O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) discute com aliados um novo pacote de mudanças em ministérios para atender a cobranças feitas por líderes do centrão no Congresso.
Esses parlamentares pressionam por uma distribuição de cargos e pela saída do chefe da Casa Civil, o general da reserva Luiz Eduardo Ramos.
Os partidos que dão sustentação a Bolsonaro atribuem ao ministro dificuldades no atendimento de demandas políticas, em nomeações de interesse dos parlamentares e no andamento de ações do governo em suas bases eleitorais.
Uma mudança na Casa Civil, segundo esses líderes, seria a peça central de uma minirreforma ministerial. Estão em análise também trocas no Meio Ambiente e no Turismo.
Os caciques do centrão avaliam que o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, acumulou desgastes ao longo de sua gestão e ficou ainda mais fragilizado com a operação da Polícia Federal que investiga a atuação de agentes públicos para favorecer madeireiras.
Já a pasta do Turismo é alvo de cobiça política graças à capacidade de realizar ações nos estados e municípios onde os parlamentares têm interesses eleitorais. O atual titular, Gilson Machado, foi uma escolha pessoal de Bolsonaro.
A pressão pelas trocas –em especial a da Casa Civil– parte de aliados do presidente na Câmara e no Senado, mas principalmente neste último, onde cobram mais influência na composição de um governo que não tem nenhum senador entre seus ministros. Já a Câmara tem cinco titulares na Esplanada dos Ministérios.
Articuladores políticos do governo dizem que Bolsonaro deve decidir nos próximos 30 dias se fará essas alterações e se incluirá a Casa Civil na minirreforma. Ponderam que o presidente pode resistir a trocar Ramos, uma vez que os dois têm uma relação próxima.
Os parlamentares do centrão levaram ao presidente queixas sobre o trânsito político do general na Câmara e no Senado. Reclamam também da lentidão de ações do governo sob supervisão do ministro.
A Casa Civil costuma ser uma das pastas mais influentes no desenho da Esplanada. O ministro que ocupa o posto é tradicionalmente o principal conselheiro do presidente, um interlocutor de peso com o Congresso e uma espécie de gerente dos programas implementados pelo governo federal.
Nos planos do centrão, Ramos poderia ser trocado por um político ou um nome avalizado pelos parlamentares. A ideia é que, assim, esse grupo de partidos tenha participação direta nas decisões tomadas no Palácio do Planalto.
Um dos argumentos dos políticos é que a mudança ajudaria a azeitar a máquina do governo para a disputa eleitoral de 2022. Além de acelerar obras e investimentos nos redutos dos parlamentares, a troca teria o objetivo de ampliar a divulgação dessas ações e implantar uma gestão "com foco em resultados", nas palavras de um senador governista.
Para alguns parlamentares alinhados ao Planalto, a falta de habilidade política de Bolsonaro e seus principais auxiliares desgasta o governo e cria dificuldades para a corrida presidencial do ano que vem. Esse enfraquecimento tende a se refletir também nas campanhas dos deputados e senadores que escolheram se aliar ao presidente.
A discussao sobre a troca na Casa Civil é a mais delicada do pacote. Além da proximidade entre Bolsonaro e Ramos, os líderes argumentam que a pasta já passou por muitas mudanças. O general é o terceiro titular do posto –foi antecedido por Onyx Lorenzoni (hoje ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência) e por Walter Braga Netto (atual ministro da Defesa).
Mesmo assim, parlamentares insistem na substituição por considerar que, em nenhum dos três casos, Bolsonaro acertou na escolha.
Segundo aliados do presidente no Congresso, Ramos se tornou "uma unanimidade" entre os líderes por não ser eficiente ao resolver as demandas dos parlamentares. Os congressistas alegam que, por não terem os pedidos atendidos, têm dificuldade de fazer articulações com suas bancadas para aprovar projetos de interesse do Planalto.
Com relação à troca de Salles, alvo de investigações da PF por suposta facilitação de contrabando de madeira, parlamentares dizem que Bolsonaro já deu sinais de que o substituiria.
O problema, lembram os aliados do governo, é que o presidente é imprevisível e já indicou outras vezes que trocaria o ministro e concretizou a mudança.
A saída de Salles é considerada relevante por possibilitar um sinal a investidores estrangeiros de que o Brasil está disposto a adotar uma nova postura na área ambiental, o que contribuiria para ampliar a entrada de recursos no país.
Bolsonaro, no entanto, já fez elogios públicos ao ministro em ocasiões recentes. Seriam, segundo os políticos, sinais de que ele guarda prestígio dentro do palácio.
"O ministro Ricardo Salles é um excepcional ministro, mas ele tem dificuldades junto a setores aparelhados do Ministério Público. Os xiitas ambientais. E as dificuldades são enormes. Não é apenas a Tereza Cristina [ministra da Agricultura] a responsável por ajudar o campo a produzir mais. É o Ricardo Salles também. É o governo federal também", disse Bolsonaro em maio.
A declaração foi dada um dia depois de Salles ter sido alvo de operação de busca e apreensão da PF na Operação Akuanduba.
Já Gilson Machado foi nomeado ministro do Turismo em dezembro de 2020, depois de chefiar a Embratur (Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo).
Amigo do presidente, ele costumava frequentar o Planalto e protagonizou lives ao lado de Bolsonaro nas redes sociais –inclusive a da última quinta-feira (10).
A ministra Flávia Arruda (Secretaria de Governo) foi citada como uma opção para substituir Machado, mas a hipótese ainda é tratada como remota entre os governistas.
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