Ainda sem partido para disputar a eleição de 2022, o presidente Jair Bolsonaro se aproximou do Patriota, legenda nanica que se encontra rachada sobre os rumos da sigla e a aliança com o Palácio do Planalto.
Além das divergências internas, a eventual filiação de Bolsonaro à legenda enfrenta resistência entre aliados do Centrão – grupo que se alinhou ao governo após a liberação de emendas e cargos de indicação política.
Líderes do Centrão defendem que Bolsonaro siga para um partido grande, que já tenha capilaridade no território nacional, mais verba de fundo eleitoral e estrutura para enfrentar a eleição de 2022, cujo cenário atualmente se mostra desafiador para o presidente.
As negociações anteriores envolviam PSL, PP e mais recentemente o PL, partidos que compõem a base do governo no Congresso, mas que sinalizaram fechar as portas a Bolsonaro por não aceitarem entregar o controle da sigla a ele.
Essas legendas já estão loteadas nos Estados, e o pedido de Bolsonaro é um entrave. Se não abrigarem Bolsonaro, a tendência é que esses partidos integrem a coalizão da campanha à reeleição do presidente em 2022, que deve envolver também outras siglas, como PTB.
No Patriota, Bolsonaro encontra apoio do presidente do partido, Adilson Barroso, que negociou a filiação do senador Flávio Bolsonaro (RJ) – o primeiro representante do partido no Senado. A sigla tem seis deputados federais.
Flávio participou virtualmente da convenção do partido nesta segunda-feira (31) e sinalizou que o presidente Bolsonaro também se filiará à legenda.
O senador articulou um encontro entre o pai e Barroso nesta terça-feira (1º) em Brasília. Numa conversa de aproximadamente 20 minutos, o presidente do Patriota fez formalmente um convite para Bolsonaro se filiar à legenda.
Bolsonaro, porém, pediu entre 15 dias e 20 dias para responder ao convite. O presidente quer discutir o futuro partidário junto com aliados mais próximos, principalmente com a ala do PSL ainda ligada a ele.
"Ele [Bolsonaro] é muito leal ao grupo dele. Ele pediu um tempo e quer sentar com todo o pessoal desse grupo", disse o dirigente do Patriota. Aliados de Bolsonaro devem seguir o presidente e aderir ao partido que ele escolher.
O Patriota é considerado um partido nanico. Recebeu uma cota de R$ 35 milhões do fundo eleitoral no ano passado, enquanto o PSL levou quase R$ 200 milhões.
Isso porque, em linhas gerais, as regras de distribuição do fundo privilegiam as legendas com melhor desempenho nas urnas, em especial nas eleições para a Câmara dos Deputados.
Aliados de Bolsonaro no Congresso aconselham o presidente a não tentar repetir a fórmula da campanha de 2018, quando ele venceu a disputa com um discurso antipolítica e contou com o apoio das redes sociais.
Bolsonaro ganhou com pouco tempo de televisão para propaganda eleitoral e com poucos recursos financeiros. No entanto, a avaliação de integrantes do centrão, agora, é que essa estratégia não deve ter o mesmo efeito em 2022, após quatro anos à frente do Planalto.
Além disso, a avaliação da gestão Bolsonaro, segundo pesquisas, indica um cenário árduo.
O governo de Bolsonaro tem a aprovação de 24% dos brasileiros, a pior marca de seu mandato até aqui, segundo pesquisa Datafolha divulgada em maio. Os que rejeitam o governo, considerando-o ruim ou péssimo, são 45% dos entrevistados.
Aliados de Bolsonaro dizem que ele ainda não bateu o martelo sobre a filiação ao Patriota e aguardará que a disputa interna no partido se resolva.
O presidente da sigla foi acusado de golpe por integrantes do Patriota. Foi inclusive apresentada uma ação ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para que a convenção realizada na segunda-feira fosse anulada.
Durante a reunião, Barroso trocou membros da Executiva Nacional para ter maioria e conseguir aprovar um novo estatuto, facilitando a negociação com a família Bolsonaro, que quer poder sobre os diretórios estaduais e nas alianças para as eleições do ano que vem.
"Foi tudo feito às escuras. Uma situação tenebrosa. Foi realmente um golpe para todos nós", disse Ovasco Roma, vice-presidente do partido, que foi destituído do posto de delegado na convenção, dando lugar a um aliado de Barroso.
Para a eleição de 2018, Bolsonaro chegou a negociar sua ida ao Patriota, mas acabou se filiando ao PSL. Com isso, o partido, que tinha apenas um representante na Câmara, conseguiu eleger 52 deputados federais a segunda maior bancada na Casa logo após o resultado das urnas.
No fim de 2019, Bolsonaro rompeu com a cúpula do PSL e anunciou o plano de criar um partido próprio, a Aliança pelo Brasil. Mas o presidente já reconheceu que a investida não será viável para o pleito de 2022. Por isso, busca um partido para disputar a eleição.
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