SÃO PAULO - Aos 73 anos, a cantora Rita Lee foi diagnosticada com um tumor no pulmão esquerdo após exames de rotina. No Brasil, o câncer de pulmão é o segundo mais comum em homens e mulheres, sem contar o câncer de pele não melanoma e os específicos de cada sexo, e está relacionado ao consumo de tabaco em 85% dos casos.
"Quando falamos de câncer de pulmão, estamos falando de um conjunto de tumores malignos, primários do pulmão, que afetam homens e mulheres, independente deles fumarem ou não", explica Igor Morbeck, oncologista e membro do comitê científico do Instituto Lado a Lado pela Vida (LAL).
É importante pontuar que o câncer não acontece exclusivamente em fumantes ou ex-fumantes. Todavia, o tabagismo é o maior dos fatores de risco da doença.
"Qualquer forma de tabaco inalado tem risco de causar câncer, seja charuto, cachimbo, cigarro, cigarro de palha. O que acontece é que, na folha de tabaco, há muitos derivados que são cancerígenos e que, ao serem queimados, causam lesão das células e propiciam o câncer", esclarece o pneumologista do Hospital Santa Catarina, Oliver Nascimento.
Há outros agentes que aumentam o risco de desenvolver a doença, como a exposição à agentes químicos ou físicos, por exemplo fumaças tóxicas, urânio e gás radônio. Fatores genéticos e histórico familiar de câncer de pulmão na família também influenciam os casos.
O câncer de pulmão que se manifesta nos fumantes é diferente daquele dos não fumantes. Segundo o oncologista e presidente do Instituto Oncoclínicas, Carlos Gil Ferreira, as alterações moleculares produzidas pelo tabaco fazem com que o tumor seja mais instável e agressivo, contando com mais mutações.
"Geralmente, o fumante que desenvolve câncer de pulmão também é um paciente mais idoso e que tem mais comorbidades, já que o tabaco leva a doenças cardiovasculares e outras alterações que, por si só, já aumentam as chances de óbito", complementa o médico.
Fumantes costumam ter tosse crônica e podem ter algum grau de falta de ar. Logo, a mudança do padrão ou a persistência dos sintomas respiratórios pode acender um alerta para o câncer.
Já em indivíduos não fumantes, o surgimento de sintomas respiratórios que não são característicos de outras doenças do sistema devem ser investigados. Tosse, falta de ar, emagrecimento, dores no peito e rouquidão são exemplos de sinais da doença.
Diagnóstico em fases iniciais possibilita melhor tratamento Assim como em todos os tipos de câncer, o diagnóstico precoce aumenta as chances de sucesso no tratamento do câncer de pulmão. No entanto, os tumores pulmonares geralmente só apresentam sintomas ou sinais em estágios mais avançados, o que dificulta a detecção prévia.
"A recomendação é que todos os fumantes ou ex-fumantes façam tomografias todo ano", informa o oncologista Igor Morbeck.
Em geral, tumores locais em estágio inicial conseguem ser retirados por cirurgia. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), apenas 16% dos tumores de pulmão são diagnosticados em estágio inicial, quando ainda são um câncer localizado.
O rastreamento de câncer de pulmão ainda não é uma prática regulamentada nos sistemas de saúde brasileiros, como é nos casos de câncer de mama com a mamografia. "Estudos recomendam a tomografia de tórax anual para todos os pacientes de risco, o que permite o diagnóstico precoce e um tratamento mais direto e menos complexo", defende Morbeck.
Quando a doença está mais avançada, passa a ser necessário combinar tratamentos como a quimioterapia, radioterapia ou imunoterapia.
"É importante conhecer o perfil molecular do tumor para determinar o melhor tratamento do paciente. Historicamente, pacientes com metástase eram tratados com quimioterapia. Hoje, principalmente em não fumantes, os pacientes são tratados de acordo com o tipo de mutação que o tumor tem", explica o oncologista Carlos Gil Ferreira.
- No Brasil, o câncer de pulmão é o segundo (2º) mais comum em homens e mulheres, sem contar o câncer de pele não melanoma e os específicos de cada sexo
- Em cerca de 85% dos casos, está associado ao consumo de derivados de tabaco
- A mortalidade por câncer de pulmão entre fumantes é cerca de 15 vezes maior do que entre pessoas que nunca fumaram, enquanto entre ex-fumantes é cerca de quatro vezes maior
- Tabagismo
- Exposição ao tabagismo, ou seja, pessoas próximas a fumantes
- Exposição a agentes químicos ou físicos, como urânio, gás radônio, cromo
- Fatores genéticos e histórico familiar de câncer de pulmão
- Câncer de pulmão de não pequenas células: tumores que correspondem a cerca de 85% dos casos e podem ser encontrados em fumantes e não fumantes.
- Câncer de pulmão de pequenas células: tumores agressivos e de rápida disseminação, que correspondem a cerca de 15% dos casos. Praticamente todos os casos estão relacionados ao tabagismo.
- Tosse persistente ou com sangue
- Dor no peito
- Rouquidão
- Piora da falta de ar
- Emagrecimento e perda de apetite
- Cansaço e fraqueza
- Em fumantes, o ritmo habitual da tosse é alterado e aparecem crises em horários incomuns
Atenção: a maior parte dos cânceres de pulmão não apresenta sintomas até estar em estágios mais avançados
- Cirurgia: retirada do tumor, possível em condições mais iniciais da doença
- Quimioterapia: tratamento que destrói as células cancerígenas, reduz o crescimento do tumor e ameniza os sintomas
- Radioterapia: utilização de radiação para destruir as células cancerígenas
- Terapia-alvo: usada em pacientes cujo tumor tenha determinadas características moleculares (genéticas)
Fontes: Carlos Gil Ferreira, oncologista e presidente do Instituto Oncoclínicas; Igor Morbeck, oncologista e membro do comitê científico do Instituto Lado a Lado pela Vida (LAL); Oliver Nascimento, pneumologista do Hospital Santa Catarina; Instituto Nacional de Câncer (Inca)
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