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CCJ da Câmara aprova PEC que proíbe aborto no Brasil

CCJ da Câmara aprova PEC que proíbe aborto no Brasil

Sessão teve de ser interrompida após um grupo de mulheres entrarem no plenário para protestar contra a proposta

Publicado em 27 de novembro de 2024 às 16:14

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BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (27) uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que pretende proibir o aborto no país, sob protesto de parlamentares da esquerda.

Foram 35 votos favoráveis e 15 contrários. O governo orientou contra. A sessão do colegiado teve de ser interrompida por cerca de 50 minutos após um grupo de mulheres entrarem no plenário em que ocorria a reunião para protestar contra a PEC.

Aos gritos de "retira a PEC", "e se fosse a sua filha?", "criança não é mãe, estuprador não é pai" e "essa PEC só defende estuprador", o grupo de mulheres entrou no auditório da CCJ, interrompendo a sessão. Com isso, a presidente do colegiado, Caroline de Toni (PL-SC), interrompeu a sessão e solicitou que ela ocorresse em outro auditório -sem a presença de manifestantes.

Houve princípio de tumulto e bate-boca entre deputados da direita e da esquerda.

Sessão da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados em que foi aprovada uma PEC que pretende proibir o aborto no país
Sessão da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados em que foi aprovada uma PEC que pretende proibir o aborto no país. (Câmara dos Deputados/ Divulgação)

Apresentada em 2012, a PEC é de autoria de Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara. O texto propõe uma mudança no artigo 5° da Constituição, que trata dos direitos fundamentais dos cidadãos, incluindo a inviolabilidade do direito à vida "desde a concepção".

Hoje, o aborto no Brasil é autorizado em três casos: gravidez decorrente de estupro, risco à vida da mulher e anencefalia do feto. Com o texto da PEC, a proibição também avançaria nesses casos.

Com a aprovação na CCJ, caberá ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), criar uma comissão especial para debater o mérito da proposta. A comissão pode ter até 40 sessões (podendo encerrar antes) e, caso aprovada nesse colegiado, segue ao plenário da Casa para ser apreciada em dois turnos.

A pauta do aborto é um dos temas que opõe a esquerda e a direita na Câmara. Em junho, deputados aprovaram o regime de urgência para o PL Antiaborto por Estupro, que equipara as penas para abortos realizados após 22 semanas de gestação às penas previstas para homicídio simples.

Após repercussão negativa e forte pressão da sociedade, Lira afirmou que criaria uma "comissão representativa" para debater o tema, algo que ainda não saiu do papel.

Esse projeto foi resgatado por parlamentares da esquerda ao longo da sessão desta quarta para criticar a PEC que estava em votação. A deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP) afirmou que a proposta é uma "atrocidade" e "carregada de retrocessos".

"Essa PEC é muito pior. O projeto era específico para não permitir o direito do aborto em gestações acima de 22 semanas, o que impactaria, sobretudo, meninas. Essa PEC também atinge esses casos, mas vai além, porque não impõe limite gestacional", disse Sâmia.

Um dos vice-líderes do governo na Câmara, Bacelar (PV-BA) afirmou que a proposta é inconstitucional e, portanto, não deveria avançar na Casa.

Já parlamentares da direita defenderam a aprovação do texto, afirmando se tratar da "PEC da Vida". A deputada Julia Zanatta (PL-SC) afirmou que o colegiado tem uma "grande oportunidade de fazer justiça" com a votação da proposta. "A ciência é inequívoca, não é uma questão política. E a vida humana, segundo a ciência, começa na concepção", disse.

Os deputados Mauricio Marcon (Podemos-RS), Gilson Marques (Novo-SC) e Coronel Fernanda (PL-MT) exibiram um boneco imitando um feto durante a sessão, para defender a aprovação da proposta.

Na avaliação de líderes ouvidos pela reportagem, a PEC aprovada na CCJ não deverá avançar na Casa. Eles dizem que Lira afirmou publicamente, quando foi discutido o PL Antiaborto por Estupro, que não haveria retrocessos na legislação atual.

Nove organizações divulgaram um manifesto criticando a aprovação da PEC. As entidades dizem que a proposta obriga mulheres e crianças a manter gestações que representam risco de perda da vida, viola o direito do planejamento familiar, pode impedir o acesso das mulheres a diagnósticos de pré-natal (porque as técnicas para realizá-las podem ser consideradas invasivas contra o embrião) e pode impedir o acesso às técnicas de reprodução assistida, como fertilização in vitro e pesquisas com células tronco.

"A aprovação deste projeto representaria um verdadeiro retrocesso no campo da ciência. Ao se conferir ao óvulo fecundado ou ao embrião o direito absoluto à vida desde a concepção, como pretende a PEC, abre-se a possibilidade de proibição futura de técnicas de reprodução assistida e pesquisas em células embrionárias para fins terapêuticos", diz o manifesto.

Assinam o documento organizações como Criança Não É Mãe, Rede Nacional Feminista de Saúde, Redeh (Rede de Desenvolvimento Humano) e Cladem (Comitê Latino-americano e do Caribe pelos Direitos da Mulher).

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