O Instituto Butantan negocia a compra de mais 20 milhões de doses da vacina Coronavac com o laboratório chinês Sinovac, além das 100 milhões já acordadas para entrega até setembro, disse o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), em entrevista à agência de notícias Reuters.
"Eu autorizei o doutor Dimas Covas, presidente do Instituto Butantan, para que fizesse um pedido de compra de mais 20 milhões de doses da vacina à Sinovac, além das 100 milhões já demandadas", disse Doria na entrevista, concedida na ala residencial do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo estadual, nesta quinta-feira (4).
O Butantan fechou contrato com o Ministério da Saúde para entrega até abril de 46 milhões de doses da Coronavac, vacina que foi testada no Brasil pelo instituto ligado ao governo paulista, e aguarda para esta semana a assinatura do contrato de confirmação da opção de compra pelo ministério de mais 54 milhões de doses até setembro.
A vacina vem sendo envasada no Butantan após o recebimento do insumo farmacêutico ativo (IFA) importado da China. Uma nova fábrica está sendo construída para a produção completa da vacina pelo Butantan, que deve iniciar a fabricação em escala a partir de janeiro.
Os 20 milhões de doses adicionais atualmente em negociação atenderiam este período entre setembro e janeiro. Doria manifestou confiança de que a aquisição será concretizada.
"Está na etapa de negociação, mas o laboratório Sinovac tem sido um bom parceiro, muito correto e muito solidário às nossas necessidades aqui do Brasil, e não tenho dúvida nenhuma de que nos atenderá nessa solicitação", afirmou o governador.
Depois de um atraso na entrega dos insumos da Coronavac, o Butantan recebeu na noite de quarta-feira o IFA para o envase de 8,6 milhões de doses da vacina, com entrega prevista a partir do dia 25. Na próxima semana, também na quarta-feira, deve chegar ao Brasil um novo lote de insumos, dessa vez para a produção de mais 8,7 milhões de doses do imunizante.
Doria disse que as negociações para a liberação dos insumos pelo governo chinês foram feitas pelo governo paulista, que tem um escritório de representação em Xangai, com o apoio da embaixada da China no Brasil.
O governador disse que a representação do governo federal em Pequim não participou das tratativas, embora tenha declarado que mantém boa relação com a embaixada brasileira na China. Ele disse ainda que as futuras importações de insumos da Sinovac para o Butantan agora devem ser "constantes".
"Muito provavelmente recebermos lotes de vacinas semanalmente, ou na pior das hipóteses a cada 10 dias", disse o governador.
De acordo com o governador, até o momento o Ministério da Saúde ainda não pagou pelas 8,7 milhões de doses da Coronavac já entregues pelo Butantan, apesar de o presidente Jair Bolsonaro, desafeto político de Doria, ter assinado uma medida provisória que destina 20 bilhões de reais para a compra de vacinas contra Covid-19.
O Butantan está vendendo a dose da Coronavac ao Ministério da Saúde por 10,30 dólares. O contrato inicial do instituto com a Sinovac, que previa a entrega de 6 milhões de doses prontas e 40 milhões em insumos, além da transferência de tecnologia, foi de 90 milhões de dólares.
"Ainda não recebemos. E há um prazo a ser cumprido. Até o final deste mês de fevereiro, portanto até 28 de fevereiro, o governo deve cumprir o pagamento das doses que já recebeu. Se não o fizer, não receberá mais doses da vacina do Butantan", disse Doria.
"Aí voltamos àquelas prerrogativas dos governos estaduais. Não havendo compra pelo governo federal, os governos estaduais farão essa compra para a imunização das suas populações. Mas isso de certa forma quebra o pacto federativo, porque sempre foi o governo federal que fez a aquisição de vacinas... Seria uma lástima quebrar mais essa referência do Programa Nacional de Imunização."
Doria repetiu o ultimato que deu ao ministério recentemente apontando que, caso o contrato para o lote adicional de 54 milhões de doses não seja assinado até esta sexta, o Butantan venderá a vacina diretamente aos Estados. A pasta disse que assinaria o acordo nesta semana.
Além das doses da Coronavac entregues pelo Butantan, o ministério tem, até o momento, 2 milhões de doses da vacina desenvolvida pela AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford no Programa Nacional de Imunização. Nesta quinta, o ministério disse que espera para sábado a chegada de insumos da China aguardados desde janeiro para o início do envase da vacina da AstraZeneca pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Indagado sobre o ritmo de vacinação em São Paulo -até a noite de quinta cerca de 660 mil pessoas haviam sido vacinadas no Estado, o que significa um percentual menor da população do que em outros Estados- Doria reconheceu que "é possível acelerar" a imunização contra a Covid-19.
"Eu determinei à área de imunização que acelerasse esse processo, dado ao fato de que nós agora estamos seguros que o Instituto Butantan receberá semanalmente doses da vacina para poder atender à necessidade da população do Estado de São Paulo", afirmou.
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