BRASÍLIA - A campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) comemorou o embate com Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em torno de corrupção no debate neste domingo (28) e quer repetir a fórmula em futuros confrontos.
Ainda que fosse evidente que o atual chefe do Executivo exploraria os escândalos das gestões petistas, Lula tergiversou ao ser confrontado. O episódio, de acordo com aliados de Bolsonaro, passou a impressão de que ele estaria fugindo da pergunta e aumentou a rejeição do eleitorado a ele.
O evento foi organizado por Folha de S.Paulo, UOL e TVs Bandeirantes e Cultura e durou quase três horas. Lula e Bolsonaro foram os últimos a confirmar presença no evento - após dias de incertezas nas campanhas.
No debate, Lula listou medidas anticorrupção, mas evitou reconhecer irregularidades. Bolsonaro havia perguntado ao ex-presidente, seu principal adversário na corrida eleitoral, se o petista queria voltar ao poder para continuar a corrupção na Petrobras.
O petista afirmou que "inverdades não valem a pena na televisão", assim como "citar números mentirosos" e listou medidas anticorrupção e de transparência do seu governo, entre elas a criação do Portal da Transparência e da Lei de Acesso à Informação.
Em seguida, Bolsonaro replicou citando a delação de Antonio Palocci, ex-ministro de Lula e Dilma Rousseff (PT), e disse que o governo do ex-presidente foi feito "à base de roubo". A própria campanha de Lula avaliou como negativa a resposta do petista, como mostrou a coluna da Mônica Bergamo.
Se o presidente lucrou ao confrontar Lula sobre corrupção, derrapou ao atacar as mulheres na figura da jornalista Vera Magalhães e, depois, com a candidata, Simone Tebet (MDB). Ele disse que elas são "uma vergonha".
A avaliação também foi compartilhada por integrantes da campanha. Além de ele ter sido machista, o que não contribui para angariar voto feminino, teve reação forte dos adversários.
O movimento fortaleceu a tese de uma ala do entorno de Bolsonaro, composta por ministros da ala política, de que ele não deveria mais comparecer a debates no primeiro turno. O da Band foi o primeiro. A leitura desta ala é a de que seria melhor se o chefe do Executivo participasse apenas de confrontos no segundo turno.
Em segundo lugar nas pesquisas de intenção de votos, Bolsonaro está 15 pontos atrás de Lula. Pesquisa do Datafolha mostra o petista com 47% ante 32% do presidente.
Ninguém arrisca dizer, por ora, se o presidente participará ou não de futuros debates. A experiência dos últimos dias, marcada por vai-e-vem sobre sua ida à Band demonstra a dificuldade de Bolsonaro de tomar decisão. Aliados dizem que cabe a ele bater o martelo.
Apesar de ruim o ataque às mulheres no palco, integrantes da campanha minimizaram os efeitos eleitorais do ataque. Eles dizem que a parcela das mulheres com quem precisa melhorar o desempenho, mais pobres, não assistiam ao debate e estão mais preocupadas com questões econômicas.
O entorno do presidente lamenta que ele tenha explorado pouco respostas que destacariam mais uma melhora na economia, como redução do desemprego.
A reação machista de Bolsonaro, contudo, será amplamente explorada por adversários, segundo aliados. E serviu ainda para reforçar uma posição de destaque da senadora Simone Tebet (MDB).
Para integrantes da campanha, o desempenho da emedebista foi o melhor no debate, assim como avaliaram eleitores indecisos ao Datafolha.
A avaliação é de que ela pode ser um fator de instabilidade nos próximos confrontos, por tender a explorar ataques contra mulheres, caso ele se decida por comparar a futuros debates.
Como esperado por aliados, Bolsonaro virou vidraça e foi alvo de todos os demais adversários. O chefe do Executivo conseguiu manter a calma na maior parte do tempo, mas se exaltou ao ser questionado por Vera Magalhães sobre a vacinação.
"Vera, não pude esperar outra coisa de você. Acho que você dorme pensando em mim, você tem alguma paixão por mim. Você não pode tomar partido num debate como esse. Fazer acusações mentirosas a meu respeito. Você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro", disse Bolsonaro a ela.
Tebet saiu em defesa da jornalista e também foi alvo de Bolsonaro. "A senhora é uma vergonha para o Senado. E não estou atacando mulheres, não. Não vem com essa historinha de atacar mulheres, de se vitimizar".
Ciro Gomes (PDT) e Soraya Thronicke (União Brasill) exploraram a grosseria do presidente. "Quando vejo o que aconteceu com a Vera, eu realmente fico extremamente chateada. Quando homens são tchutchucas com outros homens, mas vêm para cima da gente sendo tigrão. Eu fico extremamente incomodada, fico brava", disse a candidata do União Brasil.
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