O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem a pior avaliação dentre os entes responsáveis pelo combate ao desmatamento da Amazônia, como governos estaduais, o Ibama e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
Para 46% dos brasileiros, o trabalho de Bolsonaro para impedir a derrubada da floresta é considerado ruim ou péssimo. Os governos estaduais são avaliados de forma negativa nesse quesito por 42% da população; Salles e o vice-presidente Hamilton Mourão, por 38%; o Ibama e a Funai, por 20%, e o Exército, por 19%.
Outros 27% avaliam a atuação de Bolsonaro como ótima ou boa, 25%, como regular e 2% não souberam responder.
Os resultados são de pesquisa Datafolha contratada pela ONG Greenpeace Brasil. Foram entrevistadas por telefone 1.524 pessoas acima de 16 anos, em todas as regiões, de 6 a 18 de agosto, e a margem de erro é de 3 pontos percentuais, para mais ou para menos.
A pesquisa mostra ainda que a maioria (87%) dos brasileiros considera muito importante preservar a Amazônia, e 93% afirmam ser possível ganhar dinheiro protegendo a floresta e incentivando atividades sem desmatamento.
Os entrevistados têm uma percepção condizente com a realidade quando o assunto é aumento da mata derrubada: 73% avaliam que o desmatamento sobe em 2020.
O desmatamento na região avança e deve ser pior em 2020 do que no primeiro ano sob Bolsonaro, quando já saltara. Foram 14 meses seguidos de aumento até julho, segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Com dados somente até o dia 16 de outubro, o desmatamento já superou os números do mesmo mês inteiro de 2019 e pode atingir valor recorde.
Desde a época em que era candidato à Presidência, em 2018, Bolsonaro tem feito acenos ao agronegócio, recebido apoio da bancada ruralista e criticado a fiscalização do Ibama. Também já repetiu muitas vezes que o país tem um excesso de unidades de conservação e de terras indígenas.
"O governo tem uma visão atrasada de desenvolvimento", afirma Cristiane Mazzetti, porta-voz do Greenpeace. "A avaliação de Bolsonaro é muito ruim e, ao mesmo tempo, ele é um ator ao qual as pessoas atribuem grande responsabilidade para combater o desmatamento. Temos uma responsabilidade que não tem sido bem executada."
"O presidente é uma liderança. O que ele fala tem impacto grande. E o interessante é que a população está questionando esse tipo de discurso para a Amazônia", afirma Suely Araújo, especialista sênior em políticas públicas do Observatório do Clima, rede com mais de 50 ONGs, e ex-presidente do Ibama.
Ao mesmo tempo em que o trabalho de Bolsonaro tem a pior avaliação da pesquisa, povos indígenas, ONGs ambientais, o Exército e Ibama/Funai são positivamente classificados pelos entrevistados no combate ao desmatamento.
Os povos indígenas lideram 49% da população considera que eles fazem um bom ou ótimo trabalho para manter a floresta em pé. De fato, as terras indígenas apresentam taxas mais baixas de desmate.
Para 40% da população, o Exército também faz um trabalho bom ou ótimo. Na prática, porém, o trabalho das Forças Armadas não tem se refletido em diminuição de atos ilícitos. Os militares estão na Amazônia desde maio e, mesmo assim, queimadas e desmatamento ilegais continuam com números elevados.
"Fiscalização ambiental é um trabalho especializado", diz Araújo sobre os resultados.
O Ibama e a Funai, o ministro do Meio Ambiente e o presidente têm a maior responsabilidade no combate ao desmatamento, segundo a pesquisa Datafolha: são considerados muito responsáveis por 77%, 75% e 72% da população brasileira, respectivamente.
Mas, se o trabalho de Bolsonaro é mal avaliado, 37% dos entrevistados consideram a atuação de Ibama e Funai boa ou ótima, e 41%, regular.
Para Araújo, apesar das críticas do presidente ao Ibama, está consolidada no ideário nacional a percepção de que quem cuida da Amazônia é o órgão. "Criou-se uma marca de fiscalização forte e rigorosa."
Para 89% dos entrevistados madeireiros causam muito desmatamento; em seguida, vêm garimpeiros e grandes fazendeiros e criadores de gado.
Não há dúvidas de que as ações dos dois primeiros também impactam a floresta, mas pesquisas apontam que o agronegócio é o principal ator envolvido no desmatamento da Amazônia hoje.
Por fim, um dado chama a atenção: questionados sobre fontes de informação confiáveis em relação à Amazônia, 33% dos brasileiros afirmam confiar mais em cientistas, mas 18% dizem ter mais confiança em autoridades do governo Bolsonaro, mesma porcentagem que cita a imprensa.
Autoridades do governo e o próprio presidente têm distorcido dados científicos e desmerecido entidades de pesquisa nacional, como o Inpe.
"De toda forma", diz Araújo, "a importância que a população dá à Amazônia pode ser útil na reformulação de posicionamento de governantes".
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