SÃO PAULO - O presidente Jair Bolsonaro (PL) usou um evento eleitoral neste sábado (30), em São Paulo, para mais uma vez atacar o STF (Supremo Tribunal Federal) com declarações distorcidas e para convidar seus apoiadores aos desfiles oficiais do 7 de Setembro, os quais planeja transformar em atos bolsonaristas. Ele também anunciou uma "inovação" para celebrar a data, com um desfile militar em Copacabana.
O feriado de 7 de Setembro deste ano marca os 200 anos da Independência do Brasil. Na data, Bolsonaro estará em desfiles oficiais das Forças Armadas pela manhã, em Brasília, como é tradição, e também no Rio de Janeiro.
"Sei que vocês [paulistas] queriam [que o ato fosse] aqui [em SP]. Queremos inovar no Rio. Pela primeira vez, as nossa Forças Armadas e a as forças auxiliares estarão desfilando na praia de Copacabana", anunciou o chefe do Executivo federal.
Em 2021, o 7 de Setembro teve falas golpistas de Bolsonaro em Brasília e em São Paulo.
"Vamos comemorar 200 anos de independência [do Brasil], mas vamos comemorar também como marco por mais 200 de liberdade", emendou o presidente, que recorrentemente ataca o STF e seus oponentes como entes que querem tomar cercear a liberdade dos brasileiros.
Segundo pesquisa Datafolha desta semana, a campanha golpista de Bolsonaro contra o sistema eleitoral e o Judiciário é vista com preocupação pela maioria dos brasileiros, que acreditam que as ameaças têm de ser levadas a sério pelas instituições. Ao mesmo tempo, o mesmo contingente não vê o presidente dando um golpe.
Nos últimos meses, Bolsonaro retomou com força sua carga contra as instituições, seja por convicção, seja pelo temor de derrota na eleição e possível exposição sua e de sua família à Justiça comum -as acusações contra o clã Bolsonaro se acumulam.
Bolsonaro convocou a população a ir às ruas novamente no 7 de Setembro deste ano criticando os "surdos de capa preta", ou seja, ministros do Supremo e do TSE.
Isso ocorreu em 2021, quando acabou entregando o controle do governo ainda mais ao centrão devido ao risco de ruptura e eventual processo de impedimento.
Mais recentemente, em 18 de julho, ele também chamou embaixadores lotados em Brasília para expor suas mentiras acerca das urnas e do processo eleitoral, repetindo argumentos já descartados após sua exposição em uma live no ano passado.
Bolsonaro passou então a enfrentar uma forte reação à campanha. Manifestos que começaram com intelectuais e hoje abarcam todas as principais entidades empresariais do país foram redigidos em prol da democracia.
No dia 11 de agosto, eles serão lidos na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, palco histórico da defesa de princípios democráticos. Nesse segmento mais elitizado, há uma percepção maior tanto de que as ameaças são sérias quanto de que o presidente não dará um golpe.
Neste sábado, Bolsonaro discursou na convenção nacional do Republicanos que confirmou a candidatura do ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos) ao Governo de São Paulo.
O evento também serviu como convenção estadual do PTB paulista e contou com a presença do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PTB-SP), que vai ten tar se reeleger para a Câmara por São Paulo e dos deputados bolsonaristas Daniel Silveira (PL-RJ) e Carla Zambelli (PL-SP).
O ex-presidente da Fundação Palmares Sérgio Camargo, que também quer se eleger deputado federal, também compareceu.
"Me tiraram o direito de conduzir a pandemia. Foi tirado pelo Supremo. Mas eu não errei nenhuma das sugestões que eu dei para a população. Não conseguia dormir com o fechamento do comércio por todo o Brasil, e em especial aqui no estado de São Paulo", disse Bolsonaro no seu discurso desta manhã a um público que vestia camisetas com as cores do Brasil.
A afirmação, porém, é não é verdadeira. O STF apenas julgou ações e impediu que Bolsonaro interferisse em decisões e programas de estados e municípios de combate à pandemia, e não que o Palácio do Planalto fosse impedido de liderar ações coordenadas com os demais entes federados.
Na fala de improviso neste sábado, Bolsonaro fez mais uma adaptação sobre seu discurso acerca da corrupção em seu governo. Agora diz que não há "corrupção orgânica em nosso governo".
Segundo a mais recente pesquisa do Datafolha, a percepção de que há corrupção na gestão Bolsonaro (PL) é disseminada: 73% dos brasileiros acreditam que ela ocorre no governo federal.
Ao iniciar seu discurso no evento de Tarcísio, dirigiu-se à "imprensa brasileira" ao afirmar que pede a Deus para que a população não experimente o que chamou de "dores do comunismo".
Bolsonaro aparece em segundo lugar nas pesquisas, 18 pontos atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no cenário de 1º turno, segundo a mais recentes pesquisa do Datafolha, realizada nesta semana. "Aquele cara quer voltar à cena do crime", disse sobre Lula.
Sem citar o nome do petista, Bolsonaro voltou a acenar a questões do campo conservador que agradam a sua base para atacar o seu rival no pleito deste ano –uma disputa que a campanha dele tem resumido como "uma batalha do bem contra o mal".
"O outro lado quer destruir a familia brasileira, quer legalizar as drogas, quer legalizar o aborto, que desarmar a população", discursou o presidente. "Uma arma de fogo, mais que a defesa da sua familia, é a defesa da nossa nação", seguiu.
"Se nós colocarmos um bêbado pra pilotar uma ferrari ele vai capotar na primeira curva. Se nós colocarmos um marxista na presidência, a primeira medida dele vai ser roubar a liberdade de vocês", afirmou Bolsonaro.
A primeira-dama Michelle Bolsonaro também discursou no evento de Tarcísio em um tom de pregação no qual fez diversas referências a Deus e citou versículos bíblicos. "Seja a primeira-dama mais maravilhosa do estado de SP", disse Michelle à esposa de Tarcísio, Cristiane Freitas. "A missão é árdua. Mas Deus está com vocês".
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