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Braga Netto entregou dinheiro em sacola de vinho para plano de matar autoridades, diz Moraes

Braga Netto entregou dinheiro em sacola de vinho para plano de matar autoridades, diz Moraes

Segundo delação de Mauro Cid, valores vieram do "pessoal do agronegócio"; defesa do general não se manifestou até o momento

Publicado em 14 de dezembro de 2024 às 14:54

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CÉZAR FEITOZA E PAULO SALDAÑA

BRASÍLIA - A decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), que autorizou a prisão do general Walter Braga Netto, relata que ele "obteve e entregou os recursos necessários" para a organização e execução do plano de matar Lula (PT), Geraldo Alckmin (PSB) e o próprio Moraes.

O ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL) foi preso na manhã deste sábado (14) pela PF (Polícia Federal) sob a suspeita de interferir nas investigações sobre a trama golpista em 2022. General de quatro estrelas do Exército, ele também foi candidato a vice na chapa de Bolsonaro na eleição de 2022.

Ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto
Braga Netto foi preso sob a suspeita de interferir nas investigações sobre a trama golpista em 2022. (Isac Nóbrega/PR)

A decisão afirma que o novo depoimento do tenente-coronel Mauro Cid a Moraes, em 21 de novembro, associado a documentos obtidos na investigação, indica que "foi Walter Braga Netto quem obteve e entregou os recursos necessários para a organização e execução da operação 'Punhal Verde e Amarelo' - evento 'Copa 2022'".

O Plano Punhal Verde Amarelo previa matar as autoridades, e o evento Copa 2022 era a operação, abortada de última hora, para sequestrar Moraes no dia 15 de dezembro de 2022.

A defesa do general foi procurada, mas não se manifestou até o momento. Quando o plano veio à tona, Cid disse que não tinha conhecimento dele. Depois, o tenente-coronel prestou novo depoimento no âmbito de sua colaboração, diretamente a Moraes.

No relatório final do caso, divulgado em novembro, a PF havia listado uma série de atividades e mensagens de suspeito teor golpista que tiveram início a partir da reunião em 12 de novembro de 2022 na casa do general, que foi vice na chapa de Bolsonaro.

Cid apresentou, segundo a decisão de Moraes divulgada neste sábado, novos elementos sobre as circunstâncias desse encontro, ocorrido na residência de Braga Netto em 12 de novembro.

Em uma versão anterior apresentada à PF, Mauro Cid disse que o encontro de militares das Forças Especiais com Braga Netto em novembro de 2022 ocorreu porque os militares queriam tirar fotos e cumprimentos o general.

No local, segundo Cid, eles haveriam discutido sobre a "conjuntura nacional do país, a importância das manifestações, o pedido de intervenção militares [...], se as manifestações podiam estar lá [em frente aos quartéis]".

Já o termo de audiência do depoimento de Cid ao Supremo, em 21 de novembro, diz que o tenente-coronel levou os militares ao apartamento de Braga Netto para falar sobre a "indignação com a situação do país e a necessidade de ações concretas".

O documento do Supremo diz ainda que o tenente-coronel Rafael de Oliveira se encontrou com Braga Netto dias depois da reunião de 12 de novembro de 2022. Na ocasião, o general entregou a Oliveira dinheiro em espécie, guardado em uma "sacola de vinho", para a "realização da operação".

Os valores, segundo a delação de Cid, teriam sido obtidos com o "pessoal do agronegócio".

O trecho do termo de depoimento de Cid no STF não deixa claro se o dinheiro havia sido repassado com o objetivo de financiar o plano de assassinar autoridades. Em trechos anteriores da delação, Mauro Cid disse que o tenente-coronel Rafael de Oliveira pediu R$ 100 mil para levar bolsonaristas de outras regiões do país ao acampamento golpista montado em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília.

As conclusões da Polícia Federal e de Alexandre de Moraes, porém, são de que os valores foram utilizados para viabilizar o plano de executar autoridades.

Moraes ressalta na decisão que há "fortes indícios e substanciais provas" de que Braga Netto "contribuiu, em grau mais efetivo e de elevada importância do que se sabia anteriormente" para o planejamento e financiamento de um golpe de Estado, e cuja consumação incluía o plano de detenção e possível execução do próprio Moraes, além de Lula e Alckmin.

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, concordou com a operação. Ele disse que a representação da Polícia Federal traz "provas suficientes de autoria e materialidade dos crimes graves cometidos pelos requeridos".

Para Gonet, somente a prisão de Braga Netto seria suficiente para mitigar "riscos à ordem pública e à aplicação da lei penal".

A Polícia Federal prendeu Braga Netto na manhã deste sábado (14) em sua casa no Rio de Janeiro. Endereços ligados ao general também são alvo de buscas e apreensões. O general já foi indiciado pela trama golpista.

A Polícia Federal ainda faz buscas contra o coronel da reserva Flávio Peregrino, principal auxiliar de Braga Netto desde o governo Bolsonaro. Ele foi alvo de uma cautelar diversa de prisão.

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