O presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em uma publicação em redes sociais nesta terça-feira (3), citou "ingerências de outras potências" no resultado das eleições dos EUA e sugeriu que o mesmo pode ocorrer nas próximas eleições brasileiras. Em seguida, à CNN Brasil, ele disse que tinha confiança na reeleição de Donald Trump.
Após índices recordes de votação antecipada, milhões de americanos foram às urnas para concluir o processo eleitoral e determinar se o republicano permanece por mais quatro anos na Casa Branca. Seu adversário é o democrata Joe Biden, ex-vice-presidente na gestão de Barack Obama.
Tendo na aliança com Trump seu principal alicerce na política externa, Bolsonaro se cercou de auxiliares ao longo de terça para receber avaliações sobre o cenário eleitoral nos EUA. Ele acompanhou com apreensão a jornada eleitoral no país. O presidente foi aconselhado por assessores a adotar cautela durante as primeiras projeções de resultado, diante de uma apuração longa passível de judicialização.
Bolsonaro recebeu o diagnóstico de que uma vitória do republicano era possível, mas que também Biden se encontrava em posição mais confortável do que Hillary Clinton há quatro anos. Apreensivo, ele determinou que o ministro Ernesto Araújo (Relações Exteriores) cancelasse uma viagem prevista para a Amazônia com o vice-presidente Hamilton Mourão e embaixadores estrangeiros, para ter seu chanceler por perto no desenho da estratégia de reação ao resultado eleitoral americano.
Apesar de manifestar confiança com as possibilidades do republicano - que terminou a campanha atrás nas pesquisas - o Palácio do Planalto manifestou ao longo do processo preocupação com a possível vitória de Biden. O democrata já criticou publicamente a política ambiental de Bolsonaro, e sua eventual eleição colocaria fim à estratégia do líder brasileiro de simbiose com o trumpismo.
Conselheiros palacianos avaliaram ao longo da campanha que Biden na Casa Branca obrigaria Bolsonaro a reavaliar sua política externa, tornando-a mais pragmática e reduzindo o componente ideológico. Por isso, assessores recomendaram que o presidente brasileiro só se manifeste sobre o resultado do pleito após confirmado o vencedor.
Trump negou planos de antecipação, mas o perfil imprevisível do americano fez com que o Palácio do Planalto não descartasse essa possibilidade. Nas redes sociais, tentou estabelecer paralelos entre as eleições nos EUA e o Brasil.
"É inegável que as eleições norte-americanas despertam interesses globais, em especial, por influir na geopolítica e na projeção de poder mundiais. Até por isso, no campo das informações, há sempre uma forte suspeita da ingerência de outras potências, no resultado final das urnas", escreveu Bolsonaro.
Ele continuou dizendo que, "no Brasil, em especial pelo seu potencial agropecuário, poderemos sofrer uma decisiva interferência externa, na busca, desde já, de uma política interna simpática a essas potências, visando às eleições de 2022".
O presidente brasileiro citou também que é preciso saber por que a América do Sul "está caminhando para a esquerda" e conclui dizendo que, "nessa batalha, fica evidente que a segurança alimentar, para alguns países, torna-se tão importante e aí se inclui, como prioridade, o domínio da própria Amazônia".
A referência à Amazônia é um tema constante da retórica de Bolsonaro. Ele já sugeriu que países estrangeiros teriam interesses não declarados na região. O presidente também argumentou no passado que críticas disparadas do exterior contra o aumento do desmatamento no Brasil teriam como verdadeira motivação minar a capacidade agrícola do país, por causa de seu potencial de ser o garantidor da segurança alimentar de diversos países do mundo no futuro.
Ainda nesta terça, Mourão fez questão de colocar panos quentes em declarações passadas de Bolsonaro. O general afirmou que as reiteradas manifestações do presidente brasileiro em defesa da reeleição de Trump são opiniões pessoais do mandatário e que o relacionamento entre Brasil e Estados Unidos permanecerá com as mesmas ligações, independentemente do vencedor do pleito americano.
"O relacionamento do Brasil com os EUA é de Estado para Estado, independentemente do governo que estiver lá. Óbvio que cada governo tem as suas prioridades, suas características, mas no conjunto da obra vamos continuar com as mesmas ligações", disse.
O vice também defendeu que o governo brasileiro mantenha neutralidade caso o resultado eleitoral nos EUA se converta em uma disputa judicial. "Neutra, neutra, lógico. Não temos nada a ver com as questões internas americanas." Mourão lidera o Conselho da Amazônia, fórum interministerial responsável por coordenar ações de combate ao desmatamento e a queimadas na região amazônica.
Durante o primeiro e caótico debate presidencial nos EUA, o candidato democrata, ao se referir à Amazônia, disse que "a floresta tropical no Brasil está sendo destruída".
Biden indicou que atuaria para oferecer recursos ao país para a preservação ambiental e, ao mesmo tempo, sugeriu retaliações econômicas ao governo brasileiro caso os índices de desmatamento não melhorem. Bolsonaro classificou a fala como "lamentável". Mourão reconheceu nesta terça que, caso seja eleito, Biden pode ter uma "ação mais incisiva" diante dos índices de desmatamento no Brasil.
"Mas vamos lembrar que os EUA estão entre os países que mais emitem gás carbônico no mundo. Então primeiro tem de resolver os problemas deles para depois vir para os nossos", disse o vice-presidente brasileiro.
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