O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) conquistou para o Brasil o "antiprêmio" Fóssil da Semana, concedido pela rede Climate Action aos países que, na avaliação da entidade, mais prejudicam as negociações climáticas na COP26, em Glasgow (Escócia).
Bolsonaro recebeu o agravo "pelo tratamento horrível e inaceitável aos povos indígenas", após criticar a ativista Txai Suruí, que na terça (2) discursou em Glasgow para dezenas de líderes mundiais, entre eles o premiê britânico Boris Johnson.
Bolsonaro não foi à COP para o encontro de líderes, que reuniu os presidentes dos Estados Unidos, Joe Biden, e da França, Emmanuel Macron, e os premiês da Itália, Mario Draghi, e do Canadá, Justin Trudeau.
Enquanto isso, o brasileiro optou por se encontrar com políticos do partido de ultradireita Liga, na Itália, após participar da cúpula do G20.
Na quarta (3), em Brasília –a cerca de 9.000 km de distância do centro de eventos em que servidores de seu governo tentam reverter a imagem de vilão climático criada nas últimas duas COPs–, o presidente do Brasil atacou indígenas e, indiretamente, a paiter-suruí Txai, em conversa com seus seguidores.
"Estão reclamando que eu não fui para Glasgow. Levaram uma índia para lá –para substituir o [cacique] Raoni– para atacar o Brasil. Alguém viu algum alemão atacando a energia fóssil da Alemanha? Alguém já viu atacando a França porque lá a legislação ambiental não é nada perto da nossa? Ninguém critica o próprio país. Alguém viu o americano criticando as queimadas lá no estado da Califórnia? É só aqui", queixou-se Bolsonaro, em frente ao Palácio da Alvorada.
Em seu discurso, Txai, 24, ressaltou os efeitos do aquecimento global, mencionou o assassinato de defensores do meio ambiente e defendeu a participação dos povos indígenas nas decisões da cúpula do clima. Ela é filha de Almir Suruí, 47, uma das lideranças indígenas mais conhecidas do país e duro crítico do governo Bolsonaro.
Na justificativa do Fóssil da Semana, a CAN diz que os ataques do presidente detonaram uma onda de agressões online contra a ativista. A ONG acrescenta que há evidências acumuladas de desrespeitos do governo brasileiro a direitos indígenas.
"Invasões de terras indígenas dispararam; A mineração de ouro selvagem está poluindo os cursos d'água, a intimidação é abundante e eles têm um vice-presidente que justificou negar água doce às aldeias atingidas por Covid porque 'os índios bebem dos rios'."
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