O vídeo compartilhado nas redes sociais pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), neste sábado (2), com um homem que apresenta teorias sobre o atentado sofrido pelo então candidato na campanha eleitoral, veio a público em 2019 e já teve o conteúdo analisado pela Polícia Federal.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, a PF concluirá nos próximos dias o relatório parcial do segundo inquérito aberto para esclarecer o caso. Até o momento, a tese propagada por Bolsonaro de que haveria um mandante do ataque está descartada.
A investigação mostrou que o autor do ataque, Adélio Bispo de Oliveira, agiu sozinho. O esfaqueador foi declarado inimputável e absolvido pela Justiça. Ele cumpre medida de segurança na penitenciária federal de Campo Grande (MS). A defesa de Bolsonaro não recorreu da absolvição.
A gravação postada pelo presidente é narrada por um homem que se identificou como "apenas um técnico de informática", um "mero cidadão" que quer Justiça. Seu nome não foi informado.
Ele exibe imagens gravadas momentos antes do atentado, durante um ato de campanha em Juiz de Fora (MG), em setembro de 2018, enquanto faz comentários sugerindo que Adélio teria atuado em conjunto com outras pessoas.
O vídeo reproduzido contém a voz de um homem que estava no local do crime e que deu depoimento à PF. A testemunha não forneceu elementos que sustentassem a informação da participação de terceiros.
Para a PF, a expressão "calma, Adélio" que o narrador diz ser possível escutar, na verdade, era "calma, velho" e foi possivelmente dirigida a outra pessoa no local. Os investigadores consideram frágil a tese de que seriam alertas para o esfaqueador.
O homem ouvido pelos investigadores integrou a equipe de apoiadores que fazia a segurança do então presidenciável. O vídeo divulgado por Bolsonaro também foi periciado, e a PF conseguiu desconstruir tecnicamente todas as suspeitas que pesavam sobre o material.
Agentes ligados ao caso na corporação tratam o conteúdo como mais uma das fake news e boatos sobre a facada desconstruídos pela apuração oficial, que é alvo de forte contestação de bolsonaristas após a saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça.
Desde o dia do atentado, a Polícia Federal colheu testemunhos de centenas de pessoas, analisou postagens de redes sociais e fez cruzamentos de dados. Nada até hoje apontou para o envolvimento de cúmplices.
Os detalhes do trabalho serão conhecidos com a divulgação do relatório parcial do inquérito, que é o segundo instaurado sobre o episódio e já acumula mais de 300 páginas.
Essa investigação apura especificamente se houve mentores, financiadores ou comparsas. Os advogados de Bolsonaro têm o direito de acessar o conteúdo produzido pela PF, incluindo as informações já levantadas sobre o vídeo deste sábado.
Um primeiro inquérito, finalizado no mês do atentado, mostrou que Adélio agiu por conta própria. Ele já recusou uma proposta de delação premiada, dizendo que, mesmo que quisesse, não teria ninguém para denunciar.
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