O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) reagiu nesta terça-feira (10) a articulações que buscam uma alternativa ao seu nome nas eleições de 2022 e afirmou que não surgirá um "líder pronto" em dois anos.
O mandatário também disse que quem pensa que "ele tem tesão" pela cadeira de presidente está "equivocado".
Como a Folha de S.Paulo revelou no domingo (8), no dia 30 de outubro, o apresentador Luciano Huck foi a Curitiba para se encontrar com Moro e discutir a intenção de construir uma "terceira via" para a sucessão de Bolsonaro.
O governador de São Paulo, João Doria, também mantém diálogo com o ex-juiz. Outro nome que os articuladores da aliança também querem atrair é o do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta.
"Não teremos um líder feito no Brasil de dois anos, não vai aparecer. A não ser montado na grana, comprando um tantão de coisa por aí, em especial os marqueteiros. Fora isso não terão outros líderes num curto espaço de tempo", afirmou Bolsonaro nesta terça.
A declaração foi dada em uma solenidade no Palácio do Planalto sobre ações para a retomada do turismo. No evento, Bolsonaro defendeu o combate ao coronavírus sem tornar rígido o isolamento e disse que é preciso agir agora porque "depois não terão oportunidade".
Bolsonaro deu a declaração ao lembrar da derrota de Maurício Macri na Argentina para Alberto Fernandez, que tem Cristina Kirchner como vice e lembrou de outros governo na América do Sul que voltaram ou permaneceram alinhados à esquerda.
"Então, pessoal, nós temos que buscar mudanças, não teremos outra oportunidade. Aí vem uma turminha aí falar de ah, 'queremos o centro', 'nem ódio para cá, nem ódio para lá', ódio é coisa de maricas, pô", afirmou.
O presidente afirmou que a vida dele na presidência é "uma desgraça", "problema o tempo todo", disse que sua cadeira "está à disposição", mas afirmou ver pessoas articulando para ocupar seu lugar no Planalto.
Bolsonaro ainda disse que não há um sistema sólido no Brasil e que por isso "no futuro", "tudo" poderia mudar "por fraudes", em referência ao processo eleitoral e à vitória de candidatos de esquerda na América Latina.
"O Brasil não pode ir para esse lado (da esquerda), meu Deus do céu. Minha cadeira está à disposição. (...) Eu vejo pessoas articulando para chegar lá não pelos seus méritos, mas criticando, falando mal, falando besteira o tempo todo, mentindo, provocando, caluniando, perseguindo meus familiares o tempo todo", reclamou.
"Não querem chegar pelos seus méritos, querem derrubar quem está lá. Quem acha que eu tenho tesão naquela cadeira está completamente equivocado", continuou, sem citar nomes.
O ex-ministro Sergio Moro (Justiça), que participa da articulação por uma via alternativa a Bolsonaro em 2022 é hoje um dos principais adversários do presidente.
Para o mandatário, o ex-juiz, que era responsável pela Lava Jato, sempre teve interesses eleitorais e buscava se cacifar para sucedê-lo em 2020.
A saída de Moro do governo foi conturbada. O ex-magistrado deixou o governo em abril deste ano e fez uma série de acusações contra Bolsonaro, alegando que o presidente tentou interferir na troca de diretores da Polícia Federal, principalmente no Rio de Janeiro, para favorecer sua família.
O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) é investigado por suspeita de ter abrigado um esquema de 'rachadinha' em seu gabinete como deputado estadual pelo Rio, em que um funcionário tinha de repassar parte do salário ao parlamentar, e por lavagem de dinheiro.
As acusações de Moro deram origem a um inquérito que corre no Supremo Tribunal Federal por suposta tentativa de interferência na PF.
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