Oito meses após o rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), bombeiros resgataram na manhã deste domingo (29) mais um corpo.
O corpo praticamente inteiro foi localizado a cerca de 2,5 metros de profundidade, a cerca de sete quilômetros da barragem que se rompeu.
Apesar de praticamente inteiro, a Defesa Civil de Minas Gerais vai aguardar a perícia da Polícia Civil antes de alterar o balanço de vítimas da tragédia. O último balanço indica 249 mortos e 21 desaparecidos.
Cerca de 150 bombeiros seguem trabalhando para tentar localizar os desaparecidos.
IDENTIFICAÇÃO DE VÍTIMAS
Passados oito meses desde o rompimento da barragem B1, em 25 de janeiro, 21 famílias ainda esperam o telefonema do IML (Instituto Médico Legal) com o aviso de que poderão enterrar filhos, filhas, pais, mães, irmãos e irmãs.
Identificar corpos e segmentos de corpos encontrados na lama pelos Bombeiros virou o trabalho mais longo da história da Polícia Civil de Minas Gerais.
"Desde janeiro até agora, a prioridade total do laboratório tem sido Brumadinho", diz a chefe do laboratório de DNA, Valéria Rosalina Dias.
Em agosto, o laboratório recebeu o Ilumina --sequenciador de DNA de última geração--, que promete acelerar o trabalho feito pelos peritos. Com custo de aproximadamente R$ 2 milhões, o equipamento foi doado ao estado pela Vale, como compensação pela tragédia.
Como a tecnologia ainda é novidade para os peritos de Minas Gerais, até o momento, apenas um segmento de uma das vítimas foi identificado através dele. Segundo Valéria, estão em processamento 52 laudos de amostras, mas nenhum concluído. Cada teste tem custo médio de R$ 6.000.
A máquina, que parece uma impressora à primeira vista, consegue sequenciar cerca de dois terços do genoma humano em 30 horas. Isso significa que consegue apresentar uma gama maior de polimorfismos --marcadores de regiões do DNA que são específicos de cada indivíduo-- para serem analisados e comparados com familiares, como pais ou irmãos.
A dificuldade atual do laboratório está na análise do número maior de marcadores disponíveis e no desenvolvimento de cálculos de bioinformática que ajudem a mostrar até que ponto o resultado apontado é confiável.
"Por exemplo, quando identificamos uma pessoa de Brumadinho, no laudo pericial afirmamos que é 10 milhões de vezes mais provável que o casal tal seja pai daquela ossada do que qualquer outro casal na população. Com o Ilumina, precisamos valorar esse resultado também, qual o peso de probabilidade dele", explica Valéria.
Um perito de Minas Gerais foi a Porto Alegre para aprender a trabalhar com o sistema Ilumina, junto ao laboratório de Genética Humana e Molecular / Genética Forense da PUCRS. O aparelho no Rio Grande do Sul também é habilitado para análises forenses, em parceria com a Polícia Federal, segundo a universidade.
Desde o início de julho, a lista de vítimas identificadas na tragédia foi atualizada apenas duas vezes, elevando o número oficial de mortos para 249. Valéria explica que os laudos continuam sendo liberados, o problema é que muitas vezes eles se relacionam a segmentos de vítimas que já foram identificadas.
Há 134 casos de Brumadinho em andamento no laboratório esperando para serem solucionados. Foram analisadas e inseridas no banco de dados amostras de 565 familiares. Do total de 782 casos encaminhados ao IML, foram identificados 551 --286 analisados por teste de DNA. Apenas 37 vítimas foram identificadas apenas por DNA.
O exame de DNA é a última opção. Quando são encontradas partes como cabeça ou membros da vítimas, com impressões digitais, são feitos exames de odontologia e papiloscopia para o reconhecimento. Em caso de partes com tatuagens específicas, a análise é antropológica.
"Se usando essas técnicas eles não conseguem identificar, aí sim vem para o DNA. A gente é a última opção, porque é um exame caro, demorado, mais difícil", explica a perita criminal.
Na porta do escritório dela, no Centro de Belo Horizonte, folhas colocadas de cima a baixo do lado de fora da porta montam um fluxograma do passo a passo a ser seguido nas identificações de Brumadinho e como resolver possíveis dúvidas que podem surgir aos peritos.
A referência usada por eles, assim que ocorreu a tragédia, foram acidentes aéreos recentes que ocorreram no país. O primeiro passo foi criar um banco de dados para estabelecer vínculo genético entre as vítimas e familiares.
Como as amostras resgatadas estão cada vez mais degradadas, o DNA deve ser a principal via de identificação daqui para frente. Apesar de a lama de rejeitos ter apresentado o fenômeno de saponificação --como se mumificasse os corpos-- Valéria explica que o minério também tem sido um desafio. Alterações químicas provocadas por ele nas amostras podem atrapalhar a ação dos reagentes utilizados para extrair DNA.
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