O Ministério da Saúde informou nesta quarta-feira (11) que monitora 28 casos suspeitos de uma misteriosa hepatite que afeta especialmente as crianças. Além das duas investigações no Espírito Santo já divulgadas anteriormente em A Gazeta, casos estão sob análise nos Estados de São Paulo (8), Rio de Janeiro (7), Minas Gerais (4), Paraná (3), Pernambuco (2) e Santa Catarina (2).
"Os casos seguem em investigação. Os Centros de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde e a Rede Nacional de Vigilância Hospitalar monitoram qualquer alteração do perfil epidemiológico, bem como casos suspeitos da doença", informou o Ministério da Saúde. A pasta ainda disse que profissionais de saúde devem notificar as suspeitas imediatamente.
A ocorrência em crianças saudáveis é considerada incomum pelas agências de saúde e especialistas. Isso porque nenhum dos vírus causadores da doença foi detectado nos pacientes.
A hepatite é uma inflamação do fígado que pode ser causada por infecções virais e até o consumo excessivo de álcool, assim como alguns medicamentos e substâncias tóxicas. Existem cinco vírus conhecidos que causam a hepatite: A, B, C, D e E. Além destes cinco, há a hepatite autoimune, em que o próprio sistema imunológico do corpo ataca o fígado.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou na terça-feira (10) que foram registrados 348 casos prováveis de uma misteriosa hepatite. "Na última semana ocorreram alguns avanços importantes com as pesquisas adicionais e alguns refinamentos das hipóteses de trabalho", disse, em entrevista coletiva, Philippa Easterbrook, do programa mundial da OMS sobre a hepatite. "Atualmente, as principais hipóteses são as que envolvem o adenovírus, e também continua sendo importante o papel da Covid", declarou.
A OMS foi notificada pela primeira vez em 5 de abril sobre 10 casos na Escócia em crianças com menos de 10 anos.
Depois do aparecimento dos primeiros casos nos Estados Unidos, as autoridades de saúde do país chegaram a relacionar a doença misteriosa ao adenovírus 41, um tipo de vírus comum de resfriados, que provoca problemas respiratórios, conjuntivite ou problemas digestivos em crianças. A maioria das pessoas é infectada antes dos cinco anos de idade.
No entanto, essa hipótese foi descartada logo que as investigações demonstraram que nem todas as crianças doentes tinham sido infectadas pelo vírus. Segundo a OMS, de 169 casos incluídos em um relatório recente, pelo menos 74 tiveram infecção por adenovírus, sendo apenas 18 pelo adenovírus 41.
Outra suspeita que foi descartada, pelo menos como causa principal da hepatite, é a Covid-19. O mesmo relatório da OMS apontou que apenas 20 dos 169 pacientes identificados testaram positivo para coronavírus. Nem mesmo a vacina contra a Covid pode ser considerada, uma vez que a maior parte das crianças não chegou a receber o imunizante.
Na verdade, a falta de informações é o principal obstáculo para a identificação do causador da doença. Segundo João Prats, infectologista da Beneficência Portuguesa de São Paulo, qualquer fator pode desencadear uma nova doença.
"A síndrome de Reye, por exemplo, acontece depois de uma gripe ou catapora e provoca hepatite e encefalite. Mas ela só ocorre quando o paciente toma aspirina. Não é a influenza nem a varicela, mas é a influenza ou a varicela mais a aspirina que provoca a síndrome. Às vezes é uma soma de fatores, por isso que dificulta um pouco o entendimento", explica Prats.
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