O Brasil teve o segundo pior ano de desmatamento na Amazônia na série histórica recente. Com relativamente pouca diferença, somente o período de 2019-2020 foi mais destrutivo para o bioma.
Os dados do Deter, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), apontam que, de agosto de 2020 a julho de 2021, foram derrubados cerca de 8.712 km² de floresta, queda de aproximadamente 5% em relação aos 9.216 km² do período anterior. O histórico recente do Deter tem início em 2015.
A destruição ocorrida em julho deste ano ainda não está completa no sistema do Inpe, devido à ausência, até o momento, do último dia do mês. A inclusão do dia 31 de julho, porém, provavelmente não trará grandes alterações no cenário.
O Deter é um sistema usado para auxiliar as políticas de controle de desmatamento, mas seus dados também podem ser utilizados para observar as tendências de crescimento ou redução do desmate durante o ano.
O sistema Prodes é o que aponta, anualmente -sempre considerando o período de agosto de um ano até julho do ano seguinte, o que reflete as dinâmicas de destruição e temporadas secas e de chuvas da floresta-, as taxas de desmate na Amazônia.
O período 2020-2021 do Deter teve meses com desmatamento elevadíssimo, com quatro deles superando desmates de 1.000 km² e outros dois não muito distantes da marca.
Enquanto o desmate se mantinha em níveis elevados, provocando olhares internacionais de preocupação dirigidos ao Brasil, as ações na área ambiental do governo Bolsonaro praticamente não mudaram do ano passado para cá.
Mais uma vez, o governo apostou na Operação Verde Brasil e entregou o combate ao desmatamento às Forças Armadas, medida criticada por especialistas pelos seus elevados custos -em relação às verbas destinadas ao Ibama, entidade do Ministério do Meio Ambiente especializada em combate a crimes ambientais- e reduzida efetividade, considerando as altas taxas de destruição mensal vistas durante a administração Bolsonaro.
Mesmo sem mostrar resultados expressivos, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) prorrogou até 31 de agosto a chamada GLO (Garantia da Lei e da Ordem) ambiental, que possibilita a atuação militar contra desmatamento.
Bolsonaro costuma, desde antes de sua posse, minimizar a importância do desmatamento e das queimadas na Amazônia. A mesma linha foi seguida pelo ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que deixou o cargo no fim de junho, em meio a inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal) por operação da Polícia Federal que mira suposto favorecimento a empresários do setor de madeiras por meio da modificação de regras com o objetivo de regularizar cargas apreendidas no exterior.
Salles chegou a afirmar, em 2019, que o Amazônia já tinha desmatamento relativo zero e que não estava longe do desmatamento ilegal zero. Os dados, contudo, apontavam e continuam apontando para outro caminho, com crescimentos sucessivos da derrubada de mata, a maior parte dela praticada ilegalmente.
Bolsonaro e integrantes do seu governo costumam apontar, sem apresentar quaisquer provas, supostos interesses externos na Amazônia, que se relacionariam à preocupação com a fauna. Durante períodos com elevados números de desmate e queimadas, como o momento atual, membros do governo costumam se queixar também de propaganda negativa ambiental no exterior, pelo destaque que a destruição da floresta recebe.
Ao mesmo tempo, é comum ouvir de Bolsonaro e de pessoas próximas ao presidente a ideia de que é necessário desenvolver a região Amazônia. Para isso, porém, apontam como alternativas ações de considerável impacto ambiental, como exploração de ouro e outras atividades em terras indígenas, áreas de proteção que, costumeiramente, apresentam baixas taxas de desmatamento.
O presidente também se coloca abertamente contra demarcação de terras indígenas e criação de novas áreas de proteção. Bolsonaro, inclusive, defende a revogação de algumas áreas protegidas, visando exploração econômica.
Especialistas alertavam, desde o início do governo Bolsonaro, que o discurso da atual administração de minimização dos problemas ambientais poderia ser lido como salvo-conduto para crimes ambientais e, consequentemente, resultar em crescimento do desmate.
As preocupações com política ambiental internacional e mudanças climáticas também não costumam receber grande atenção do governo Bolsonaro. O presidente, por exemplo, foi responsável por pedir para que a COP-25, a conferência anual da ONU para negociar a implementação do Acordo de Paris, não fosse realizada no Brasil em 2019.
Nesta semana, Bolsonaro se recusou a encontrar o britânico Alok Sharma, presidente da COP-26, que chegou a se deslocar ao Palácio do Planalto para a reunião, mas não foi recebido. Duas semanas antes, Bolsonaro recebeu e tirou fotos com uma líder da ultradireita alemã.
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