Auxiliares de Jair Bolsonaro (sem partido) aconselharam o presidente a não comentar a prisão do deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) para evitar escalar ainda mais a crise entre os Poderes
Até o final da tarde desta quarta-feira (17), Bolsonaro não havia dado qualquer declaração pública sobre a detenção de Silveira, que num vídeo ofendeu ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e fez apologia ao AI-5. Ele é membro da tropa de choque do bolsonarismo na Câmara.
Segundo interlocutores, Bolsonaro e integrantes da ala ideológica ficaram contrariados com a prisão ordenada pelo STF, principalmente por ela ter sido feita com base num vídeo publicado nas redes sociais.
Eles temem que a medida abra brecha para novas punições de bolsonaristas mais radicais, que têm um histórico de defesa da ditadura militar e de ataques ao Supremo.
No entanto, o presidente foi orientado a permanecer distante, sob o argumento de que Silveira não é membro do governo e que o tema é da alçada do Judiciário e do Legislativo.
Um aliado de Bolsonaro argumenta que qualquer posicionamento sobre o assunto transformaria o problema numa confrontação entre os Três Poderes, com potencial de contaminar as prioridades do governo no Legislativo.
Ele lembra que o Planalto precisa fazer avançar uma série de pautas no Congresso de olho na reeleição de Bolsonaro em 2022. Com uma janela legislativa de pouco mais de um ano, o presidente não pode desperdiçar capital político numa guerra aberta com o Judiciário e membros do Legislativo. Além do mais, assessores de Bolsonaro opinaram que provavelmente a Câmara revogará a prisão, embora Silveira deva receber algum tipo de punição.
Auxiliares no Palácio do Planalto ressalvam, porém, que Bolsonaro é imprevisível e não descartam que ele resolva fazer algum tipo de manifestação crítica à prisão de Silveira.
A hipótese não é descartada porque o presidente tem sido pressionado por simpatizantes nas redes sociais a defender o parlamentar.
Além do presidente, seus filhos Eduardo (PSL-SP) e Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) também estiveram em silêncio público sobre a prisão de Silveira. Eduardo é deputado federal e Flávio, senador.
O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), também filho do presidente, foi o único que fez alguma manifestação nas redes. Sem citar Silveira, ele escreveu na manhã desta quarta: "Sinto meu estômago embrulhado como não sentia há tempos!"
Silveira foi preso na noite desta terça-feira (16) por ordem do ministro Alexandre de Moraes, decisão que foi referendada nesta quinta-feira (17), por unanimidade, pelo plenário do STF. Ele é alvo de dois inquéritos na corte --um apura atos antidemocráticos e o outro, fake news.
Moraes é relator de ambos os casos, e a ordem de prisão contra o deputado bolsonarista foi expedida na investigação sobre notícias falsas. Por se tratar da prisão de um deputado federal, a decisão precisará passar pelo crivo do plenário da Câmara, que tem o poder de derrubá-la.
Desde o início de seu governo, o presidente da República protagonizou episódios de confrontação com a Suprema Corte.
Indicado no ano passado por Bolsonaro para integrar o tribunal, Kassio Nunes Marques também votou com os demais dez ministros do STF pela manutenção da prisão de Silveira. Em 2021, o presidente deverá indicar mais um integrantes para a corte, devido à aposentadoria de Marco Aurélio Mello.
Em 2020, Bolsonaro prestigiou pessoalmente manifestações antidemocráticas em que os participantes pediam o fechamento do tribunal.
Em maio do ano passado, um dia depois de uma operação policial ordenada pelo STF contra empresários, ativistas e políticos bolsonaristas, o presidente disparou queixas contra a corte.
"Não teremos outro dia como ontem, chega", disse na ocasião, após a Polícia Federal cumprir 29 mandados de busca e apreensão no chamado inquérito das fake news, mirando especialmente aliados do presidente da República. "Querem tirar a mídia que eu tenho a meu favor sob o argumento mentiroso de fake news."
Em outro trecho, Bolsonaro afirmou ter em mãos as "armas da democracia". E disse que "ordens absurdas não se cumprem" e que "temos que botar limites".
Nos últimos meses o tom belicoso de Bolsonaro contra as instituições foi substituído por um discurso mais moderado.
Ele tem evitado entrar em confronto direto com ministros do STF e também se aproximou do grupo de partidos no Congresso conhecido como centrão --apesar de ter sido eleito numa plataforma crítica à velha política e à distribuição de cargos por apoio político.
A aliança foi selada com a eleição, no início de fevereiro, do deputado Arthur Lira (PP-AL) para a presidência da Câmara, líder do centrão que contou com o apoio do Planalto.
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