BRASÍLIA - Candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro em 2022, o general Walter Braga Netto manifestou irritação com os comandantes do Exército e da Aeronáutica durante as discussões de um plano para reverter a derrota na eleição daquele ano.
Mensagens obtidas pela Polícia Federal que embasaram prisões e buscas nesta quinta-feira (8) mostram que Braga Netto teria chamado o então comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, de "cagão" por não aderir à tentativa de golpe.
Em outras conversas, o general incentiva críticas ao então comandante da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Júnior, a quem se refere como "traidor da pátria".
De acordo com a PF, as mensagens foram enviadas por Braga Netto para Ailton Barros, capitão expulso do Exército que estimulava um golpe militar em conversas com Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro.
A PF cumpre na manhã desta quinta-feira (8) mandados de busca e prisão contra ex-ministros de Bolsonaro e militares envolvidos na suposta tentativa de golpe para manter o ex-presidente no poder.
Um dos alvos é o próprio ex-presidente – ele terá que entregar o passaporte em 24 horas para a PF. Bolsonaro já foi condenado pelo TSE por ataques e mentiras sobre o sistema eleitoral e é alvo de outras investigações no STF (Supremo Tribunal Federal). Ele está inelegível até 2030.
Além de Braga Netto, entre os alvos das medidas desta quinta-feira estão os ex-ministros general Augusto Heleno e Anderson Torres. Também são alvos outros militares e Valdemar da Costa Neto, presidente nacional do PL, partido de Bolsonaro.
A ação foi batizada de Tempus Veritatis e investiga uma organização criminosa que, diz a PF, atuou na tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito "para obter vantagem de natureza política com a manutenção do então presidente da República no poder".
As medidas foram autorizadas pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, no âmbito do inquérito das milícias digitais.
Além das prisões e buscas, a PF também cumpre medidas diversas como a proibição de manter contato com os demais investigados, proibição de se ausentarem do país, entrega dos passaportes no prazo de 24 horas e suspensão do exercício de funções públicas.
São cumpridos mandados nos estados de Amazonas, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Ceará, Espírito Santo, Paraná e Goiás e o Distrito Federal.
Segundo a PF, as investigações apontam o grupo investigado se "dividiu em núcleos de atuação para disseminar a ocorrência de fraude nas Eleições Presidenciais de 2022, antes mesmo da realização do pleito, de modo a viabilizar e legitimar uma intervenção militar, em dinâmica de milícia digital".
Primeiro, diz a Polícia Federal, o grupo atuou para construir e propagar a versão de que havia tido fraude na eleição de 2022, "por meio da disseminação falaciosa de vulnerabilidades do sistema eletrônico de votação, discurso reiterado pelos investigados desde 2019 e que persistiu mesmo após os resultados do segundo turno do pleito em 2022".
Em seguida, de acordo com a PF, foram desenvolvidos atos concretos para "subsidiar a abolição do Estado Democrático de Direito, através de um golpe de Estado, com apoio de militares com conhecimentos e táticas de forças especiais no ambiente politicamente sensível".
Valdemar Costa Neto, presidente do PL
Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI)
Walter Souza Braga Netto, ex-ministro da Defesa
Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e Segurança Pública
Paulo Sérgio Nogueira, ex-comandante do Exército
Almir Garnier Santos, ex-comandante-geral da Marinha
Estevam Cals Theóphilo Gaspar de Oliveira, ex-chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército
Tércio Arnaud Thomaz, ex-assessor de Bolsonaro e considerado um dos responsáveis do chamado "gabinete do ódio"
Filipe Martins, ex-assessor especial de Bolsonaro
Marcelo Câmara, coronel do Exército citado em investigações como a dos presentes oficiais vendidos pela gestão Bolsonaro e a das supostas fraudes nos cartões de vacina da família Bolsonaro
Rafael Martins, major das Forças Especiais do Exército
Bernardo Romão Corrêa Netto, coronel do Exército
Ailton Gonçalves Moraes Barros, militar paraquedista
Amauri Feres Saad, advogado, teria ajudado a preparar a minuta golpista encontrada com Anderson Torres
Angelo Martins Denicoli, major da reserva do Exército, morador de Colatina
Cleverson Ney Magalhães, coronel do exército
Eder Lindsay Magalhães Balbino, empresário
Guilherme Marques Almeida, coronel do Exército
Hélio Ferreira Lima, tenente-coronel do Exército
José Eduardo de Oliveira e Silva
Laércio Vergílio
Mario Fernandes
Ronald Ferreira de Araújo Júnior
Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros, major do Exército
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