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Bolsonaro não é classificado como genocida em livro didático da Noruega

Bolsonaro não é classificado como genocida em livro didático da Noruega

Editora responsável pela publicação disse que a obra não afirma que houve um genocídio, mas sugere que os alunos reflitam sobre os responsáveis pelo grande número de óbitos no país

Publicado em 23 de agosto de 2024 às 09:09

Ícone - Tempo de Leitura 4min de leitura
Bolsonaro não é classificado como genocida em livro didático da Noruega
Bolsonaro não é classificado como genocida em livro didático da Noruega. (Reprodução X/Arte A Gazeta)

Conteúdo investigado: Postagem afirmando que livro didático do ensino médio da Noruega retrata o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como genocida responsável por 700 mil mortes de covid-19 no Brasil. A publicação traz a imagem de um livro que contém uma foto do ex-presidente, com um texto em norueguês.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: Post engana ao afirmar que um livro didático norueguês retrata Jair Bolsonaro (PL) como genocida responsável pelas 700 mil mortes de covid-19 no Brasil. A publicação utiliza imagem com baixa resolução do livro “Fabel 10”, da editora Aschehoug, destinado ao aprendizado da língua norueguesa e vendido para escolas que ensinam a estudantes com idades entre 13 e 16 anos.

O trecho em questão cita a pandemia em um capítulo sobre teorias da conspiração, mídia e política. Além disso, diz que Bolsonaro chamou a pandemia de “gripezinha” e não recomendou os mesmos cuidados que o resto do mundo. O texto também ressalta que, apenas no primeiro ano, o Brasil registrou a perda de 260 mil vidas devido ao vírus.

“A negação da covid é um exemplo de desinformação difícil de impedir. Muitas vezes, aqueles que acreditam em teorias da conspiração encontrarão apoio para diversas teorias em sites e redes sociais, onde são apresentados a uma ‘nova verdade’”, diz trecho do texto traduzido pelo Comprova.

Na mesma página, abaixo do texto, o livro traz uma foto de Bolsonaro, e reproduz na legenda uma frase dita pelo ex-presidente em março de 2021 sobre a pandemia: “Chega de frescura, vão ficar chorando até quando?”.

Ainda segundo Aschehoug, os textos também afirmam que o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, criticou a forma como Bolsonaro lidou com a pandemia e foi afastado do cargo por conta disso. Ainda no início de 2020, o apoio do presidente ao uso da cloroquina como tratamento para covid-19 causou um estranhamento público entre os dois. Além disso, Mandetta defendia que o governo deveria seguir as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), o que gerou mais conflitos.

Os textos seguintes pedem aos alunos que considerem quem é o responsável em situações como a do Brasil. A editora destaca ainda que o texto não usa a palavra genocídio nem implica que houve um genocídio durante este período.

Em agosto de 2022, o G1 noticiou que o livro didático norueguês define Bolsonaro como “um dos maiores negacionistas do coronavírus do mundo”. O UOL também noticiou, em agosto de 2022, que Bolsonaro havia sido retratado como “negacionista da covid” pelo livro norueguês. A reportagem destaca a legenda utilizada pela editora na foto do ex-presidente e afirma que, no dia anterior à declaração do ex-presidente, “o Brasil tinha registrado 1.910 mortes por covid-19, recorde na época”. Até o dia 22 de agosto de 2024, a doença matou 712.889 pessoas no Brasil, segundo o Ministério da Saúde.

O Comprova contatou a autora do post, que publicou no X a solicitação de informações sobre fontes e motivações da publicação, afirmando que a checagem seria uma tentativa de compará-la a quem divulga “mamadeira de piroca”. A distribuição de “mamadeiras eróticas” em creches foi checada pelo Comprova em 2018 como informação falsa.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 22 de agosto, a publicação atingiu mais de 716 mil visualizações.

Fontes que consultamos: Texto do livro didático presente na imagem da publicação, que foi traduzido e checado por falante de norueguês, e contato com a editora responsável pela obra.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Durante a pandemia de covid no Brasil, diversas peças de desinformação envolvendo Bolsonaro foram checadas pelo Comprova, como uma live em que o ex-presidente afirmou que as vacinas contra a doença causam aids e um vídeo do diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, tirado de contexto para validar discurso do político.

Investigação e verificação

Investigado por: Metrópoles, Tribuna do Norte e O DIA
Texto verificado por: A Gazeta, imirante.com, Estadão, Residência Comprova, Folha e Diário do Nordeste  

O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada e mantida pela Abraji – Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens. A Gazeta faz parte dessa aliança. 

*Esta verificação contou com a colaboração de jornalistas que participam do Programa de Residência no Comprova.

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