, não fique aí querendo proibir as pessoas que, porventura, queiram tomar, uma vez contaminadas e depois de uma recomendação médica, o façam", afirmou Bolsonaro.
Em dois momentos da live, lamentou não estar acompanhado de algum ministro, como sempre acontece em suas transmissões, e disse que isso deve se repetir na próxima semana.
"Me desculpa aqui não poder interagir com vocês. Nem na semana que vem vai ser possível porque eu acho que não vou estar ainda completamente livre do vírus, então, não vou ter ninguém do meu lado aqui", disse Bolsonaro, dirigindo-se aos apresentadores de um programa de rádio que costumam interagir com o presidente durante as suas transmissões.
Bolsonaro começou a tomar a cloroquina na segunda-feira (6), um dia antes do resultado do exame que constatou que ele tem Covid-19.
Por causa dos efeitos colaterais do medicamento, Bolsonaro tem feito três avaliações por dia. De acordo com um integrante da equipe médica que acompanha o presidente, o mandatário estava bem nesta quinta e não apresentou nenhum efeito colateral ao remédio.
No início da noite, a Secretaria Especial de Comunicação Social informou que Bolsonaro evoluía bem, sem intercorrência.
"Ele apresenta boas condições de saúde e continua sendo acompanhado, conforme rotina, pela equipe médica da Presidência da República", disse o comunicado.
Bolsonaro rotineiramente defende o uso do medicamento. Na quarta-feira (8), disse que viveria por muito tempo.
"Aos que torcem contra a hidroxicloroquina, mas não apresentam alternativas, lamento informar que estou muito bem com seu uso e, com a graça de Deus, viverei ainda por muito tempo."
Na tarde de terça, após divulgar que está com Covid-19, Bolsonaro publicou um vídeo nas redes sociais em que toma uma dose da droga e afirma que "com toda certeza" o tratamento para o novo coronavírus "está dando certo". "Eu confio na hidroxicloroquina, e você?".
Desde o início da pandemia, o presidente entrou em sintonia com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na defesa do uso da hidroxicloroquina associada à azitromicina como solução para o avanço da doença.
Nenhum estudo científico até o momento, entretanto, confirmou a eficácia do remédio, que pode causar danos colaterais graves.
Mesmo assim, Bolsonaro pressionou o Ministério da Saúde até a pasta aderir a protocolo de tratamento à Covid-19 com o remédio não só para casos graves, mas também para pessoas com sintomas leves da doença.
O presidente determinou, inclusive, que as Forças Armadas ajudassem na produção do remédio. O Laboratório Químico e Farmacêutico do Exército já gastou mais de R$ 1,5 milhão para ampliar, em cem vezes, sua produção de cloroquina.
A ampliação da produção entrou na mira do Tribunal de Contas da União, que quer saber se houve superfaturamento nas compras do produto e se houve má aplicação de recursos públicos por Bolsonaro ao determinar a ampliação da produção sem comprovação científica adequada.
O laboratório do Exército firmou ao menos 18 contratos para comprar a cloroquina em pó e outros insumos de fabricação, como papel alumínio e material de impressão, ao custo total de R$ 1,5 milhão, segundo cálculos feitos pela Repórter Brasil com base no portal de compras do governo federal. Quase 95% dos gastos foram para a compra de 1.414 kg de cloroquina em pó.
As compras, sem licitação, fazem parte das ações de enfrentamento à pandemia. Os recursos vieram do Tesouro Nacional e foram repassados ao laboratório pelo Ministério da Defesa.
Na quarta-feira, o secretário de vigilância em saúde do Ministério da Saúde, Arnaldo Correia foi questionado por jornalistas sobre o fato de Bolsonaro ter dito que começou a tomar hidroxicloroquina antes de saber o resultado do exame, o que contraria parecer do Conselho Federal de Medicina (CFM). O secretário não respondeu à pergunta.
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