O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a afirmar, nesta terça-feira (17), que existe uma "histeria" em relação à crise do coronavírus e disse que fará uma "festinha tradicional" para celebrar seus 65 anos.
O presidente faz aniversário neste sábado (21). Especialistas em saúde recomendam evitar aglomerações e reduzir o contato social para fazer frente à crise sanitária.
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"Eu faço 65 [anos] daqui a quatro dias", disse, em entrevista à rádio Super Tupi. O apresentador do programa em seguida lhe pergunta: "vai ter bolo presidente?" "Vai ter uma festinha tradicional aqui. Até porque eu faço aniversário dia 21 e minha esposa dia 22. São dois dias de festa aqui", acrescentou. "Emenda, dia 21, próximo de meia-noite ela minha cumprimenta; logo depois eu a cumprimento".
Além da falar que realizará o evento para o seu aniversário, Bolsonaro afirmou que medidas adotadas por governadores para conter o Covid-19 vão prejudicar muito a economia.
"Esse vírus trouxe uma certa histeria. Tem alguns governadores, no meu entender, posso até estar errado, que estão tomando medidas que vão prejudicar e muito a nossa economia", declarou.
"A vida continua, não tem que ter histeria. Não é porque tem uma aglomeração de pessoas aqui e acolá esporadicamente [que] tem que ser atacado exatamente isso. [É] tirar a histeria. Agora, o que acontece? Prejudica", acrescentou.
Diferentes governadores adotaram nos últimos dias medidas para diminuir a circulação de pessoas em seus estados, numa tentativa de diminuir a velocidade de disseminação do vírus.
À rádio, o presidente questionou ainda o fechamento de feiras e outros pontos que concentram atividade econômica. "Eu vi aí, não sei se é verdade, que a nossa Feira dos Nordestinos está proibida de funcionar. Isso é uma histeria. Porque o cara não vai na Feira do Nordestino, ele vai na esquina ali comer um churrasquinho de gato num outro lugar qualquer para se juntar. O cara não vai ficar em casa. Então essa histeria leva a um baque da economia", disse.
"Quando você proíbe o jogo de futebol, o cara que vende o chá-mate ali na arquibancada, o cara que guarda o carro lá fora, perdeu o seu emprego. Ele, que já não vive muito bem, porque está na informalidade, vai ficar sem um ganha-pão e vai continuar se virando, correndo atrás de ganhar a vida em outro [lugar], continuar transitando no meio da população como um todo. E vai ter mais dificuldade, e em tendo mais dificuldade come pior; acaba não comendo adequadamente, ele fica mais debilitado. Em o coronavírus chegando nele, tem uma tendência maior de ocupar um leito hospitalar", detalhou.
Apesar de em diferentes momentos Bolsonaro ter minimizado os efeitos do Covid-19, ele declarou que é preciso "diluir" a incidência do vírus ao longo do tempo, para não sobrecarregar os sistemas de saúde. "Uma nação, o Brasil por exemplo, só será livre desse vírus, do coronavírus aí, quando um certo número de pessoas for infectada e criar anticorpos, que passam a ser barreira para não infectar quem não foi infectado ainda", disse.
"Como [o vírus] está vindo, tem que ser diluído. Em vez de uma parte da população ser infectada num período de dois, três meses, que seja entre seis, sete, oito meses. Porque havendo um pico de pessoas com problema, e geralmente ataca quem tem mais idade ou quem tem algum tipo de problema de saúde, aí passa a ser mais grave", concluiu.
No último domingo (15), Bolsonaro ignorou orientações dadas por ele mesmo na semana passada, ao estimular e participar dos protestos pró-governo sem demonstrar preocupação com a crise do coronavírus.
Bolsonaro incentivou os atos desde cedo em suas redes sociais -foram ao menos 42 postagens sobre o tema. Sem máscara, participou das manifestações em Brasília, tocando simpatizantes e manuseando o celular de alguns apoiadores para fazer selfies. "Isso não tem preço", disse, durante transmissão ao vivo em suas redes sociais.
No último domingo, ocorreram manifestações em diferentes pontos do país com gritos de guerra e faixas em defesa do governo federal e com uma série de ataques ao Congresso e ao STF (Supremo Tribunal Federal).
Bolsonaro foi duramente criticado por parlamentares. Os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre, divulgaram notas condenado o comportamento do presidente da República que, até mesmo ignorando recomendações médicas, foi até o local do protesto.
Também no domingo, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse que a orientação para evitar aglomerações como forma de reduzir a transmissão do novo coronavírus vale para todo mundo, inclusive para o presidente. "É ilegal? Não. Mas a orientação é não. E continua sendo não para todo mundo."
Segundo Mandetta, as pessoas precisam tomar medidas agora para tentar diminuir os impactos da doença causada pelo novo coronavírus. "As pessoas olham e falam: 'Ah, mas o metrô está funcionando'. Se todo mundo continuar fazendo tudo, vai chegar uma hora em que o metrô vai ter que parar de funcionar", afirma. ?
"Todo mundo tem que fazer sua parte. Quem não está em transmissão sustentada hoje, daqui a uma semana pode estar, daqui a duas vai estar."
Sobre o comportamento de Bolsonaro, a deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP) afirmou que o presidente deve sair do cargo após ter contrariado seu próprio ministro da Saúde e, em meio à pandemia de coronavírus, ter tocado em apoiadores durante manifestação a seu favor no domingo, em Brasília.
"Esse senhor tem que sair da Presidência da República, deixa o [Hamilton] Mourão [vice-presidente], que entende de defesa, conduzir a nação", pediu Janaina nesta segunda-feira (16), em discurso na Assembleia Legislativa de São Paulo.
Janaina afirmou que Bolsonaro cometeu crime contra a saúde pública ao estimular os atos de domingo e ao participar da aglomeração, já que ele próprio está sob suspeita de ter contraído a Covid-19. Embora o resultado de seu teste na semana passada tenha sido negativo, ele fará novos exames, e ao menos 12 pessoas que se encontraram com ele estão com a doença.
"Como um homem que está possivelmente infectado vai para o meio da multidão? [...] Ele está brincando? Ele acha que pode tudo? As autoridades têm que se unir e pedir para ele se afastar. Não temos tempo para um processo de impeachment."
Pelo Twitter, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, respondeu após a fala da deputada. "São 57.796.986 de brasileiros que votaram contra o sistema e a favor de Bolsonaro. A senhora tem todo o direito de se arrepender, não a criticarei por isso. Mas nunca se esqueça: a vontade do povo é (e continuará sendo) soberana."
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