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Bolsonaro fala em isolar só idosos e doentes e vê instabilidade política

Bolsonaro fala em isolar só idosos e doentes e vê instabilidade política

Presidente ataca governadores e também o Congresso um dia após pronunciamento que contraria os órgãos de saúde e que distorce dados do coronavírus

Publicado em 25 de março de 2020 às 10:01

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Jair Bolsonaro em coletiva de imprensa sobre coronavírus
Jair Bolsonaro em coletiva de imprensa sobre coronavírus. (Carolina Antunes/PR)

O presidente Jair Bolsonaro afirmou que pedirá ao Ministério da Saúde mudança na orientação de isolamento da população durante a pandemia do novo coronavírus. Ao deixar o Palácio da Alvorada nesta quarta-feira, Bolsonaro relatou que vai conversar com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, sobre a decisão.

Após fazer um pronunciamento criticando o confinamento e defendendo a abertura de comércios e escolas, o chefe do Planalto pediu a adoção do que chamou de "isolamento vertical", ou seja, somente para idosos e portadores de comorbidades. Ele critou medidas tomadas por governadores de restrição de movimento de pessoas.

"Conversei por alto com o Mandetta ontem (terça). Hoje vamos definir essa situação. Tem que ser, não tem outra alternativa", disse Bolsonaro ao deixar o Palácio da Alvorada. "A orientação vai ser vertical daqui para frente. Eu vou conversar com ele e tomar a decisão. Não escreva que já decidi, não. Vou conversar com o Mandetta sobre essa orientação." Cara, você tem que isolar quem você pode. Você quer que eu faça o quê? Eu tenho o poder de pegar cada idoso e levar para um lugar? É a família dele que tem que cuidar dele no primeiro lugar.

Ele acrescentou: "O povo tem que parar de deixar tudo nas costas do poder público. Aqui não é uma ditadura, é uma democracia", declarou o presidente, na saída do Palácio da Alvorada. "Os responsáveis pela minha mãe de 92 são seus meia-dúzia filhos?"

Em discurso no dia 9/3, em Miami, Bolsonaro avaliou a reação à epidemia de coronavírus como "superdimensionada"(Folhapress)

O presidente voltou a falar que as ações dos governadores estão prejudicando a economia e que podem criar um ambiente de caos no país. Ele disse que o ambiente pode causar instabilidade a democracia. Bolsonaro ainda questionou as medidas usadas em outros países e também minimizou os riscos da pandemia. O Brasil já tem 46 mortes e 2.201 infectados confirmados. O número de casos confirmados representa 2,21% do número total de pessoas contaminadas em todo o mundo.

Após o pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na noite desta terça-feira (24), o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), disse que o Brasil precisa de uma liderança séria, responsável e comprometida com a vida e a saúde da população.

Alcolumbre, que está em isolamento por ter sido infectado pelo coronavírus, assina a nota com o vice-presidente do Senado, Antonio Anastasia (PSDB-MG). Ele afirma que "a nação espera do líder do Executivo, mais do que nunca, transparência, seriedade e responsabilidade".

A radicalização do discurso adotada no pronunciamento foi uma sugestão do grupo ideológico do Palácio do Planalto, formado pelo chamado "gabinete do ódio".

A estratégia, segundo assessores presidenciais, é a de tentar polarizar o debate no esforço de municiar o eleitorado bolsonarista a voltar a sair em defesa do governo.

Entre as pessoas com quem Bolsonaro se reuniu nesta terça antes de gravar o pronunciamento está o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), um de seus filhos e o principal defensor de que o presidente mantenha um discurso mais ideológico e anti-imprensa. Carlos tem forte influência no gabinete do ódio.

GOVERNADORES FAZEM DEMAGOGIA, DIZ BOLSONARO

No mesmo dia em que tem agendada uma reunião virtual com os governadores de São Paulo, João Doria, e do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, o presidente Jair Bolsonaro acusou os dois chefes do Executivo nos Estados de "fazer demagogia" no enfrentamento à pandemia de novo coronavírus. Doria e Witzel são adversários políticos do presidente. Para Bolsonaro, "os governadores do Rio e de São Paulo estão fazendo demagogia para esconder problemas".

O presidente deu a declaração ao deixar o Palácio da Alvorada na manhã desta quarta-feira, dia 25. Às 9h estava agendada uma reunião por videoconferência com os chefes dos governos estaduais do Sudeste.

O encontro é o terceiro da série de reuniões virtuais com governadores. Na segunda-feira, 23, Bolsonaro falou com os governadores do Norte e do Nordeste. No dia seguinte, foi a vez do Centro-Oeste e do Sul.

MCM: DISCURSO AUMENTA DESGASTE

A MCM Consultores avalia, em relatório, que o discurso do presidente Jair Bolsonaro na noite desta terça-feira (24) em cadeia nacional aumenta ainda mais o seu desgaste na condução da crise desencadeada pela pandemia de coronavírus.

"Esse discurso foi criticado pela classe política, pelos presidentes das duas Casas do Congresso e por vários governadores. Aumentará ainda mais o desgaste junto às faixas da população com alta renda e maior grau de instrução."

A consultoria destaca que boa parte do discurso foi dedicada a criticar a imprensa por "espalhar o pavor" do novo coronavírus no País, além de também ter criticado a política de confinamento adotada nos Estados, apesar da recomendação do Ministério da Saúde, e ter defendido a reabertura de escolas.

"O que se passa no mundo tem mostrado que o grupo de risco é o das pessoas acima dos 60 anos. Então, por que fechar escolas?", questionou o presidente. "Raros são os casos fatais de pessoas sãs com menos de 40 anos de idade", acrescentou Bolsonaro. "O vírus chegou, está sendo enfrentado por nós e brevemente passará. Nossa vida tem que continuar. Os empregos devem ser mantidos. O sustento das famílias deve ser preservado. Devemos, sim, voltar à normalidade", prosseguiu o presidente.

A MCM ainda nota que o Bolsonaro elogiou o ministro da Saúde, Henrique Mandetta, e citou estudos feitos pelos Estados Unidos e no Brasil com o uso da cloroquina no tratamento da covid-19.

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