O presidente Jair Bolsonaro afirmou que pedirá ao Ministério da Saúde mudança na orientação de isolamento da população durante a pandemia do novo coronavírus. Ao deixar o Palácio da Alvorada nesta quarta-feira, Bolsonaro relatou que vai conversar com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, sobre a decisão.
Após fazer um pronunciamento criticando o confinamento e defendendo a abertura de comércios e escolas, o chefe do Planalto pediu a adoção do que chamou de "isolamento vertical", ou seja, somente para idosos e portadores de comorbidades. Ele critou medidas tomadas por governadores de restrição de movimento de pessoas.
"Conversei por alto com o Mandetta ontem (terça). Hoje vamos definir essa situação. Tem que ser, não tem outra alternativa", disse Bolsonaro ao deixar o Palácio da Alvorada. "A orientação vai ser vertical daqui para frente. Eu vou conversar com ele e tomar a decisão. Não escreva que já decidi, não. Vou conversar com o Mandetta sobre essa orientação." Cara, você tem que isolar quem você pode. Você quer que eu faça o quê? Eu tenho o poder de pegar cada idoso e levar para um lugar? É a família dele que tem que cuidar dele no primeiro lugar.
Ele acrescentou: "O povo tem que parar de deixar tudo nas costas do poder público. Aqui não é uma ditadura, é uma democracia", declarou o presidente, na saída do Palácio da Alvorada. "Os responsáveis pela minha mãe de 92 são seus meia-dúzia filhos?"
O presidente voltou a falar que as ações dos governadores estão prejudicando a economia e que podem criar um ambiente de caos no país. Ele disse que o ambiente pode causar instabilidade a democracia. Bolsonaro ainda questionou as medidas usadas em outros países e também minimizou os riscos da pandemia. O Brasil já tem 46 mortes e 2.201 infectados confirmados. O número de casos confirmados representa 2,21% do número total de pessoas contaminadas em todo o mundo.
Após o pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na noite desta terça-feira (24), o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), disse que o Brasil precisa de uma liderança séria, responsável e comprometida com a vida e a saúde da população.
Alcolumbre, que está em isolamento por ter sido infectado pelo coronavírus, assina a nota com o vice-presidente do Senado, Antonio Anastasia (PSDB-MG). Ele afirma que "a nação espera do líder do Executivo, mais do que nunca, transparência, seriedade e responsabilidade".
A radicalização do discurso adotada no pronunciamento foi uma sugestão do grupo ideológico do Palácio do Planalto, formado pelo chamado "gabinete do ódio".
A estratégia, segundo assessores presidenciais, é a de tentar polarizar o debate no esforço de municiar o eleitorado bolsonarista a voltar a sair em defesa do governo.
Entre as pessoas com quem Bolsonaro se reuniu nesta terça antes de gravar o pronunciamento está o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), um de seus filhos e o principal defensor de que o presidente mantenha um discurso mais ideológico e anti-imprensa. Carlos tem forte influência no gabinete do ódio.
No mesmo dia em que tem agendada uma reunião virtual com os governadores de São Paulo, João Doria, e do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, o presidente Jair Bolsonaro acusou os dois chefes do Executivo nos Estados de "fazer demagogia" no enfrentamento à pandemia de novo coronavírus. Doria e Witzel são adversários políticos do presidente. Para Bolsonaro, "os governadores do Rio e de São Paulo estão fazendo demagogia para esconder problemas".
O presidente deu a declaração ao deixar o Palácio da Alvorada na manhã desta quarta-feira, dia 25. Às 9h estava agendada uma reunião por videoconferência com os chefes dos governos estaduais do Sudeste.
O encontro é o terceiro da série de reuniões virtuais com governadores. Na segunda-feira, 23, Bolsonaro falou com os governadores do Norte e do Nordeste. No dia seguinte, foi a vez do Centro-Oeste e do Sul.
A MCM Consultores avalia, em relatório, que o discurso do presidente Jair Bolsonaro na noite desta terça-feira (24) em cadeia nacional aumenta ainda mais o seu desgaste na condução da crise desencadeada pela pandemia de coronavírus.
"Esse discurso foi criticado pela classe política, pelos presidentes das duas Casas do Congresso e por vários governadores. Aumentará ainda mais o desgaste junto às faixas da população com alta renda e maior grau de instrução."
A consultoria destaca que boa parte do discurso foi dedicada a criticar a imprensa por "espalhar o pavor" do novo coronavírus no País, além de também ter criticado a política de confinamento adotada nos Estados, apesar da recomendação do Ministério da Saúde, e ter defendido a reabertura de escolas.
"O que se passa no mundo tem mostrado que o grupo de risco é o das pessoas acima dos 60 anos. Então, por que fechar escolas?", questionou o presidente. "Raros são os casos fatais de pessoas sãs com menos de 40 anos de idade", acrescentou Bolsonaro. "O vírus chegou, está sendo enfrentado por nós e brevemente passará. Nossa vida tem que continuar. Os empregos devem ser mantidos. O sustento das famílias deve ser preservado. Devemos, sim, voltar à normalidade", prosseguiu o presidente.
A MCM ainda nota que o Bolsonaro elogiou o ministro da Saúde, Henrique Mandetta, e citou estudos feitos pelos Estados Unidos e no Brasil com o uso da cloroquina no tratamento da covid-19.
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