O chefe da Secretaria de Comunicação (Secom) de Jair Bolsonaro, Fabio Wanjgarten, afirmou que não houve pedido para que ele encerrasse contratos de sua companhia com empresas que prestam serviços ao governo ao assumir o cargo público, e que o faria caso tivesse sido demandado.
A declaração foi dada em entrevista à revista Veja. "Se isso tivesse sido pedido, eu teria feito", afirmou.
O jornal Folha de São Paulo revelou que Wajngarten é sócio, com 95% das cotas, da FW Comunicação, que faz pesquisas de mídia e recebe dinheiro de TVs (como Record e Band) e agências contratadas pela própria Secom, ministérios e estatais do governo Jair Bolsonaro.
"Tudo foi comunicado quando da nomeação aos órgãos de controle da Presidência da República. Não há conflito de interesses", disse.
O secretário, no entanto, omitiu da Comissão de Ética Pública a informação de que a companhia recebe, por meio de uma empresa da qual é sócio, dinheiro de emissoras de TV e de agências de publicidade contratadas pela própria secretaria, ministérios e estatais.
"Se surgirem novas demandas do presidente da República, elas serão cumpridas imediatamente", disse. O secretário negou novamente haver conflito de interesses. "Os contratos dos dois lados foram assinados muito antes da minha chegada. Nenhum desses contratos teve reajuste de preços ou majoração de valor. Esse é o coração de quão mentirosa é a acusação", disse.
Wajngarten negou que tenha cometido irregularidade em não declarar que, nos 12 meses anteriores, ele ou parentes seus exercem atividades em áreas relacionadas às suas atribuições na secretaria, situação que suscitaria conflito de interesses.
"Não houve nem omissão nem mentira como disseram. Minha empresa não tem negócios com o governo. Essa confusão toda decorre de junção de interesses comerciais e políticos", disse.
À Veja, o secretário afirmou que considera que as revelações surgiram porque ele é inovador e ameaça o status quo. "Não tenho provas, mas desconfio que a origem de tudo vem daí", disse. "Agora que a Polícia Federal vai investigar o caso, os fatos serão devidamente esclarecidos."
Ele manteve a condição de sócio majoritário da empresa e os contratos vigentes mesmo após assumir o cargo, em abril do ano passado. A mãe, Clara, tem os outros 5% de participação.
A Secom é a responsável pela distribuição da verba de propaganda do Planalto e também por ditar as regras para as contas dos demais órgãos federais. No ano passado, gastou R$ 197 milhões em campanhas.
A lei de conflito de interesses (12.813/2013) obriga os integrantes do alto escalão do governo a detalharem dados patrimoniais e societários, assim como suas empreitadas empresariais e profissionais e a de seus familiares até o terceiro grau.
É vedado aos agentes públicos manter negócios com pessoas físicas ou jurídicas que possam ser afetadas por suas decisões. Quem pratica tais atos está sujeito à demissão e a responder processo por improbidade administrativa.
O presidente Jair Bolsonaro saiu em defesa de seu secretário. Em 16 de janeiro, por exemplo, ele afirmou a jornalistas que Wajngarten permanece no cargo. "Se foi ilegal, a gente vê lá na frente. Mas, pelo que vi até agora, está tudo legal, vai continuar. Excelente profissional. Se fosse um porcaria, igual alguns que tem por aí, ninguém estaria criticando ele", disse.
No final de janeiro, o Ministério Público Federal em Brasília pediu à Polícia Federal a abertura de inquérito criminal para investigar o caso revelado pela Folha de Saõ Paulo. Wajngarten, que não tem foro especial no Supremo Tribunal Federal, também é alvo de processo administrativo no Tribunal de Contas da União (TCU).
Na entrevista, o secretário também defendeu a publicação que a Secom fez atacando a cineasta Petra Costa, diretora de "Democracia em Vertigem", documentário indicado ao Oscar.
"O problema, na verdade, é uma cineasta declarar fora do Brasil um monte de mentiras. É papel da comunicação do governo proteger e promover o Brasil", disse ele, que afirma na entrevista que não assistiu ao documentário.
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