Após o ministro Marcelo Queiroga (Saúde) ter recebido diagnóstico de Covid em Nova York, o presidente Jair Bolsonaro decidiu fazer reunião de trabalho online e cancelar uma viagem prevista para esta sexta-feira (24) ao interior do Paraná.
A iniciativa de Bolsonaro ocorre após a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) ter recomendado o isolamento dos integrantes da comitiva presidencial que mantiveram contato com o titular da pasta nos Estados Unidos.
O avião presidencial com Bolsonaro decolou na noite de terça-feira (21) dos EUA e pousou em Brasília no início da manhã desta quarta (22). Ele seguiu para o Palácio da Alvorada, residência oficial.
A agenda do presidente tem uma reunião prevista dele no final da tarde com Pedro Cesar Sousa, subchefe para assuntos jurídicos da Secretaria-Geral da Presidência. Depois da divulgação da recomendação da Anvisa, o Planalto atualizou a agenda oficial e especificou que o despacho ocorrerá por videoconferência.
A reportagem questionou o Palácio do Planalto sobre se Bolsonaro pretende cumprir a orientação da Anvisa nos próximos dias, mas ainda não obteve resposta.
De acordo com o líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), Bolsonaro cancelou uma viagem que estava prevista para o Paraná nesta sexta-feira (24). O mandatário planejava participar de uma solenidade de entregas ao estado e, no dia seguinte, de uma motociata na região de Ponta Grossa.
"Cancelada a visita de Bolsonaro ao Paraná desta sexta feira. Aguardamos ansiosos a remarcação", escreveu o parlamentar.
A nota divulgada pela Anvisa não cita Bolsonaro, mas interlocutores na agência sanitária dizem que a orientação deveria se aplicar também ao mandatário.
No comunicado, a Anvisa informou que os membros da comitiva deveriam cumprir um período de isolamento de 14 dias, "nos termos do Guia de Vigilância Epidemiológica para Covid-19 publicado pelo Ministério da Saúde".
Queiroga acompanhou Bolsonaro na Assembleia-Geral da ONU, realizada anualmente em Nova York.
O ministro foi o segundo integrante da comitiva brasileira que recebeu diagnóstico para o vírus um diplomata também se infectou e deve permanecer isolado em Nova York antes de voltar ao Brasil.
A viagem de Bolsonaro foi marcada por um discurso negacionista na ONU, em que ele atacou medidas de distanciamento social e defendeu medicamentos comprovadamente ineficazes para a doença.
De acordo com a Anvisa, a recomendação de isolamento para os membros da missão que estiveram com Queiroga foi encaminhada à Casa Civil da Presidência.
A Anvisa elencou quatro recomendações: que os membros da comitiva desembarquem no Brasil de forma a expor o mínimo possível ambientes e pessoas; cumpram o período de isolamento de 14 dias após o último dia de contato com o caso confirmado de Covid-19 [Queiroga], conforme o Guia de Vigilância Epidemiológica para Covid-19 publicado pelo Ministério da Saúde; cumpram isolamento na cidade de desembarque no Brasil, evitando novos deslocamentos até que tenham ultrapassado o período de transmissibilidade do vírus; e sejam novamente testados em solo brasileiro.
Os diretores da Anvisa passaram a discutir recomendações de quarentena após serem alertados sobre a infecção de Queiroga.
A conversa entrou na madrugada e ainda há algumas dúvidas, por exemplo, sobre o que fazer se o presidente descumprir o isolamento. O consenso é o de que Bolsonaro deve imediatamente se isolar.
Para um integrante da agência que acompanha as discussões, as regras sobre a pandemia determinam que a vigilância sanitária local ou o médico devem avisar o Ministério Público e a autoridade policial sobre eventual descumprimento.
Com a vigilância local envolvida, parte da responsabilidade sobre monitorar Bolsonaro e sua comitiva fica nas mãos do governo de Ibaneis Rocha, do Distrito Federal.
Além disso, o presidente deve realizar novo exame RT-PCR cinco dias após o último contato com Queiroga. Se o teste der negativo, ele fica liberado do isolamento e segue sob monitoramento até fechar o ciclo de 14 dias, segundo a leitura de uma das autoridades que ajudou a elaborar a recomendação.
A agência ainda deve divulgar orientação mais clara sobre como o presidente pode deixar a quarentena antes dos 14 dias.
Ao chegar em seu gabinete, o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) afirmou acreditar que Queiroga tenha viajado infectado para os Estados Unidos.
"O ministro já deve ter saído daqui, pelo o que a gente conhece em termos de contaminação... A contaminação leva de cinco a sete dias, ele estava há dois dias nos EUA", disse. Ele ressaltou não saber se foi exigido apresentação da PCR para autoridades vacinadas e reiterou que, na sua opinião, Queiroga não se contaminou nos EUA.
"Volto a dizer, posso até estar enganado. Acho que o ministro Queiroga já saiu daqui carregando o bichinho", declarou Mourão.
Queiroga esteve em vários eventos ao lado do presidente em Nova York, como o jantar na noite de segunda (20) que terminou em confusão. Na ocasião, ele mostrou o dedo do meio a ativistas que protestavam contra o governo.
Na segunda, Queiroga esteve no encontro com o premiê britânico, Boris Johnson que depois se reuniu com o presidente dos EUA, Joe Biden. Ao ser questionado sobre o primeiro caso de Covid na comitiva, o ministro disse: Estamos em pandemia, e coisas assim [contaminações] podem acontecer.
Ele também foi à parte externa do memorial dos ataques de 11 de Setembro, no World Trade Center, na tarde de terça. No local houve uma aglomeração em torno do presidente, que foi cercado por turistas.
O ministro das Relações Exteriores, Carlos França, esteve ao lado de Queiroga em vários desses eventos e também na van que os transportou na saída do jantar de segunda.
França se encontrou com o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, na tarde de terça. Ele tem outros encontros bilaterais agendados nesta quarta em Nova York.
De acordo com o Itamaraty, França suspendeu sua agenda da manhã desta quarta "por precaução". Ainda na manhã desta quarta, segundo a chancelaria, o ministro fez teste para a Covid e o resultado foi negativo.
Além do evento no memorial do 11 de Setembro, Queiroga esteve na terça ao lado de Bolsonaro nos encontros com o presidente polonês, Andrzej Duda, com o secretário-geral da ONU, António Guterres, e em uma reunião com a Opas (Organização Pan-Americana de Saúde).
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