O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse nesta segunda-feira (22) que a edição do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) deste ano ainda apresentou "questão de ideologia", mas que a prova está mudando e não teve perguntas sobre "linguagem de tal tipo de gente".
"Estão acusando o ministro Milton Ribeiro [da Educação] de ter interferido na elaboração da prova. Se ele tivesse essa capacidade, não teria nenhuma questão de ideologia nesse Enem agora, que teve ainda", afirmou o presidente a apoiadores, em frente ao Palácio da Alvorada.
Bolsonaro disse que o governo tem margem curta para interferir no exame, pois é obrigado a usar questões de um banco de dados. "Agora, dá pra mudar? Já está mudando. Vocês não viram mais a linguagem de tal tipo de gente, com tal perfil", declarou o presidente.
O presidente estava ao lado do jogador de vôlei Maurício Souza, demitido do Minas Tênis Clube após publicar mensagens homofóbicas em seus perfis nas redes sociais.
"O que o cara faz entre quatro paredes é problema dele, pô. Agora, não tem mais aquilo. A linguagem neutra 'não sei de quê', não tem mais", disse ainda Bolsonaro.
O presidente não mencionou qual questão do exame deste ano desejaria vetar. O primeiro dia de prova do Enem ocorreu no domingo (21).
As provas de linguagens e ciências humanas abordaram questões sobre minorias, como população indígena, população carcerária e desigualdade de gênero. O exame teve questões com a música "Admirável Gado Novo", do cantor Zé Ramalho.
Em 2018, quando era presidente eleito, Bolsonaro criticou perguntas do Enem sobre "dialeto secreto" utilizado por gays e travestis.
A equipe de Milton Ribeiro tentou criar uma espécie de tribunal ideológico do Enem, com uma comissão de análise das questões, como a Folha revelou. O governo engavetou a iniciativa após má repercussão. Bolsonaro e apoiadores fazem críticas recorrentes ao exame sob o argumento de que há questões com temas de esquerda.
Após o primeiro dia de provas, Ribeiro disse que o conteúdo do exame mostra que não houve interferência ideológica nas questões. Afirmou ainda que, se pudesse, poderia vetar algumas questões aplicadas no exame.
Às vésperas do início do Enem, servidores do Inep, órgão responsável pela elaboração da prova, fizeram uma série de denúncias sobre assédio moral que sofreram para suprimir perguntas com temas considerados inadequados pela gestão do órgão.
O conteúdo do Enem foi considerado equilibrado por especialistas. No entanto, nenhuma pergunta falou sobre a ditadura militar no país. Desde o início do governo Jair Bolsonaro, o período histórico, defendido pelo presidente, nunca mais apareceu na prova.
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