Acusados de integrar a máquina do governo federal de espalhar fake news e fazer discurso do ódio contra adversários do presidente Bolsonaro, candidatos na eleição municipal dizem que a exposição causa contratempos, mas também ajuda na campanha.
Ao menos quatro alvos de ações contra desinformação tentam a sorte nas urnas. Dois disputam mandatos de vereador, e dois, de prefeito. Todos pertencem ao PRTB, partido do vice Hamilton Mourão, que tem se notabilizado por abrigar ativistas de direita.
Em São Bernardo do Campo (SP), Paulo Eduardo Lopes, conhecido como Paulo Chuchu, busca vaga na Câmara Municipal. Ele era assessor parlamentar do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) até o início da campanha, embora continue se apresentando assim em vídeos nas redes.
Em julho, Chuchu foi apontado pelo Facebook como parte de uma rede de desinformação bolsonarista. Um site registrado por ele, o Brazilian Post, teve suas páginas removidas pela rede social e pelo Instagram. Nelas, o assessor atacava rivais do presidente e a imprensa.
Em sua campanha, Chuchu usa a proximidade com Jair e Eduardo Bolsonaro como principal trunfo. "A gente vem aqui pedir para que você também confie no Paulo Chuchu, que é policial civil, é meu assessor e candidato a vereador em São Bernardo do Campo", diz o filho do presidente num vídeo ao lado do candidato.
Chuchu não respondeu ao pedido de entrevista. Em suas redes, defende valores conservadores. Um vídeo mostra um entregador chegando com uma encomenda em sua casa: um fuzil. "Obrigado pela confiança, Eduardo Bolsonaro e Jair Messias Bolsonaro", diz ele ao pedir voto.
Embora Chuchu seja crítico de João Doria (PSDB), seu partido está na mesma coligação do atual prefeito da cidade, Orlando Morando (PSDB), aliado do governador.
Em Sinop (MT), uma das capitais brasileiras do agronegócio, o ativista Marcelo Stachin concorre a prefeito. Ele se notabilizou ao acampar em Brasília em defesa de Bolsonaro e por vídeos que publicou atacando o Supremo. Em maio, foi alvo de busca e apreensão no inquérito das fake news no STF. Depois, teve perfis em redes sociais suspensos pelo ministro Alexandre de Moraes.
"É uma mordaça que foi colocada na boca de algumas pessoas, inclusive a minha, e que amanhã pode estar na boca de outras, inclusive na sua [repórter da Folha]", afirma.
Stachin diz que foi alvo apenas por expressar valores conservadores. Afirma que a "censura" a suas redes atrapalha na divulgação de suas propostas. "Não uso fundo eleitoral, não tenho tempo de TV e rádio. Só tenho redes sociais. Por mais que eu tenha propostas boas, as pessoas precisam saber", afirma.
Em compensação, diz, o fato de ter sido alvo do STF aumentou seu cacife entre parte do eleitorado. "Dizem que isso mostra que sou uma nova opção, que não sou político."
Em seu programa de governo, ele tem propostas conservadoras, como a criação de escolas cívico-militares, e também faz acenos mais ao centro. Diz que cultura é um "vetor de inclusão social" e promete uma gestão sustentável.
Outros dois alvos do inquérito do STF concorrem no estado de São Paulo. Na capital, Edson Salomão disputa um mandato de vereador.
Chefe de gabinete do deputado estadual Douglas Garcia (PTB) e presidente do Movimento Conservador, ele sofreu mandados de busca e apreensão duas vezes: em dezembro de 2019 e em maio.
Foram apreendidos um laptop, cinco pen drives, dois celulares e dois HDs. Suas contas no Twitter e Facebook foram tiradas do ar. "Tirando todo o desgaste emocional, porque você é exposto, envolve a família, acabou gerando até uma exposição positiva", declara.
No Twitter, relata Salomão, ele tinha 7.000 seguidores antes da primeira ação da PF. "Depois, foi para mais de 90 mil", diz. Ao ter sua conta desativada, criou outra, já com mais de 54 mil seguidores.
Há algumas semanas, afirma o candidato, ele recebeu a notícia de que seu nome foi retirado do inquérito e que os equipamentos apreendidos foram liberados, embora ele ainda não os tenha ido buscar. As contas permanecem suspensas, no entanto.
"Ele [Moraes] determinou a quebra de meus sigilos bancário e telefônico, e não encontraram nada", declara.
Segundo Salomão, sua campanha prioriza propostas para a cidade, que incluem dar espaço para as famílias na educação dos filhos. A repercussão que o caso adquiriu, diz o candidato, não é algo que ele ache ruim. "Não estou usando esse assunto como arma de campanha. Mas sempre tem o pessoal que comenta."
Também vinculado ao gabinete de Garcia e alvo do inquérito do STF, Rodrigo Ribeiro disputa a Prefeitura de Araraquara (SP). "Esse inquérito não tem nenhum fundamento. A Constituição permite a liberdade da expressão", diz.
Segundo Ribeiro, grande parte da cidade se solidarizou com ele. "Sabem que houve injustiça. Sempre tive cuidado de não difundir ataques", diz.
Da mesma forma que os outros alvos, Ribeiro sofreu busca e apreensão e teve perfis tirados do ar. E ele aposta na "maioria conservadora" local para crescer na campanha.
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