SÃO PAULO - Dois dias depois de terem sido autorizados a deixar a Faixa de Gaza rumo ao Egito, os 32 brasileiros e palestinos inscritos para repatriação pelo Itamaraty enfim conseguiram sair do território sob ataque de Israel neste domingo (12). Duas pessoas, mãe e filha, que constavam da lista original de 34 nomes decidiram permanecer em Gaza.
O grupo estava retido porque a fronteira havia sido fechada na sexta-feira (10), permanecendo assim no sábado (11). Agora, eles serão atendidos por equipe com médico, enfermeiro e psicólogo enviada pelo Brasil em um avião VC-2, a versão operada pela Força Aérea para a Presidência do Embraer-190.
Eles deverão pegar um ônibus por cinco horas para o Cairo, onde a aeronave estava, ou farão uma viagem mais curta para a base de al-Arish, onde um VC-2 está autorizado para pousar. De um dos pontos, irão para Roma, Las Palmas, Recife e, enfim, Brasília.
O Egito havia dado a autorização para a saída, que é coordenada com Tel Aviv sob consulta dos EUA e do Qatar, mediadores do acordo de passagem de estrangeiros, na sexta-feira. O grupo foi incluído numa leva de quase 600 pessoas autorizadas.
Até o momento, cerca de 80 pessoas de diferentes nacionalidades cruzaram a fronteira, além de palestinos feridos que chegaram ao solo egípcio para receber tratamento médico.
Neste domingo, o papa Francisco pediu que os feridos em Gaza sejam atendidos imediatamente e que a proteção aos civis e mais ajuda humanitária sejam garantidas, ao lado da libertação de reféns mantidos pelo Hamas.
"Que as armas possam parar, elas nunca trarão paz", disse Francisco após a oração semanal do Angelus.
Mas incidentes envolvendo ambulâncias levando feridos graves palestinos, cuja passagem para o Egito é prioritária, fecharam novamente o posto de Rafah. Na sexta, houve a suspeita de que motoristas de veículos eram terroristas do Hamas tentando deixar Gaza, além de relatos de combates intensos que impediram a saída de pacientes da capital homônima da faixa.
No sábado, o isolamento do principal hospital da capital homônima da faixa, o al-Shifa, impediu que qualquer veículo chegasse a Rafah.
Atender primeiro os feridos é precondição dos egípcios autorizarem a abertura dos portões em Rafah, que levam à cidade homônima no país árabe. O Hamas, grupo terrorista palestino que disparou a atual guerra com o ataque de 7 de outubro a Israel, administra a faixa desde 2007.
A frustração entre os brasileiros foi grande, até devido ao vaivém das chances de deixar Gaza, mas ao menos a autorização estava dada. Foram seis levas de permissões para estrangeiros até que chegasse a vez dos brasileiros.
A demora levou a insinuações de que Israel estaria vetando a passagem do grupo brasileiros para retaliar contra a condução do país de discussões sobre a guerra no Conselho de Segurança da ONU, que ele presidiu em outubro.
Não há evidências disso, mas o azedume entre Brasília e Tel Aviv vai além disso, e inclui o encontro do embaixador israelense com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o atrito entre a Polícia Federal e o serviço secreto israelense Mossad acerca da operação que desarticulou ataques do Hezbollah libanês no Brasil.
Nesta semana, a Embaixada de Israel em Brasília rebateu as alegações sobre uma suposta indisposição do país em relação à passagem dos brasileiros, e foi numa conversa entre o chanceler Eli Cohen e o seu homólogo brasileiro, Mauro Vieira, que foi anunciada a entrada do grupo do Itamaraty na lista de autorizações emitida pelo Egito.
Cerca de 4.000 pessoas com passaporte estrangeiro ou dupla nacionalidade já tiveram a autorização para deixar Gaza desde o dia 1º de novembro, mas nem todas conseguiram sair devido às suspensões constantes da passagem. No total, 7.500 terão esse direito, o maior contingente sendo de americanos (1.200 pessoas).
A guerra na região registrou 1.200 mortos, em números revisados nesta sexta, do lado de Israel, e cerca de 11 mil em Gaza, nas contas do Hamas.
A degradação da qualidade de vida em Rafah e Khan Yunis, onde os brasileiros estavam depois de terem sido retirados da Cidade de Gaza, era grande. Faltava tudo, de água a diesel para geradores, passando por alimentos e remédios. O Itamaraty custeou a estadia e os gastos das famílias.
Antes deles, 1.410 brasileiros haviam sido retirados de Israel e 32, da Cisjordânia ocupada. Foi a maior operação de evacuação de zonas de guerra operada pela Força Aérea na história, mas o drama dos futuros refugiados de Gaza foi mais estático, arrastando-se por quase todo o conflito até aqui.
Coordenaram os esforços os embaixadores Alessandro Candeas (Cisjordânia), Frederico Meyer (Israel) e Paulino Franco Neto (Egito). Uma equipe da representação no Cairo passou a noite em al-Arish à espera das notícias sobre os brasileiros na fronteira.
Uma vez no Brasil, aqueles refugiados que não têm família no país poderão ficar em abrigos que o Ministério do Desenvolvimento Social já reservou, em São Paulo. Alguns parentes que não eram elegíveis ou não fizeram pedido a tempo para sair de Gaza poderão ser objeto de uma eventual segunda leva de repatriação.
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