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Bolsonaro diz que pode descartar aumento de ministros do STF se corte 'baixar temperatura'

Bolsonaro diz que pode descartar aumento de ministros do STF se corte 'baixar temperatura'

Presidente fez apelo ao TSE para que não derrube conta de aliados: "Eu ia entrar na guerra e, em vez de fuzil e canhão, com pau e pedra"

Publicado em 9 de outubro de 2022 às 18:19

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JOÃO GABRIEL, RENATO MACHADO E PAULA SOPRANA

João Gabriel, Renato Machado e Paula Soprana

BRASÍLIA E SÃO PAULO - O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou, neste domingo (9), que deve decidir sobre a proposta de aumento do número de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) após as eleição e que ela vai depender da "temperatura" na corte.

Em entrevista para um canal no YouTube, Bolsonaro fez as contas dos ministros que pode ter a seu favor caso seja reeleito. Seriam os dois já indicados por ele, Kassio Nunes Marques e André Mendonça, mais dois que entrariam no próximo mandato, após a aposentadoria de Rosa Weber e Ricardo Lewandowski.

O mandatário foi questionado especificamente por um dos entrevistadores sobre a proposta de aumentar a composição do STF, que tem 11 ministros atualmente. Disse que já recebeu essa sugestão, mas que vai decidir depois das eleições.

Presidente Jair Bolsonaro em Nova York
Presidente Jair Bolsonaro. (Alan Santos / PR)

"Se eu for reeleito, e o Supremo baixar um pouco a temperatura, já temos duas pessoas garantidas lá (Kassio Nunes Marques e André Mendonça), tem mais gente que é simpática à gente, mas já temos duas pessoas garantidas lá, que são pessoas que não dão voto com sangue nos olhos, tem mais duas vagas para o ano que vem, talvez você descarte essa sugestão", afirmou o presidente ao canal Pilhado.

"Se não for possível descartar, você vê como é que fica. Você tem que conversar com o Senado também a aprovação de nomes. Você tem que conversar com as duas Casas (sobre) a tramitação de uma proposta nesse sentido", disse Bolsonaro.

"E está na cara que muita gente do Supremo vai para dentro da Câmara e do Senado (com posição) contrária (à proposta), porque se você aumenta o número de ministros do Supremo, você pulveriza o poder deles. Eles passam a ter menos poder, e lógico que não querem isso", completou, na entrevista que teve mais de quatro horas de duração.

O presidente teve um ambiente bastante amigável durante o podcast, com ambos os entrevistadores manifestando voto em Bolsonaro e repetindo mantras bolsonaristas, como críticas ao Judiciário, à imprensa e críticas à "ideologia de gênero".

Um deles, Paulo Figueiredo, é neto do último ditador do regime militar, o ex-presidente João Baptista Figueiredo (1918-1999). O comentarista louvou em alguns momentos o governo de seu avô, como a política habitacional.

Bolsonaro repetiu em diversos momentos acusações aos ministros do Supremo, embora não tenha usado desta vez palavras de baixo calão. Disse novamente ser perseguido e voltou a citar a determinação do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que o proibiu de realizar lives dentro do Palácio do Alvorada.

"Os caras têm lado político, os caras decidem. Qualquer ação no Supremo, TSE, dá ganho de causa para o outro lado. Não tem isenção nisso tudo", afirmou, dizendo que no Palácio as lives custam apenas centavos.

O candidato também fez um apelo para que a corte eleitoral não derrube a rede de influenciadores e políticos que faz propaganda intensa a ele pelo Twitter. O time jurídico do PT vem estudando os principais perfis pró-Bolsonaro e entrou no TSE com uma representação cobrando a rede social pela disseminação de fake news por essas contas.

A lista de mais de 30 nomes inclui os filhos Carlos e Flávio Bolsonaro, sendo o primeiro o líder da campanha do pai na internet, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), o deputado federal Ricardo Salles (PL-SP), a produtora Brasil Paralelo e influenciadores como Kim Paim e Bárbara Destefani.

"Peço que nosso querido TSE não embarque nessa porque se tirar o pessoal lá e eu nada fizer aqui é você mandar um batalhão para a guerra e no meio do caminho você tira os canhões dele. É nessa situação que eu fico aqui. Eu ia entrar na guerra e, em vez de fuzil e canhão, com pau e pedra, vou perder essa guerra", afirmou, referindo-se ao segundo turno.

O presidente depois acrescentou: "É impossível eu governar mais quatro anos com o Supremo fazendo ativismo judicial". Em outro momento, afirmou: "(o STF) condena santos e liberta capetas".

O presidente usou a palavra santo, em particular, para se referir ao deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), condenado por ameaças e incitação à violência contra ministros da corte.

O presidente também disse que, em caso de reeleição, terá muito mais facilidade para aprovar medidas de seu interesse no Congresso, por ter fortalecido a sua bancada.

Bolsonaro criticou o uso pela campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de entrevista na qual afirma que comeria um índio. Disse que a menção ao canibalismo teria o intuito de amedrontar a população. A declaração associada ao canibalismo foi dada por Bolsonaro em entrevista ao jornal The New York Times.

O chefe do Executivo ainda acusou seus opositores de jogo sujo ao afirmarem que o senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) se tornaria ministro da Previdência em eventual segundo governo e que iria confiscar a aposentadoria das pessoas.

Ele se referia especificamente ao deputado federal André Janones (Avante-MG), apoiador de Lula, a quem descreveu como "mal tremendo à nação".

Bolsonaro aproveitou para negar ter feito uma associação entre analfabetismo no Nordeste e vitória de Lula na região. Na quarta (5), ele disse: "Lula venceu em 9 dos 10 estados com maior taxa de analfabetismo. Você sabe quais são esses estados? No nosso Nordeste".

No podcast neste domingo, ele também minimizou o desempenho do ex-presidente entre os nordestinos e, sem provas, lançou dúvidas sobre o resultado das urnas.

"Falam muito que o Nordeste é reduto do PT, [mas] no meu entender não é mais reduto do PT. Tem voto lá o PT, tem. Mas não a esse ponto. Não teve festa na Bahia com o Lula com dois terços do voto para o lado dele. Não justifica isso. Então, foi bastante esquisito esse resultado", afirmou.

Bolsonaro também foi questionado sobre a manutenção do ministro da Economia, Paulo Guedes. Ele respondeu: "Se depender de mim, todos ficam". Antes que pudesse aprofundar a resposta, foi interrompido, e o assunto, deixado de lado.

Bolsonaro já havia declarado que, se Guedes quisesse, permaneceria no cargo em eventual novo governo. No entanto, deixou margem para dúvidas na última semana ao evitar responder uma pergunta direta sobre o assunto.

O presidente também ironizou o apresentador William Bonner, do Jornal Nacional. Ele reclamou do fato de o jornalista ter dito em sabatina na TV Globo que Lula não devia mais nada à Justiça, após ter a condenação contra ele anulada pelo STF.

"(Ele) tem muita chance de ir para o Supremo Tribunal Federal. Porque você não precisa sequer ser advogado. Tem que ter conhecimento jurídico. E o Bonner demonstrou conhecimento jurídico", ironizou.

Bolsonaro passa o domingo em Brasília após viagem no fim de semana. No sábado (8), o presidente participou das festividades do Círio do Nazaré, em Belém, mas ficou isolado.

Ao retornar a Brasília, no fim da tarde, o presidente foi direto para o estádio nacional Mané Garrincha, onde posou para fotos com a dupla Henrique e Juliano.

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