Em clima de campanha eleitoral, o governo Jair Bolsonaro preparou um cronograma de inaugurações de obras de infraestrutura que, em sua maioria, foram iniciadas nos governos de Lula e Dilma Rousseff (PT).
Das 33 obras que promete inaugurar no segundo semestre, 25 foram planejadas pelos petistas, 2 começaram a ser executadas no governo Michel Temer (MDB) e 6 saíram do papel no atual governo, sendo que algumas já eram discutidas nas gestões passadas.
As obras rodoviárias representam mais da metade do pacote de entregas, mas apenas uma das 18 intervenções foi inteiramente conduzida pelo atual ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas -a construção da ponte sobre o rio Paranaíba, na BR-235/PI, entre as cidades de Santa Filomena, no Piauí, e Alto Parnaíba, no Maranhão. O restante fez parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), criado pelo governo do PT em 2007.
É o caso da duplicação da BR-116, tanto na Bahia quanto no Rio Grande do Sul, da duplicação de diversos trechos da BR-101, englobando Alagoas, Sergipe e Espírito Santo, da construção da BR-230, no Pará, conhecida como rodovia Transamazônica, ou mesmo da construção da ponte do Abunã, que ligará Rondônia ao Acre sobre o rio Madeira.
Bolsonaro tem tratado essas obras como feitos de seu governo. E, apesar da pandemia do novo coronavírus, está rodando o país em inaugurações agendadas pelos ministérios da Infraestrutura e do Desenvolvimento Regional.
O cronograma foi encomendado pelo Palácio do Planalto para turbinar a imagem do presidente e aproveitar a onda de popularidade ocasionada pelo pagamento de R$ 600 do auxílio emergencial. Segundo o Datafolha, Bolsonaro atingiu seu maior patamar de aprovação, com 37% de ótimo/bom.
O levantamento feito pela reportagem trata apenas de obras da pasta de Tarcísio de Freitas. O ministro é frequentemente elogiado por Bolsonaro, como na última quinta (27), quando o presidente disse que queria os R$ 50 bilhões gastos no pagamento do auxílio "nas mãos de Tarcísio".
Em outubro de 2019, em uma audiência na comissão do Meio Ambiente, no Congresso, o ministro defendeu a iniciativa de entregar obras que começaram em outros governos.
"Sempre se questiona ou se critica a falta de continuidade dos governos. E aqui hoje disseram: 'Ah, você terminou obra que era de outro presidente, outro governo'. Que bom! Que bom que nós estamos encarando a infraestrutura desta forma. Eu tenho orgulho disso. Terminamos obras de outros governos, sim. O Brasil não pode ser reinventado a cada quatro anos", disse.
Todas as cinco obras aquaviárias previstas pelo ministério para este ano foram iniciadas em 2014: são as instalações portuárias públicas de pequeno porte no Pará.
O presidente já disse que tem a intenção de visitar ao menos dois estados por semana. Essa postura reflete uma cobrança recorrente de seus novos aliados do centrão, insatisfeitos com a capitalização política de governadores adversários a partir de obras com recursos federais.
A agenda de Bolsonaro, entretanto, tem provocado constrangimento entre governadores. "Não há obras iniciadas por ele. Nenhum programa novo. Ele só está visitando obras alheias e mudando nome de programas já existentes", criticou o governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do B).
Das seis reformas iniciadas pelo atual governo, cinco são do setor aéreo e ganharam velocidade, em parte, pelas circunstâncias da pandemia.
Até 5 de setembro, a pista principal do aeroporto de Congonhas estará totalmente interditada. A intervenção recebeu R$ 11,5 milhões. Além da recuperação da pista, a reforma do aeroporto prevê a remodelação da fachada do terminal de passageiros e a reconstrução do pátio de aeronaves.
Destaque também para as obras nos aeroportos de Santarém (PA) e Foz do Iguaçu (PR) -este recebeu a visita de Bolsonaro na última quinta-feira. Iniciadas em fevereiro, as obras da pista do Aeroporto Internacional Cataratas atingiram 40%. O valor do contrato é de R$ 53,9 milhões, oriundos de um termo de convênio firmado entre a Itaipu e a Infraero.
Apesar de os trabalhos nos aeroportos de Santa Maria (RS) e Navegantes (SC) terem sido encaminhados em 2019, a discussão se arrastava desde os governos passados.
Bolsonaro também herdou obras iniciadas na gestão de Dilma no setor aéreo. As reformas nos aeroportos de Manaus e Bonito, por sua vez, tiveram início no governo Michel Temer (MDB).
Em nota, o Ministério da Infraestrutura disse que entende a sua atuação como "questão de Estado, e não de governos". "O planejamento da infraestrutura nacional é, essencialmente, uma política de longo prazo e, por isso, a atual gestão escolheu como um dos pilares de sua atuação a concentração de recursos para a conclusão de obras em andamento ou paralisadas antes de abrir novas frentes".
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