A elegibilidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), permitida pela decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin, colocou em risco o plano do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de contar com o apoio integral de sua nova base aliada ao projeto de reeleição.
Conhecido pelo pragmatismo e pelo senso de oportunidade, o Centrão - bloco formado por PP, PL, Republicanos, Solidariedade, PTB, PSD, PROS, PSC, Avante e Patriota - começou a fazer projeções sobre o cenário após a decisão de Fachin, que será submetida ao plenário do STF.
A aposta de dirigentes das legendas é a de que dificilmente o bloco partidário se manterá unido no próximo ano em torno do presidente. A avaliação é a de que, embora Bolsonaro largue na frente por ter o controle da máquina, Lula é um nome competitivo que ameaça o favoritismo do chefe do Executivo.
Segundo caciques do Centrão, diante da possibilidade de uma disputa polarizada, a tendência é que as siglas sigam na base aliada neste ano, mas façam acenos políticos tanto para Bolsonaro quanto para Lula. Os desembarques só devem ocorrer no ano que vem, quando o cenário eleitoral estiver mais claro, indicando um favoritismo.
Hoje, na opinião de líderes partidários, cinco legendas do centrão tendem a apoiar Bolsonaro, ou seja, têm menos chances de deixar a base aliada. São elas: PTB, PP, PSC, Patriota e Republicanos.
Apesar de serem mais afinadas ao presidente, integrantes desses partidos não descartam uma mudança caso o cenário eleitoral sofra mudança substancial.
"Nós estaremos firmes com o presidente e já decidimos isso em convenção nacional do PTB. Apoiaremos Bolsonaro na reeleição", disse à reportagem o presidente nacional da legenda, Roberto Jefferson.
Já os partidos com mais probabilidade de apoiar um adversário e deixar a base aliada, na avaliação de caciques do Centrão, são PROS, Avante e Solidariedade. Na eleição de 2018, nenhum deles apoiou Bolsonaro. Os dois primeiros se aliaram a candidatos de esquerda: Fernando Haddad (PT) e Ciro Gomes (PDT), respectivamente.
O PL e o PSD são considerados uma incógnita. O apoio deles, segundo integrantes das legendas, vai depender dos acordos para as disputas estaduais e do desempenho dos presidenciáveis nas pesquisas de intenção de voto. Em caráter reservado, membros das legendas não descartam romper com Bolsonaro.
Apesar de ele contar com o poder de barganha da máquina federal, líderes das siglas não consideram que a entrega de cargos de primeiro escalão possa garantir apoios. Lembram que o centrão contava com postos na gestão da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e, ainda assim, deixaram o governo e apoiaram o impeachment da petista.
"Só o Lula pode vencer Bolsonaro e só Bolsonaro pode vencer Lula", diz o presidente nacional do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP).
Com a mesma lógica, eles avaliam que, caso a derrota de Bolsonaro também se mostre inevitável, dificilmente contará com o apoio da maior parte de sua base aliada. Por isso mesmo, nos próximos meses a expectativa é que Lula comece a articular encontros com dirigentes do Centrão, começando por PL e PSD.
Na tentativa de assegurar apoios, mesmo que não sejam garantia de fidelidade, Bolsonaro voltou a avaliar mudanças ministeriais. A expectativa é que o movimento que começou com a cessão do Ministério da Cidadania ao Republicanos tenha seguimento com a substituição do general Eduardo Pazuello, na Saúde, por um nome do PP.
Partido do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (AL), eleito com a ajuda de Bolsonaro, o PP tem dois nomes favoritos para o posto: os deputados Luiz Antonio Teixeira (RJ) e Ricardo Barros (PR) - que chefiou a pasta no governo Michel Temer.
O presidente, no entanto, tem afirmado a assessores palacianos que uma troca não deve ser feita neste momento.
Nos próximos meses até as eleições presidenciais, deputados e senadores observam uma série de variáveis que podem influenciar no posicionamento de cada partido para 2022, a começar pela definição de qual será a legenda de Bolsonaro.
Na semana passada, Bolsonaro afirmou estar conversando com alguns partidos. Citou como exemplo o PMB e o PSL. O último é o mesmo pelo qual disputou e venceu a eleição de 2018.
Para aliados do Centrão, o errático enfrentamento de Bolsonaro à pandemia do coronavírus, hoje o principal motivo de desgaste do governo, pode ser ignorado se o presidente conseguir adquirir vacinas e imunizar a população. Ele, inclusive, já havia sido aconselhado por nomes do bloco a focar sua energia em vacina e economia.
Nos últimos dias, Bolsonaro tem demonstrado tentar seguir o conselho, equilibrando acenos à sua base mais radical com uma guinada em seu discurso anti-imunização.
Por outro lado, é consenso no Centrão que, caso o presidente não lance um programa social duradouro, que perdure com o fim do pagamento do auxílio emergencial, dificilmente garantirá apoio do eleitorado nordestino, região mais dependente do Bolsa Família, programa federal que tem a paternidade de Lula reconhecida.
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