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Bolsonaro fala em 80% de chance de deixar PSL

Bolsonaro fala em 80% de chance de deixar PSL

O presidente afirmou que seu sonho seria criar um partido até março e ter cerca de 200 candidaturas pelo país nas eleições municipais do ano que vem

Publicado em 4 de novembro de 2019 às 11:10

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Presidente da República, Jair Bolsonaro. ( José Dias/PR)

O presidente Jair Bolsonaro afirmou que, numa escala de 0 a 100, é de 80% a probabilidade de que saia de seu partido, o PSL. E, nesse caso, há 90% de chance de que funde um novo partido. A  declaração foi dada em entrevista ao programa Domingo Espetacular, da TV Record, exibida na noite deste domingo (3).

"Eu pago a conta sobre qualquer desvio de terceiro no partido. E a mesma coisa acontece no tocante a fundo partidário", afirmou Bolsonaro, que trava embate com o presidente nacional da sigla, o deputado Luciano Bivar (PE).

A crise do presidente com seu partido vem se alastrando na esteira das denúncias sobre o esquema de candidaturas laranjas nas eleições de 2018 e ganhou proporções ainda maiores quando foi revelado um áudio do deputado Delegado Waldir (GO) chamando Bolsonaro de "vagabundo".

"Quero que o partido não tenha problema nas eleições municipais do ano que vem e numa possível reeleição minha em 2022."

Segundo Bolsonaro, ou ele passa a ter o comando das ações no partido ou pode vir a sair da sigla. Sobre esta última possibilidade, numa escala de 0 a 100, declarou: "80% pra sair e 90% pra criar um novo partido. Que vai começar do zero. Sem televisão, sem fundo partidário, sem nada".

Bolsonaro afirmou que seu sonho seria criar um partido até março e ter cerca de 200 candidaturas pelo país nas eleições municipais do ano que vem.

Na entrevista, o presidente voltou a atacar a TV Globo e ao governador do Rio, Wilson Witzel (PSC-RJ), por conta da reportagem do Jornal Nacional, divulgada no dia 29, que relacionava seu nome à investigação dos assassinatos da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes.

Segundo depoimento do porteiro do condomínio de Bolsonaro, obtido pelo telejornal, Élcio Queiroz, principal suspeito do crime, teria pedido para ir à casa de Bolsonaro no dia dos assassinatos. Os registros de presença da Câmara dos Deputados, no entanto, mostram que Bolsonaro estava em Brasília nesse dia.

No dia seguinte à exibição da reportagem, o Ministério Público do Rio de Janeiro disse que o porteiro deu informação falsa ao citar Bolsonaro. 

Na entrevista, Bolsonaro disse que o advogado geral da União já determinou que o procurador-geral tome depoimento do porteiro, bem como dos servidores públicos, no caso o delegado da Polícia Civil, para esclarecer o que ocorreu.

"Não pode uma emissora como a Globo jogar um balde de água suja sobre mim e depois ficar por isso mesmo. A Rede Globo tem que explicar quem é que vazou um processo que corria em segredo de Justiça."

"É um jornalismo sujo por parte da TV Globo. Inclusive eu os tenho desafiado. 'TV Globo, me dá espaço de 15 minutos ao vivo no Jornal Nacional'.Para explicar isso e mais coisas. Obviamente, vou cobrar de vocês quem vazou isso para vocês'", acrescentou. 

Bolsanaro também voltou a insinuar que as informações do processo teriam sido vazadas pelo governador Witzel. "Ele tem usado a máquina pública para me perseguir."

Sobre as declarações de seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), sobre um novo AI-5, uma das mais repressoras medidas da ditadura militar no país, o presidente afirmou que ele está protegido pela imunidade parlamentar.

"Para que serve o artigo 53 da Constituição? Lá está escrito que os senadores e deputados são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer palavras, opiniões e votos. Ponto final. Eu puxei a orelha dele, porque falou em AI-5. Mas o pessoal aproveita, qualquer coisa que a gente faz, potencializam."

Bolsonaro também disse que os filhos não atrapalham seu governo. 

"Eles têm me ajudado muito a identificar pessoas que não estão na nossa linha. Acontece. Algumas exonerações foram feitas no passado. Ninguém vive dentro do Palácio dizendo o que tenho que fazer."  

"O Brasil mudou", completou o presidente. "Há até pouco tempo, era um país onde a família não existia. Onde a ideologia de gênero era uma marca. Onde meritocracia também não existia. Mudou. Hoje o presidente respeita o Estado laico, mas é cristão. É um presidente, um governo, que respeita a família. Se alguém não estiver nessa linha, vai esperar no futuro o PT voltar."

VAZAMENTO

A respeito do vazamento de óleo no litoral brasileiro, afirmou que todos os indícios levam a crer que a responsabilidade é do navio grego Bouboulina,  da empresa Delta Tankers. 

"A notícia ruim: o que foi recolhido é uma pequena quantidade do que foi derramado. Então o pior ainda está por vir. Nós temos um anúncio de uma catástrofe muito maior que está a ocorrer por causa desse vazamento que, pelo que tudo parece, foi criminoso."

À noite deste domingo (3), Bolsonaro foi ao jogo Itália X Paraguai, pela Copa do Mundo Sub-17, e voltou a falar sobre o caso Marielle quando abordado por jornalistas ao cumprimentar torcedores paraguaios.

Bolsonaro disse que quem diz que ele tenta obstruir as investigações "não tem o que fazer" e negou que tenha pegado a gravação com os áudios da portaria do condomínio.

"O que eu fiz foi filmar a secretária eletrônica com a respectiva voz de quem atendeu o telefone. Só isso, mais nada. Não peguei, não fiz backup, não fiz nada. E a memória da secretária eletrônica está com a Polícia Civil há muito tempo. Ninguém quer adulterar nada não", afirmou Bolsonaro.

ADULTERAÇÃO

No sábado (2), Bolsonaro havia dito que "nós pegamos antes que fosse adulterado, pegamos lá toda a memória da secretária eletrônica, que é guardada há mais de anos, a voz não é minha".

Neste domingo, ele criticou quem relaciona o nome dele ao caso do assassinato da vereadora e do motorista dela. "Caso Marielle, eu quero resolver também. Mas querer botar no meu colo é, no mínimo, má fé e falta de caráter", afirmou Bolsonaro.

Na semana passada, após ser atacada por Bolsonaro pela reportagem sobre o caso Marielle, a Globo afirmou em nota lamentar que o presidente demonstre "não conhecer a missão do jornalismo de qualidade e use termos injustos para insultar aqueles que não fazem outra coisa senão informar com precisão".

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"[A reportagem] ressaltou, com ênfase e por apuração própria,  que as informações do porteiro se chocavam com um fato: a presença do então deputado Jair Bolsonaro em Brasília, naquele dia, com dois registros na lista de presença em votações", afirmou.

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